terça-feira, 23 de abril de 2013

A fé como mercadoria, Deus como mercador de Graças


Tomei contato recentemente com uma pessoa interessante... esta pessoa tentava me mostrar que "a fé deve tomar outros rumos", associando este a outro argumento que dizia que as "religiões tradicionais - notadamente a Igreja Católica de Roma - andam perdendo adeptos porque são sem graça e vão acabar extintas". Em contraposição a esta visão profética, ele tentava demonstrar "empiricamente" o sucesso de outras denominações religiosas que construíam enormes templos, com capacidade de alojar até cinco mil pessoas e que conseguiam comprar redes de televisão, rádio e jornal; que seus sacerdotes viviam bem, com apartamentos e carros caros...

Mas esta é a real medida de sucesso na atividade apostólica?! O volume das contas bancárias, a suntuosidade dos templos, a quantidade de almas desamparadas e desesperadas arrebanhadas a depositar suas esperanças no volume de dinheiro que jogam nas bolsas dos dizimistas, querendo comprar alento aos seus problemas?!

O Evangelho está repleto de trechos que contradizem estes comportamentos, tanto por parte dos "sacerdotes" que mercantilizam as Graças de Deus quanto por parte de fiéis que, mesmo em desespero, despejam - não raramente - fortunas nos cofres destas agremiações religiosas querendo comprar uma consciência tranquila.

Um dos trechos mais contundentes a contradizer estas práticas por parte destes ditos líderes está em Mateus (6, 19:21; 24) "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também vosso coração (...) Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamon".

A pergunta que segue, portanto, é evidente e provocativa: A quem servem estes mercadores da fé? A quem eles mais se dedicam, a Deus - acalentando o sofrimento dos mais necessitados, matando-lhes a fome, o frio, a sede e vestindo-os... em todos os sentidos - ou ao dinheiro arrecadado no dízimo para financiar roupas, casas e carros cada vez mais caros?!

O próprio Cristo, mais adiante (Mateus 19: 16-21) aconselhou aos que querem segui-lo: "E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E Ele disse-lhe: Por que me chamas de bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: tudo isso tenho guardado desde minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe então Jesus: Se queres me seguir, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu".

Por outro lado Lucas relata o encontro do Cristo com Zaqueu, que arrependido de suas práticas usurpadoras como coletor de impostos, após receber Jesus em sua casa e de ter comido com ele, afirma: "Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, os restituo quadruplicado". E o que Jesus responde a Zaqueu? Diz ele: "Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido(Lucas 19: 8-9).

E o que Jesus diz aos que mercantilizam as Graças de Deus, então? Isto está bem explícito mais adiante, quando, entrando no Templo, vê várias pessoas comprando e vendendo animais para sacrifício, bênçãos e orações. Diz ele com toda sua energia: "Está escrito: A Minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores". (Lucas 19: 46). Foi sobre este argumento, inclusive, que em 1517 o Padre alemão Martinho Lutero escreveu suas 95 teses, uma das quais denunciando - diretamente - a venda de indulgências por parte de líderes religiosos que enriqueciam às custas do sentimento de culpa das pessoas e financiavam a construção de templos suntuosos, mesmo havendo tanta miséria humana naquela época, com pessoas padecendo de fome, doenças e frio.

Fica evidente, assim, que a mercantilização da fé e a "compra" do perdão pelos pecados é um engano tanto da parte de quem vende quanto por parte de quem compra, constituindo uma fraude, uma adulteração grosseira aos ensinamentos do Cristo, que avisa enfaticamente: "Não pode a árvore boa dar maus frutos. Toda árvore que não dá bons fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conheceis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade" (Mateus 7: 18-23)

Procuremos, pois, sermos generosos com quem verdadeiramente precisa de nossos óbulos, não para que fiquemos conhecidos, mas para atender os ensinamentos que estão no Evangelho de Nosso Senhor; Deus não é mercador de graças e não nos atenderá por financiarmos os luxos daqueles que, amantes do luxo e do poder, usam e distorcem as Escrituras para ficarem cada vez mais ricos enquanto a fome, a sede e o frio moram na calçada de suas casas.

Fiquemos todos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

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