domingo, 23 de junho de 2013

Santos Mártires Alexandre e Antonina de Alexandria

Santos Mártires Alexandre e Antonina de Alexandria
10 de junho -- Calendário Juliano

Antonina era uma jovem moça da cidade de Krodamos, na Ásia Menor, e foi presa no início do século IV por ser cristã. Levada diante do governador Festus, foi chantageada para renegar o cristianismo, mas a jovem permaneceu fiel ao seu amor ao Cristo e pediu ao governador para que renunciasse, ele, ao paganismo. Festus ordenou então que Antonina fosse trancafiada. A mártir passava todo o tempo em oração, sem comer ou beber nada.

Perecendo no cárcere, foi, porém, agraciada com a Voz do Senhor, que lhe avisou para que se fortalecesse e tivesse coragem. Quando levada mais uma vez diante de Festus, a santa virgem permaneceu confessando a Fé e renunciando o paganismo estatal romano. O governador decidiu entregar a virgem para que fosse desonrada por soldados, mas o Senhor inspirou um deles, Alexandre, para salvá-la.

Santo Alexandre vestiu Antonina com suas roupas de militar. Ninguém pôde reconhecê-la vestida de soldado, e desse modo ela escapou da prisão. Quando os soldados enviados por Festus chegaram à cela, encontraram Alexandre sozinho. O santo foi cruelmente torturado, mas não pronunciou uma palavra ao governador. No entanto, inspirada também por Deus, Antonina se apresentou a Festus. Ambos tiveram suas mãos cortadas e foram atirados em um buraco com piche, no qual foram queimados vivos. O governador Festus morreu sete dias depois deste acontecimento, incapaz de comer ou de beber. Os santos Alexandre e Antonina passaram pelo martírio em 313 e suas relíquias foram transferidas para Constantinopla e estabelecidas no mosteiro de Maximov.

 Fonte: Eparquia Ortodoxa do Brasil da Igreja Autocéfala da Polônia

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Os Efeitos Nefastos da Intolerância e do Puritanismo Ideológico Para a Unidade da Igreja

Ícone de Pentecostes


Recentemente tenho observado alguns eventos entre grupos religiosos que se afirmam cristãos que vem me preocupando... os sentimentos de segregação, apartação e repulsa vêm se traduzindo em uma tendência gigantesca e grotesca de intolerância.

Uma coisa deve ser historicamente entendida: antes de Constantino os cristãos eram perseguidos pelas religiões tradicionais que existiam em Roma, notadamente a fé pagã estatal; com Constantino o cristianismo foi declarado legítimo e as perseguições sessaram. As igrejas prosperaram em todo o império, no oriente e ocidente.

Com Teodósio I, o Espanhol,  o cristianismo passou de intolerado a intolerante, perseguindo todas as demais religiões pagãs, declarando-as ilegais e perseguindo seus sacerdotes e fechando seus templos. Sua política de implantação do cristianismo como fé única do império criou a primeira onda de intolerância religiosa promovida a partir do cristianismo institucionalizado da História.

Imperador Teodósio I, o Espanhol

Com o passar do tempo, este sentimento apenas aprofundou em alguns setores da Igreja. As investidas "puritanistas" passaram a criar e interpretar muitos dogmas que afastaram aos poucos estes setores da própria Luz do Evangelho, desvinculando estes segmentos dos ensinamentos de tolerância e amor ao próximo tão enfatizados pelo próprio Cristo em suas parábolas e seus sermões.

Tal medida criou sérios problemas ao longo dos séculos para a unidade do cristianismo proclamado no primeiro Consílio de Nicéia e confirmado no Consílio de Constantinopla. Nele, todos os cristãos declaram crer em uma Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica de Jesus Cristo.

O primeiro problema institucional foi criado já no Consílio da Calcedônia, onde a Igreja de Alexandria se separou da Pentarquia original da Igreja, iniciando assim o processo que culminaria no grande sisma de 1054, quando a Igreja de Roma abandonou o Consílio Ecumênico e formou assim uma fenda dentro da Igreja que já dura quase um milênio.

A luta do purismo fideísta contra qualquer opinião ou prática que se afastasse de seus ditames e seus dogmas talvez tenha conseguido seu capítulo mais vergonhoso durante os anos da Inquisição, onde "hereges" foram denunciados aos milhares e membros de outros credos foram obrigados a se confessarem cristãos para, em seguida, serem julgados como "cristãos hereges". Foi a institucionalização e a canonização da intolerância.

Bandeira institucional do Tribunal do Santo Ofício, conhecido como a Santa Inqusição

 Alguns séculos depois foi o movimento protestante que criou, no ocidente, mais um sisma dentro da fé cristã. Mais uma vez foram os dogmas e os interesses institucionais que se sobrepujaram ao Evangelho... uma vez mais interesses mundanos demoliram a unidade; uma vez mais a intolerância voltou a figurar nos discursos, nos sermões e nas homilias dentro dos templos... homens que afirmavam espalhar o amor de Cristo pela Terra gritavam o ódio contra outras pessoas que liam a mesma mensagem de tolerância, sem ser no entanto entendida, muito menos praticada.

A partir de então cada segmento desta Igreja que deveria ser Una se afirma o segmento mais puro e condena os demais segmentos; a partir de então o estudo da Bíblia se tornou cada vez mais superficial e o valor dado aos ensinamentos do Cristo cada vez menor; substituíram o entendimento pela soberba e o amor ao próximo pelo orgulho... a simplicidade foi substituída pelo brilho do ouro, dos carros importados e pelo brocado luxuoso; as obras caritativas foram suplantadas por uma prática de fé cega, surda e barulhenta e o olhar para o outro ganhou tons mais de julgamento, de "caça às bruxas" do que um ato de reconhecimento a outra criatura de Deus.

O ecumenismo por tantos desejado, assim, é mais um discurso de polidez mundana pouco comprometido com atitudes reais e sólidas em favor da reunião, da religação, da religião cristão universal... da religião realmente católica conforme sua gênese. O ecumenismo, assim, somente será possível quando calarem a soberba, o nobiliarquismo, o orgulho, a ignorância, o discurso vazio, a falsa modéstia, a pseudo-humildade... e o puritanismo intolerante que cria grupos, tribos, clãs, fronteiras, barreiras, muros e encastelamentos entre pessoas que afirmam seguir para o mesmo destino segundo as mesmas leis que, infelizmente - por muitos - já foram esquecidas há um longo tempo.

Fiquemos com a paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Santo e Venerável Isaac, fundador do Mosteiro Dalmaciano em Constantinopla

Isaac viveu durante o quarto século e recebeu tonsura monástica no deserto, onde levou adiante seus esforços ascéticos. Durante o reinado do Imperador Valente [346-378], um zeloso adepto da heresia ariana, ocorreu uma perseguição à Ortodoxia, com destruição e fechamento de igrejas. Ouvindo sobre a perseguição, Santo Isaac deixou o deserto e foi para Tsar'Grad consolar e encorajar os fiéis.

Neste mesmo período, bárbaros godos lutavam contra as forças imperiais ao longo do Rio Danúbio, saqueando a Trácia e avançando rumo a Constantinopla. Quando Valente deixava a capital junto a seus soldados, Santo Isaac exclamou, ''Imperador, liberte as Igrejas Ortodoxas e então o Senhor te ajudará!''. Mas o Imperador, desdenhando das palavras do asceta, continuou confiantemente no seu caminho. O santo repetiu sua profecia por três vezes, e Valente, irado, ordenou que ele fosse atirado em um desfiladeiro fundo, repleto de espinhos e de lama, do qual seria impossível escapar.

Santo Isaac permaneceu vivo por socorro divino. Saindo do abismo e alcançando o Imperador, lhe disse: ''Você desejavam me destruir, mas três anjos me retiraram do lamaçal. Ouça-me, reabra as Igrejas dos fiéis ortodoxos e você derrotará o inimigo. Se, no entanto, não me der atenção, então você não retornará da batalha; pelo contrário, você será capturado e queimado vivo.'' O Imperador ficou atônito pela severidade do santo e ordenou que fosse detido e preso até que ele retornasse.


Santo e Venerável Isaac
Dia: 30 de maio


A profecia de Santo Isaac logo se realizou. Os godos derrotaram o exército grego. O Imperador e seus generais arianos buscaram refúgio em um celeiro repleto de palha que foi incendiado pelos bárbaros. Após as notícias confirmando a morte do Imperador, Santo Isaac foi libertado e honrado como um profeta. Então o Santo Imperador Theodósio, o Grande [379-395], ascendeu ao trono. Ele tratou o asceta com grande repeito, obedecendo suas instruções. Desse modo, baniu os arianos de Constantinopla e restaurou as Igrejas aos fiéis ortodoxos. Santo Isaac queria retornar ao deserto, mas muitos lhe pediram para que continuasse na capital e a protegesse com suas orações. Um mosteiro foi construído para o santo em Tsar'Grad, onde monges se reuniram ao redor dele. Isaac se tornou Higúmeno e líder espiritual da comunidade, ensinando também a leigos e praticando caridade com os pobres e sofredores. Quando atingiu avançada idade, Isaac fez de São Dalmatus Higúmeno. O santo asceta adentrou o Reino dos Céus em 383.

Fonte: Eparquia Ortodoxa do Brasil

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

domingo, 9 de junho de 2013

O Ícone da Santíssima Trindade de Santo Andrei, Iconógrafo


Origem

Ao longo do período das perseguições (até o século III) e imediatamente após ele, as comunidades cristãs buscavam representar os elementos centrais de sua fé. Sua gênese remonta a tradição oral e, depois, a publicação dos Evangelhos de Lucas e João, escritos na segunda metade do século I.

Uma das grandes controvérsias iniciais do cristianismo foi a organização da Santíssima Trindade, a ordem em que cada Elemento (Pai, Filho e Espírito Santo) deveria aparecer e até mesmo se o Filho era de mesma natureza que o Pai. Jesus, já em seu sermão aos apóstolos no Cenáculo, chama-lhes a devida atenção quanto à existência de três Entidades Divinas compondo uma só pessoa e uma única personalidade, convidando toda sua Igreja a viver nesta mesma vida trina. O que faz do Novo Testamento o lócus por excelência para a fixação da Santíssima Trindade.

Não obstante a estes fatos, o texto basilar tomado pelos primeiros cristãos à reflexão teológica acerca da Trindade localiza-se em Gênesis (18, 1-15), onde Moisés relata que Abraão recebe em sua casa três homens, transformados pela tradição cristã em três anjos, permanecendo – porém – o tipo ideal da natureza trinitária. Eis a primeira questão a ser abordada: como se chegou à conclusão de que aqueles três homens revelados a Abraão tomariam um sentido trinitário sagrado? É São Paulo que dá um significado cristão à vida de Abraão e o estabelece um lugar na soterologia neo-testamentária, transformando um simples gesto de hospitalidade em um evento além dele, sublinhando não apenas que aquela anunciação não se restringia apenas à notícia de que Isaac nasceria, mas sendo também a visão da própria Encarnação do Filho de Deus. (GI3, 6; Rm 4,3: Ef 1, 3-14)

A influência dos Padres

O conceito trinitário, bem como sua tradição, demandou um período bastante elástico para se estabelecer e se estabilizar. Começa ainda dentro da fé judaica e ganha força com os Padres da Igreja, que passam a compreender o gesto de Abraão como o reconhecimento a uma manifestação de Deus – o primeiro testemunho que evoca os três anjos provém de Justino, morto em 165. Mas é só depois do Concílio de Nicéia (325) que a Patrologia, oriental e ocidental, aprofundará a teologia da Trindade. Eis o que representa, no seio do Cristianismo, a aparição dos três homens segundo o 18º. capítulo do Gênesis. É também dessa fonte da tradição que a iconografia irá se nutrir.

A partir do século IV, os grandes impulsionadores sobre os dogmas da Trindade são os Padres Capadocianos, notadamente contra o arianismo e em favor daquilo que se chamou de economia da salvação, ou seja, o plano eterno das três Pessoas Divinas de salvar o mundo.

A Iconografia Cristã

Algo que deve estar bem claro é que, embora o conceito sobre a Trindade seja uma das colunas mestras do cristianismo desde sua gênese, sua representação iconográfica é muito rara, praticamente inexistente, no primeiro milênio da arte cristã.

Uma das raríssimas representações desta passagem bíblica em especial, datada da primeira metade do século IV foi encontrada, em 1955, nas catacumbas da Via Latina, em Roma, mostrando Abraão a receber os três jovens. Nela, o trio é representado uniformemente, tanto nas vestes quanto no gestual, representando identidade perfeita entre seus componentes, o que evidencia a intenção do autor da obra em não apenas ilustrar a passagem do Gênesis, mas interpretá-la segundo a visão cristã.

Já nos séculos seguintes, V e VI, outras obras voltam ao tema: primeiramente, um mosaico montado na Basílica de Santa Maria Maior; depois, em Ravena, São Vital (aproximadamente em 547) ilustra a refeição oferecida por Abraão às três personagens, aproximando a leitura do evento ao sacrifício do Cristo e da celebração da Eucaristia. Esta última obra é, até o presente momento, a mais antiga representação iconográfica de expressão da unidade divina e, também, configura a concepção da ceia que servirá de modelo à posteridade, inclusive a Leonardo da Vinci.

A partir destas obras, à luz da interpretação dos Padres orientais e ocidentais e que evoluem no espaço e no tempo tanto em riqueza quanto em complexidade, o fiel também incorpora ao seu arcabouço religioso os mistérios trinitários. É neste contexto de expansão que encontraremos a obra de Rublev.

O ícone de Andrei Rublev

Andrei Rublev, com data de nascimento incerta – entre 1360-1370 – viveu em um período que, ao mesmo passo que era rico sob diversos aspectos, também mergulhava-se em tumultos sociais e políticos. A vitória Russa sobre os Mongóis no oriente em 1380, na batalha de Koulikov, acentuou nos russos o sentimento de liberdade e nacionalismo, bem como voltava seus olhos para Moscou. Este também foi o período em que o monaquismo experimentou grande desenvolvimento no oriente, fazendo com que as artes e a própria expressão cultural tivesse nos mosteiros senão seu ponto principal, certamente um de seus principais pilares.

O nome de Rublev é citado pela primeira vez nas crônicas da reforma e decoração da Catedral da Anunciação em 1405, no Kremlin, em Moscou, conduzida por Teóphanos, o grego. Todavia, não será Teóphanos seu grande mentor, mas São Sérgio de Radonej.

Radonej é um dos santos russos mais populares e é um dos grandes responsáveis pelo florescimento espiritual e cultural russo de sua época. A vida do santo confunde-se com a contemplação e o estudo dos mistérios da Santa Trindade, levando-o a desenvolver orações e serviços humanitários. Segundo testemunhas, sua humildade era tamanha que era impossível não se influenciar por ela, mesmo que o contato com São Sérgio Radonej fosse de poucos minutos. Exemplo disso – enfatizam seus cronistas – era que, para aliviar do trabalho outros monges, assumia para si as tarefas mais difíceis e partilhava o seu de pão com um urso selvagem que o vinha visitar.

Como principal obra, dedicou-se à construção da igreja da Santa Trindade, fundada por Santo Aleixo, então metropolita de Moscou. Lutou ao longo de sua vida para tornar a unidade divina exemplo ao corpus da Igreja e dos agentes públicos de sua época. Para tal, buscou aproximar príncipes feudais inimigos e deu sua bênção ao príncipe Dmitri de Moscou antes de sua investida contra os mongóis, predizendo a sua vitória. São Sérgio faleceu em Setembro de 1392, sendo aclamado o padroeiro da Rússia e deixando um grande número de discípulos.

O ícone da Trindade

Andrei Rublev foi contemporâneo de São Sérgio e viveu como monge do mosteiro de Santo Andrônico, em Moscou e, se não conheceu o santo pessoalmente, é muito provável que tenha tido contato com seus discípulos diretos que buscavam dar continuidade à prática de seus ensinamentos acerca dos princípios de humildade, amor, despojamento e solidão contemplativa, invariavelmente orientada pelo aprimoramento espiritual e em união com Deus pela oração contínua, devolvendo ao mundo a piedade e o amor ao próximo.

Rublev, juntamente com seu amigo de infância, Daniel, o Negro, são sempre descritos pela tradição russa como sendo “homens perfeitos em virtude”, cheios de fé, alegria e luminosidade. Segundo eles, a arte está unida à santidade, tanto é que, sempre que podiam, ficavam observando e comentando os ícones das igrejas próximas ao mosteiro onde viviam. A partir deste princípio, levaram uma vida extremamente religiosa, contemplativa e voltada à observação, estudo e produção de ícones ricos em simbologia e significado teológico.

Rublev e Daniel trabalham juntos em 1408, quando decoram a Catedral da Assunção, em Vladimir.

Após isso, cerca de 1422, um dos discípulo São Sérgio os convida para irem viver no Mosteiro da Trindade, reconstruído sobre as cinzas da antiga construção em madeira, incendiada pelos mongóis em um ataque, com a finalidade de decorá-lo com seus ícones. Eis o momento em que vem à luz o tão conhecido ícone da Trindade.

Este ícone, desde sua primeira exposição, provocou tamanha veneração por parte de religiosos e fiéis leigos que a Igreja da Rússia publicou um decreto no Concílio dos “Cem Capítulos”,de 1551, incentivava outros iconógrafos a replicarem a obra de Rublev, declarando-a, a partir de então. Ao finalizar os cânones iconográficos, este Concílio reconheceu o ícone da Trindade como o modelo perfeito a ser seguido pelos demais  ícones.


Rublev nasce para os céus aos 9 de Janeiro de1430 e é canonizado em 1988 sob o nome de Santo Andrei, Iconógrafo. Sua data festiva é o dia 4 de Julho.

Santo Andrei, Iconógrafo

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