quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Jejum Ortodoxo


Exceto quando estamos em períodos onde há dispensa (ver abaixo), todos os cristãos Ortodoxos devem manter o jejum estrito todas as QUARTAS e SEXTAS-FEIRAS. Nesses dias deve-se evitar o consumo dos seguintes alimentos:

- Carnes, incluindo aves, e produtos derivados, como toucinho e caldo de carne.

- Peixes com espinha – mariscos e frutos do mar são permitidos.
Ovos e laticínios

- Azeite de oliva

- Vinho e bebidas alcoólicas. Na tradição eslava, permite-se o consumo de cerveja.

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DISPENSAS:
Permite-se o consumo de vinho, peixe e azeite nas festas da Anunciação e no Domingo de Ramos, bem como nas festas dos principais santos e do padroeiro da paróquia que o fiel frequenta.

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Jejum dos Santos Apóstolos

Tem duração variável a cada ano. Vai da segunda-feira após o "Domingo de todos os Santos" até o dia 28 de Junho, véspera da Véspera de da festa de São Pedro e São Paulo.

• Segunda, Quarta e Sexta-feira: JEJUM ESTRITO.

• Terças e quintas-feiras: PERMITE-SE O CONSUMO DE VINHO E AZEITE.

• Sábado e Domingo: PERMITE-SE O CONSUMO DE VINHO, AZEITE E PEIXES.

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Jejum da Dormição da Theotokos: 01 a 14 de Agosto.

- Segunda a sexta-feira: JEJUM ESTRITO

- Sábado e domingo: permite-se o consumo de vinho e azeite.

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ADVENTO
Período de preparação para a Festa da Natividade de Nosso Senhor. Vai de 15 de novembro até 24 de dezembro (Véspera de Natal).

Divide-se em dois períodos:

1) Primeiro período (15/11 a 19/12)

- Segunda, quarta e sexta-feira: jejum estrito.

- Terça, quinta, sábado e domingo: permite-se o consumo de vinho, azeite e peixe.

2) Segundo período (20/12 a 24/12)

- Segunda a sexta-feira: jejum estrito.

Sábado e domingo: permite-se o consumo de vinho e azeite.

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OUTROS PERÍODOS DE JEJUM
Também são considerados dias de jejum:

- Véspera da Teofania (05/01);

- Festa da Exaltação da Santa Cruz (14/07);

- Comemoração da Decapitação de São João Batista (29/08).
Nesses dias permite-se o consumo de vinho e azeite.

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PERÍODOS DE DISPENSA

Nos seguintes períodos não praticamos jejum em nenhum dia (incluindo quartas e sextas):

- De 25 de dezembro até 04 de janeiro.

- Na semana do Domingo do Fariseu e do Publicano (segunda semana do Triódion)

- Na semana da Páscoa

- Na Semana da Santíssima Trindade (do Domingo de Pentecostes até o Sábado de Todos os Santos)

- Quando uma das festas de Nosso Senhor e da Mãe de Deus caírem durante um período de jejum, permite-se o consumo de peixe, vinho e azeite. Nas festas dos principais Santos, permite-se o consumo de vinho e azeite – e também de peixe, se o(a) Santo(a) for o padroeiro de sua paróquia.

Fonte: Ecclesia.com.br

domingo, 7 de julho de 2013

Ortodoxia – Que é?


Uma palavra especial... Palavra que possui grande força de atração. Do grego "orthos" que significa "reta e verdadeira adoração" e "doxa" que significa doutrina ou ensinamento.

SANTO ATANÁSIO

Enquanto se manifestou na Igreja cristã a necessidade de proteger a verdade dos erros que apareceram (e estes já apareceram nos tempos apostólicos), surgiu o conceito da "confissão correta da verdade", tal como a escutamos na oração litúrgica e que vem da Igreja antiga, sobre o episcopado, "que usa bem a palavra da verdade" (2Tm 2,15). Esta expressão se cristalizou em uma palavra durante os duros enfrentamentos do arianismo na Igreja. Santo Atanásio, o Grande, dedicou quase toda a sua vida à defesa da Ortodoxia frente ao arianismo. Santo Epifânio chama Santo Atanásio de "Pai da Ortodoxia". Santo Isidoro de Sevilha no livro "Os Princípios" diz: "o ortodoxo é aquele, que crê corretamente e, de acordo com esta crença, vive corretamente". Os grandes Padres Orientais da Igreja do século VI, sempre usam esta mesma denominação. São Gregório, o Teólogo, usa o termo "Ortodoxia Sofredora" (Sermão 6 de Gregório o Teólogo).

Santo Atanásio, Pai da Ortodoxia

 Depois do Sexto Concílio Ecumênico, quando surgiram discussões sobre a veneração das imagens (ícones) e, desse modo, sobre as formas externas da veneração a Deus, o conceito de "Ortodoxia" se ampliou a todo o ciclo de teologia cristã e ofícios religiosos. Antes da separação das Igrejas, a "Ortodoxia", ou a "Verdadeira Glorificação", se pensava como um caráter necessário de verdadeiro cristianismo, tanto no Oriente como no Ocidente, isto é, todos os que queriam seguir a Igreja de Cristo sem erros eram "ortodoxos". Quando deu a separação da Igreja Romana da unidade da Igreja, ambos conceitos clássicos, digamos melhor, eclesiásticos antigos: a) "Ortodoxo" e b) "Católico-universal", se conservaram no Oriente e no Ocidente, porém se conservaram de maneira que, um dominou aqui e o outro lá.

SÃO GREGÓRIO, O TEÓLOGO

Cada um fez seu estandarte da Igreja: no Oriente, "Ortodoxia" é a preocupação antes de tudo de guardar a pureza da fé; no Ocidente se usa o termo "Católico" como "universalidade" ou o "Catolicismo" como expressão da idéia de difusão mundial para todos. O nome da Igreja Cristã como "Católica" ficou mais identificada nos países ocidentais relacionando-a com a Igreja de Roma. Não obstante, nenhum ortodoxo duvida que é verdadeiramente católico, porque no Oriente, tal como está mencionado no Credo que rezamos em cada Divina Liturgia, se diz que nossa Igreja é "Católica". No Oriente, porém, esta denominação conserva seu lugar na série de outras características necessárias da Igreja: "Una, Santa, Católica e Apostólica", que recebeu no Segundo Concilio Ecumênico, ou seja, sem que uma destas notas tenha maior ou menor domínio sobre as demais. Somos, portanto, membros da Igreja Cristã, Católica Apostólica Ortodoxa.

São Gregório, o Teólogo

Falando sobre o "ortodoxo" e o "não ortodoxo" é preciso explicar uma coisa mais. No primeiro milênio, antes do fato lamentável da separação das igrejas, tanto o Oriente como o Ocidente, receberam grande quantidade de particularidades que dependiam das causas não relacionadas com a fé, senão das condições geográficas e outras, da diferença de culturas grega e romana. A distancia entre o Ocidente e o Oriente, separados pelo Mar Mediterrâneo, impediam a uniformidade das formas de culto e outras facetas da vida eclesiástica. A língua grega, que dominava o Oriente, e o latim, que se tornou o idioma culto do Ocidente, aumentavam esta separação.


«Igreja Grega Ortodoxa da Apresentação da Santa Mãe de Deus (Theotokos) nos EUA»


Assim apareceram, todavia, antes da separação de Roma nas duas partes da Igreja, uns traços especiais que não dependiam, na realidade, da conservação ou não da verdade. No segundo milênio, na medida em que estas marcas subsistiam se tornaram características de uma ou de outra confissão e, atualmente, com freqüência é necessário um esforço para definir se tal ou qual particularidade do espírito do catolicismo-romano ou ortodoxo é o resultado de causas etnográficas, lingüísticas ou outras.

Para nós, a ortodoxia está dada, tem seu conteúdo e forma constituídos. Porém, a religião é vida e a ortodoxia não constitui uma acumulação de respostas feitas a todas as perguntas. É, sobretudo, uma vivência tomada das experiências de outros que nos precederam na fé e que nos servem de fundamento para que nós mesmos realizemos nossas vidas segundo nossa convicção em Cristo e em sua Igreja.

Assim a Igreja tem demonstrado com atos a fé que está escrita em seu estandarte "Ortodoxia". "Busquem antes de tudo o Reino de Deus e sua Verdade e tudo mais será dado por acréscimo" (Mt 6,33)

Fonte: http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/catequese/catecismo_da_igreja_ortodoxa1.html

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Santo Apóstolo Judas

Santo Apóstolo Judas
19 de junho -- Calendário Juliano

Judas, um dos Doze Apóstolos de Cristo, descendia dos Reis Davi e Salomão, e era filho do Justo São José, o Noivo, em seu primeiro casamento. No início da missão de Cristo, os filhos de São José, e dentre eles Judas, não acreditavam em Sua divina natureza. A Tradição conta que quando São José retornou do Egito, começou a dividir seus bens entre os filhos. Ele queria deixar uma boa parte para o Salvador, nascido miraculosamente da Toda Santa e Pura Virgem Maria. Mas os irmãos se opuseram por Jesus ser filho de outra mulher. Apenas Tiago, mais tarde chamado de ''Irmão do Senhor'', se ofereceu para dividir sua parte com Cristo.

Judas veio a crer que Jesus era o Messias esperado e foi escolhido como um dos Doze. Consciente de seu pecado, considerava-se indigno de ser chamado de ''irmão do Senhor'' e em suas epístolas se apresentava apenas como irmão de Tiago. Após a Ascensão do Senhor, São Judas viajou por várias regiões pregando a Boa Nova. Ele espalhou a fé em Cristo primeiro na Judéia, Galiléia, Samaria e Iduméia; e mais tarde nas terras árabes, na Síria e Mesopotâmia. Finalmente, chegou na cidade de Edessa. A Tradição conta que visitou também a Pérsia, onde escreveu uma Epístola católica em grego.

O Santo Apóstolo Judas morreu como mártir no ano 80, próximo ao Monte Ararat, na Armênia, local onde foi crucificado.



Tropário

Divinely we praise you, O Jude, as a faithful witness,
Knowing you to be the brother of Christ.
You trampled on delusion,
And so preserved the faith.
Today as we celebrate your holy memory,
By your intercessions we receive remission of sins.



Kondakion

You were chosen as a disciple for your firmness of mind:
An unshakable pillar of the Church of Christ,
You proclaimed His word to the Gentiles,
Telling them to believe in one Godhead.
You were glorified by Him, receiving the grace of healing,
Healing the ills of all who came to you,

O most praised Apostle Jude!

Fiquemos com a paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

Fonte: Igreja Autocéfala da Polônia, Eparquia Ortodoxa do Brasil

terça-feira, 2 de julho de 2013

Santos Mártires Manuel, Sabel e Ismael da Pérsia

Santos Mártires Manuel, Sabel e Ismael da Pérsia17 de junho -- Calendário Juliano



Manuel, Sabel e Ismael eram irmãos e descendiam de uma ilustre família pesa. O pai deles era pagão, mas a mãe era cristã e os batizou e criou na fé. Quando se tornaram adultos, adentraram a carreira militar. Tornaram-se mensageiros do Imperador Persa, Alamundar, e nessa função concluíram um tratado de paz com o Imperador Juliano, o Apóstata [361-363]. Juliano os recebeu com honras, mas quando os irmãos se recusaram a participar dos sacrifícios da religião estatal romana o Imperador romano se irou. O tratado foi anulado e os embaixadores foram encarcerados como criminosos comuns. No interrogatório foi-lhes dito que, caso não cedessem às exigências da fé do Imperador, o tratado de paz não poderia ser firmado. Os irmãos responderam que haviam sido enviados para tratar assuntos de Estado e não para argumentar sobre os deuses romanos.

Vendo que permaneciam firmes na fé, Juliano os entregou para serem torturados. Durante os tormentos, os irmãos oravam sem cessar a Deus e não pareciam sentir os ferimentos. Por fim, os santos mártires foram decapitados. Juliano ordenou que seus corpos fossem queimados, mas de repente ocorreu um terremoto. O chão se abriu e engoliu os corpos dos santos. 

Dias depois, após grande oração dos cristãos, os corpos reapareceram exalando uma doce fragrância. Muitos pagãos romanos se converteram diante deste milagre e foram assim batizados. Os santos foram enterrados em 362 e suas relíquias foram glorificadas com numerosos milagres.

Quando soube que seus emissários haviam sido mortos e que Juliano marchava contra ele, Alamundar reuniu um grande exército e se estabeleceu nas fronteiras de seus domínios. Os persas derrotaram os romanos em uma grande batalha na qual Juliano, o Apóstata, tombou morto pelo Grande Mártir São Mercúrio [comemorado em 24 de novembro]. 30 anos depois, o Imperador Teodósio, o Grande, construiu em Constantinopla uma Igreja em honra dos santos mártires, e São Germano, Patriarca de Constantinopla, então ainda um hieromonge, escreve um cânone em memória dos santos irmãos.

domingo, 23 de junho de 2013

Santos Mártires Alexandre e Antonina de Alexandria

Santos Mártires Alexandre e Antonina de Alexandria
10 de junho -- Calendário Juliano

Antonina era uma jovem moça da cidade de Krodamos, na Ásia Menor, e foi presa no início do século IV por ser cristã. Levada diante do governador Festus, foi chantageada para renegar o cristianismo, mas a jovem permaneceu fiel ao seu amor ao Cristo e pediu ao governador para que renunciasse, ele, ao paganismo. Festus ordenou então que Antonina fosse trancafiada. A mártir passava todo o tempo em oração, sem comer ou beber nada.

Perecendo no cárcere, foi, porém, agraciada com a Voz do Senhor, que lhe avisou para que se fortalecesse e tivesse coragem. Quando levada mais uma vez diante de Festus, a santa virgem permaneceu confessando a Fé e renunciando o paganismo estatal romano. O governador decidiu entregar a virgem para que fosse desonrada por soldados, mas o Senhor inspirou um deles, Alexandre, para salvá-la.

Santo Alexandre vestiu Antonina com suas roupas de militar. Ninguém pôde reconhecê-la vestida de soldado, e desse modo ela escapou da prisão. Quando os soldados enviados por Festus chegaram à cela, encontraram Alexandre sozinho. O santo foi cruelmente torturado, mas não pronunciou uma palavra ao governador. No entanto, inspirada também por Deus, Antonina se apresentou a Festus. Ambos tiveram suas mãos cortadas e foram atirados em um buraco com piche, no qual foram queimados vivos. O governador Festus morreu sete dias depois deste acontecimento, incapaz de comer ou de beber. Os santos Alexandre e Antonina passaram pelo martírio em 313 e suas relíquias foram transferidas para Constantinopla e estabelecidas no mosteiro de Maximov.

 Fonte: Eparquia Ortodoxa do Brasil da Igreja Autocéfala da Polônia

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Os Efeitos Nefastos da Intolerância e do Puritanismo Ideológico Para a Unidade da Igreja

Ícone de Pentecostes


Recentemente tenho observado alguns eventos entre grupos religiosos que se afirmam cristãos que vem me preocupando... os sentimentos de segregação, apartação e repulsa vêm se traduzindo em uma tendência gigantesca e grotesca de intolerância.

Uma coisa deve ser historicamente entendida: antes de Constantino os cristãos eram perseguidos pelas religiões tradicionais que existiam em Roma, notadamente a fé pagã estatal; com Constantino o cristianismo foi declarado legítimo e as perseguições sessaram. As igrejas prosperaram em todo o império, no oriente e ocidente.

Com Teodósio I, o Espanhol,  o cristianismo passou de intolerado a intolerante, perseguindo todas as demais religiões pagãs, declarando-as ilegais e perseguindo seus sacerdotes e fechando seus templos. Sua política de implantação do cristianismo como fé única do império criou a primeira onda de intolerância religiosa promovida a partir do cristianismo institucionalizado da História.

Imperador Teodósio I, o Espanhol

Com o passar do tempo, este sentimento apenas aprofundou em alguns setores da Igreja. As investidas "puritanistas" passaram a criar e interpretar muitos dogmas que afastaram aos poucos estes setores da própria Luz do Evangelho, desvinculando estes segmentos dos ensinamentos de tolerância e amor ao próximo tão enfatizados pelo próprio Cristo em suas parábolas e seus sermões.

Tal medida criou sérios problemas ao longo dos séculos para a unidade do cristianismo proclamado no primeiro Consílio de Nicéia e confirmado no Consílio de Constantinopla. Nele, todos os cristãos declaram crer em uma Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica de Jesus Cristo.

O primeiro problema institucional foi criado já no Consílio da Calcedônia, onde a Igreja de Alexandria se separou da Pentarquia original da Igreja, iniciando assim o processo que culminaria no grande sisma de 1054, quando a Igreja de Roma abandonou o Consílio Ecumênico e formou assim uma fenda dentro da Igreja que já dura quase um milênio.

A luta do purismo fideísta contra qualquer opinião ou prática que se afastasse de seus ditames e seus dogmas talvez tenha conseguido seu capítulo mais vergonhoso durante os anos da Inquisição, onde "hereges" foram denunciados aos milhares e membros de outros credos foram obrigados a se confessarem cristãos para, em seguida, serem julgados como "cristãos hereges". Foi a institucionalização e a canonização da intolerância.

Bandeira institucional do Tribunal do Santo Ofício, conhecido como a Santa Inqusição

 Alguns séculos depois foi o movimento protestante que criou, no ocidente, mais um sisma dentro da fé cristã. Mais uma vez foram os dogmas e os interesses institucionais que se sobrepujaram ao Evangelho... uma vez mais interesses mundanos demoliram a unidade; uma vez mais a intolerância voltou a figurar nos discursos, nos sermões e nas homilias dentro dos templos... homens que afirmavam espalhar o amor de Cristo pela Terra gritavam o ódio contra outras pessoas que liam a mesma mensagem de tolerância, sem ser no entanto entendida, muito menos praticada.

A partir de então cada segmento desta Igreja que deveria ser Una se afirma o segmento mais puro e condena os demais segmentos; a partir de então o estudo da Bíblia se tornou cada vez mais superficial e o valor dado aos ensinamentos do Cristo cada vez menor; substituíram o entendimento pela soberba e o amor ao próximo pelo orgulho... a simplicidade foi substituída pelo brilho do ouro, dos carros importados e pelo brocado luxuoso; as obras caritativas foram suplantadas por uma prática de fé cega, surda e barulhenta e o olhar para o outro ganhou tons mais de julgamento, de "caça às bruxas" do que um ato de reconhecimento a outra criatura de Deus.

O ecumenismo por tantos desejado, assim, é mais um discurso de polidez mundana pouco comprometido com atitudes reais e sólidas em favor da reunião, da religação, da religião cristão universal... da religião realmente católica conforme sua gênese. O ecumenismo, assim, somente será possível quando calarem a soberba, o nobiliarquismo, o orgulho, a ignorância, o discurso vazio, a falsa modéstia, a pseudo-humildade... e o puritanismo intolerante que cria grupos, tribos, clãs, fronteiras, barreiras, muros e encastelamentos entre pessoas que afirmam seguir para o mesmo destino segundo as mesmas leis que, infelizmente - por muitos - já foram esquecidas há um longo tempo.

Fiquemos com a paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Santo e Venerável Isaac, fundador do Mosteiro Dalmaciano em Constantinopla

Isaac viveu durante o quarto século e recebeu tonsura monástica no deserto, onde levou adiante seus esforços ascéticos. Durante o reinado do Imperador Valente [346-378], um zeloso adepto da heresia ariana, ocorreu uma perseguição à Ortodoxia, com destruição e fechamento de igrejas. Ouvindo sobre a perseguição, Santo Isaac deixou o deserto e foi para Tsar'Grad consolar e encorajar os fiéis.

Neste mesmo período, bárbaros godos lutavam contra as forças imperiais ao longo do Rio Danúbio, saqueando a Trácia e avançando rumo a Constantinopla. Quando Valente deixava a capital junto a seus soldados, Santo Isaac exclamou, ''Imperador, liberte as Igrejas Ortodoxas e então o Senhor te ajudará!''. Mas o Imperador, desdenhando das palavras do asceta, continuou confiantemente no seu caminho. O santo repetiu sua profecia por três vezes, e Valente, irado, ordenou que ele fosse atirado em um desfiladeiro fundo, repleto de espinhos e de lama, do qual seria impossível escapar.

Santo Isaac permaneceu vivo por socorro divino. Saindo do abismo e alcançando o Imperador, lhe disse: ''Você desejavam me destruir, mas três anjos me retiraram do lamaçal. Ouça-me, reabra as Igrejas dos fiéis ortodoxos e você derrotará o inimigo. Se, no entanto, não me der atenção, então você não retornará da batalha; pelo contrário, você será capturado e queimado vivo.'' O Imperador ficou atônito pela severidade do santo e ordenou que fosse detido e preso até que ele retornasse.


Santo e Venerável Isaac
Dia: 30 de maio


A profecia de Santo Isaac logo se realizou. Os godos derrotaram o exército grego. O Imperador e seus generais arianos buscaram refúgio em um celeiro repleto de palha que foi incendiado pelos bárbaros. Após as notícias confirmando a morte do Imperador, Santo Isaac foi libertado e honrado como um profeta. Então o Santo Imperador Theodósio, o Grande [379-395], ascendeu ao trono. Ele tratou o asceta com grande repeito, obedecendo suas instruções. Desse modo, baniu os arianos de Constantinopla e restaurou as Igrejas aos fiéis ortodoxos. Santo Isaac queria retornar ao deserto, mas muitos lhe pediram para que continuasse na capital e a protegesse com suas orações. Um mosteiro foi construído para o santo em Tsar'Grad, onde monges se reuniram ao redor dele. Isaac se tornou Higúmeno e líder espiritual da comunidade, ensinando também a leigos e praticando caridade com os pobres e sofredores. Quando atingiu avançada idade, Isaac fez de São Dalmatus Higúmeno. O santo asceta adentrou o Reino dos Céus em 383.

Fonte: Eparquia Ortodoxa do Brasil

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

domingo, 9 de junho de 2013

O Ícone da Santíssima Trindade de Santo Andrei, Iconógrafo


Origem

Ao longo do período das perseguições (até o século III) e imediatamente após ele, as comunidades cristãs buscavam representar os elementos centrais de sua fé. Sua gênese remonta a tradição oral e, depois, a publicação dos Evangelhos de Lucas e João, escritos na segunda metade do século I.

Uma das grandes controvérsias iniciais do cristianismo foi a organização da Santíssima Trindade, a ordem em que cada Elemento (Pai, Filho e Espírito Santo) deveria aparecer e até mesmo se o Filho era de mesma natureza que o Pai. Jesus, já em seu sermão aos apóstolos no Cenáculo, chama-lhes a devida atenção quanto à existência de três Entidades Divinas compondo uma só pessoa e uma única personalidade, convidando toda sua Igreja a viver nesta mesma vida trina. O que faz do Novo Testamento o lócus por excelência para a fixação da Santíssima Trindade.

Não obstante a estes fatos, o texto basilar tomado pelos primeiros cristãos à reflexão teológica acerca da Trindade localiza-se em Gênesis (18, 1-15), onde Moisés relata que Abraão recebe em sua casa três homens, transformados pela tradição cristã em três anjos, permanecendo – porém – o tipo ideal da natureza trinitária. Eis a primeira questão a ser abordada: como se chegou à conclusão de que aqueles três homens revelados a Abraão tomariam um sentido trinitário sagrado? É São Paulo que dá um significado cristão à vida de Abraão e o estabelece um lugar na soterologia neo-testamentária, transformando um simples gesto de hospitalidade em um evento além dele, sublinhando não apenas que aquela anunciação não se restringia apenas à notícia de que Isaac nasceria, mas sendo também a visão da própria Encarnação do Filho de Deus. (GI3, 6; Rm 4,3: Ef 1, 3-14)

A influência dos Padres

O conceito trinitário, bem como sua tradição, demandou um período bastante elástico para se estabelecer e se estabilizar. Começa ainda dentro da fé judaica e ganha força com os Padres da Igreja, que passam a compreender o gesto de Abraão como o reconhecimento a uma manifestação de Deus – o primeiro testemunho que evoca os três anjos provém de Justino, morto em 165. Mas é só depois do Concílio de Nicéia (325) que a Patrologia, oriental e ocidental, aprofundará a teologia da Trindade. Eis o que representa, no seio do Cristianismo, a aparição dos três homens segundo o 18º. capítulo do Gênesis. É também dessa fonte da tradição que a iconografia irá se nutrir.

A partir do século IV, os grandes impulsionadores sobre os dogmas da Trindade são os Padres Capadocianos, notadamente contra o arianismo e em favor daquilo que se chamou de economia da salvação, ou seja, o plano eterno das três Pessoas Divinas de salvar o mundo.

A Iconografia Cristã

Algo que deve estar bem claro é que, embora o conceito sobre a Trindade seja uma das colunas mestras do cristianismo desde sua gênese, sua representação iconográfica é muito rara, praticamente inexistente, no primeiro milênio da arte cristã.

Uma das raríssimas representações desta passagem bíblica em especial, datada da primeira metade do século IV foi encontrada, em 1955, nas catacumbas da Via Latina, em Roma, mostrando Abraão a receber os três jovens. Nela, o trio é representado uniformemente, tanto nas vestes quanto no gestual, representando identidade perfeita entre seus componentes, o que evidencia a intenção do autor da obra em não apenas ilustrar a passagem do Gênesis, mas interpretá-la segundo a visão cristã.

Já nos séculos seguintes, V e VI, outras obras voltam ao tema: primeiramente, um mosaico montado na Basílica de Santa Maria Maior; depois, em Ravena, São Vital (aproximadamente em 547) ilustra a refeição oferecida por Abraão às três personagens, aproximando a leitura do evento ao sacrifício do Cristo e da celebração da Eucaristia. Esta última obra é, até o presente momento, a mais antiga representação iconográfica de expressão da unidade divina e, também, configura a concepção da ceia que servirá de modelo à posteridade, inclusive a Leonardo da Vinci.

A partir destas obras, à luz da interpretação dos Padres orientais e ocidentais e que evoluem no espaço e no tempo tanto em riqueza quanto em complexidade, o fiel também incorpora ao seu arcabouço religioso os mistérios trinitários. É neste contexto de expansão que encontraremos a obra de Rublev.

O ícone de Andrei Rublev

Andrei Rublev, com data de nascimento incerta – entre 1360-1370 – viveu em um período que, ao mesmo passo que era rico sob diversos aspectos, também mergulhava-se em tumultos sociais e políticos. A vitória Russa sobre os Mongóis no oriente em 1380, na batalha de Koulikov, acentuou nos russos o sentimento de liberdade e nacionalismo, bem como voltava seus olhos para Moscou. Este também foi o período em que o monaquismo experimentou grande desenvolvimento no oriente, fazendo com que as artes e a própria expressão cultural tivesse nos mosteiros senão seu ponto principal, certamente um de seus principais pilares.

O nome de Rublev é citado pela primeira vez nas crônicas da reforma e decoração da Catedral da Anunciação em 1405, no Kremlin, em Moscou, conduzida por Teóphanos, o grego. Todavia, não será Teóphanos seu grande mentor, mas São Sérgio de Radonej.

Radonej é um dos santos russos mais populares e é um dos grandes responsáveis pelo florescimento espiritual e cultural russo de sua época. A vida do santo confunde-se com a contemplação e o estudo dos mistérios da Santa Trindade, levando-o a desenvolver orações e serviços humanitários. Segundo testemunhas, sua humildade era tamanha que era impossível não se influenciar por ela, mesmo que o contato com São Sérgio Radonej fosse de poucos minutos. Exemplo disso – enfatizam seus cronistas – era que, para aliviar do trabalho outros monges, assumia para si as tarefas mais difíceis e partilhava o seu de pão com um urso selvagem que o vinha visitar.

Como principal obra, dedicou-se à construção da igreja da Santa Trindade, fundada por Santo Aleixo, então metropolita de Moscou. Lutou ao longo de sua vida para tornar a unidade divina exemplo ao corpus da Igreja e dos agentes públicos de sua época. Para tal, buscou aproximar príncipes feudais inimigos e deu sua bênção ao príncipe Dmitri de Moscou antes de sua investida contra os mongóis, predizendo a sua vitória. São Sérgio faleceu em Setembro de 1392, sendo aclamado o padroeiro da Rússia e deixando um grande número de discípulos.

O ícone da Trindade

Andrei Rublev foi contemporâneo de São Sérgio e viveu como monge do mosteiro de Santo Andrônico, em Moscou e, se não conheceu o santo pessoalmente, é muito provável que tenha tido contato com seus discípulos diretos que buscavam dar continuidade à prática de seus ensinamentos acerca dos princípios de humildade, amor, despojamento e solidão contemplativa, invariavelmente orientada pelo aprimoramento espiritual e em união com Deus pela oração contínua, devolvendo ao mundo a piedade e o amor ao próximo.

Rublev, juntamente com seu amigo de infância, Daniel, o Negro, são sempre descritos pela tradição russa como sendo “homens perfeitos em virtude”, cheios de fé, alegria e luminosidade. Segundo eles, a arte está unida à santidade, tanto é que, sempre que podiam, ficavam observando e comentando os ícones das igrejas próximas ao mosteiro onde viviam. A partir deste princípio, levaram uma vida extremamente religiosa, contemplativa e voltada à observação, estudo e produção de ícones ricos em simbologia e significado teológico.

Rublev e Daniel trabalham juntos em 1408, quando decoram a Catedral da Assunção, em Vladimir.

Após isso, cerca de 1422, um dos discípulo São Sérgio os convida para irem viver no Mosteiro da Trindade, reconstruído sobre as cinzas da antiga construção em madeira, incendiada pelos mongóis em um ataque, com a finalidade de decorá-lo com seus ícones. Eis o momento em que vem à luz o tão conhecido ícone da Trindade.

Este ícone, desde sua primeira exposição, provocou tamanha veneração por parte de religiosos e fiéis leigos que a Igreja da Rússia publicou um decreto no Concílio dos “Cem Capítulos”,de 1551, incentivava outros iconógrafos a replicarem a obra de Rublev, declarando-a, a partir de então. Ao finalizar os cânones iconográficos, este Concílio reconheceu o ícone da Trindade como o modelo perfeito a ser seguido pelos demais  ícones.


Rublev nasce para os céus aos 9 de Janeiro de1430 e é canonizado em 1988 sob o nome de Santo Andrei, Iconógrafo. Sua data festiva é o dia 4 de Julho.

Santo Andrei, Iconógrafo

Fiquemos com a paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

domingo, 19 de maio de 2013

Apresentação da Santíssima Mãe de DEUS ao Templo


Palestra catequética proferida por D. Chrisóstomo,
Arcebispo da Eparquia Ortodoxa do Brasil, 
jurisdição da Igreja Ortodoxa Autocéfala da Polônia,
em 20/11/2011



Esta festa comemora a entrega da Santíssima Virgem Maria ao templo. Segundo a tradição da Igreja ela era uma menina de três anos de idade. E essa menina era o resultado de uma súplica e uma promessa feita pelos pais. Todas as pessoas que querem ter um filho, quando não conseguem - há mulheres que têm dificuldade de engravidar e homens que têm dificuldade de fecundar - fica uma frustração. A pessoa quer ser pai, quer ser mãe, e não consegue, fica uma frustração. Vocês imaginem que, além disso, tanto o pai quanto a mãe da Santíssima Virgem, Joaquim e Ana, viviam numa sociedade em que esta situação acarretava uma vergonha social, porque eles eram judeus.

O povo judeu foi constituído por Deus, por Iahweh no deserto, e o mandamento que existe desde o livro do Gênesis, 'crescei e multiplicai-vos', era uma regra dentro do povo judeu. Quer dizer, toda vez que uma mulher paria uma criança, ela estava fazendo crescer o povo de Deus, e era sinal claro que Deus a abençoou. Porque aquela mulher frutificou. Vejam a situação de Joaquim e Ana, a vida inteira querendo ter um filho e não conseguindo.

Além da frustração pessoal, além da maternidade e a paternidade frustradas, havia a vergonha perante os outros, e esta culpa: "Deus não me faz frutificar".

Quando fomos a Jerusalém vimos o mosteiro Chozebita (chozeba significa o silêncio), mas não pudemos entrar, pois não aceitavam visitação. O mosteiro que foi construído a partir da gruta em que, diz a tradição, Joaquim se recolheu por quarenta dias, em jejum e oração, pedindo a Deus que lhe desse um filho. (Ainda segundo a tradição, ela seria a mesma gruta em que Elias foi alimentado pelos corvos). É nessa gruta que Joaquim faz uma promessa. Se Deus lhe desse um filho, ele o entregaria ao Templo.

Após a promessa, Santa Ana engravida e dá à luz uma menina. Mas para cumprir a promessa é preciso esperar a criança ganhar uma pequena autonomia. Aos três anos ela é entregue ao Templo. Esta é a Festa que comemoramos.

A primeira coisa a ressaltar é que existe uma esterilidade, e isto tem a ver conosco. De certa forma, todos nós corremos o risco de estarmos espiritualmente estéreis. Qual de nós está conseguindo frutificar ou produzir algo espiritual diante de Deus? Pelo ponto de vista da santificação e pelo ponto de vista espiritual, fechados em nós mesmos, somos todos eunucos, somos todos estéreis. Mas em uma súplica a Deus, em diálogo com Deus, recorrendo a Deus, o pedido teve resposta e frutificou. Houve um fruto. E este fruto foi entregue a Deus.

Temos de parar para pensar que, se, por um lado, há uma esterilidade em nós. Por outro lado, todos nós somos capazes de frutificar alguma coisa, temos alguma qualidade, temos algum dom, somos capazes de fazer alguma coisa. A questão é o que fazermos com este dom. Isto está completamente relacionado com a história dos talentos. O que eu faço com os dons que tenho. Estes dons servem para mim? Estes dons são meus?

Todo cristão tem de entender que, em última instância, tudo o que temos nos foi dado por Deus. Claro que vem através de alguém, vem através do pai, da mãe, do patrão, do professor, do irmão, do filho; mas em última instância, foi enviado por Deus, Deus permitiu que acontecesse. Se eu tenho algum tipo de inteligência, veio de Deus; se tenho alguma paciência, veio de Deus; se tenho algum tipo de sensibilidade, veio de Deus.

A apresentação da Santíssima Virgem Maria ao Templo é exatamente a percepção (que temos de ter) de que nossas capacidades, nossos dons, de alguma maneira têm de estar disponíveis para o próximo, e pelo próximo. Devem estar, em última instância, disponíveis para Deus. Há de se ter uma entrega.

O terceiro aspecto desta Festa é que há verdadeiramente um encontro, que é uma passagem de um estado para outro. Começa a existir uma passagem da Antiga Aliança para uma Nova Aliança. Deus faz a aliança com um povo no deserto e institui uma série de regras para este povo, que, se fosse fiel a elas, seria multiplicado e abençoado. Este povo seria poderoso na terra e derrotaria todos os que o atacassem e seria exemplo e guia para todas as nações na terra. Uma das regras estabelecidas por Deus para este povo é que construísse um Tabernáculo, uma tenda. E explicou como construí-la.

São dois livros inteiros explicando isto, Números e Levítico. Dizem que material usar, qual o tecido, qual a madeira, qual o metal, quais as pedras. Deus dá o tamanho, a medida, diz os móveis que tem de estar lá dentro, como usar, o quê fazer, qual a utilidade desta tenda. Esta tenda é um ponto de encontro entre Deus e o homem. Ali tinha uma série de rituais que Deus ensinou ao homem e que eles tinham de fazer. Ritual para tudo. Para perdoar os pecados, para se purificar depois da menstruação, para selar uma aliança, um negócio, um casamento, um divórcio, uma reconciliação de um casal.

Tinha ritual para tudo. E, dependendo do ritual, tinha de se sacrificar uma pomba, um carneiro, um boi. Às vezes se oferecia o trigo ou a farinha. Tudo isto está explicado e se encontra em Números e em Levítico.

Quando este povo recebe a promessa de Deus de ocupar uma terra, a terra que emana leite e mel, esse povo achou que esse negócio de carregar uma tenda nas costas estava muito “chato”. “Vamos botar Deus sossegadinho num canto”. Então construíram um Templo. E Deus permitiu, Deus abençoou, abençoou Salomão, e Salomão vai construir um Templo magnífico, uma coisa maravilhosa para a época. É neste Templo que a Santíssima Virgem Maria será entregue.

Mas na verdade, quando Deus fez uma aliança com o povo no deserto, no plano de Deus, o que Deus queria era justamente o diálogo. O face a face, a cooperação, e a participação do homem no plano divino. Esta é a idéia. O homem não foi criado por Deus para viver sozinho. O homem é um ser social, o homem precisa do próximo. O homem foi criado para o diálogo, e o diálogo mais sublime do homem é justamente com seu Criador.

A idéia que rege toda a Sagrada Escritura é justamente esta: o diálogo entre o Criador e Sua criatura, entre Deus e o homem. E o ponto culminante deste diálogo seria no Templo. A entrada da Santíssima Virgem Maria neste Templo é o início de uma transformação deste próprio Templo, conseqüentemente deste diálogo. Este Templo que estava institucionalizado, que tinha um conteúdo simbólico enorme - pois todos os judeus, que estavam espalhados pelo mundo, tinham por objetivo de vida ir, pelo menos uma única vez, a Jerusalém para sacrificar no Templo - era algo de importantíssimo na vida de um judeu.

A Santíssima Virgem Maria é entregue a este Templo e dele sai com a idade de catorze anos. Sabe-se que a saída foi na primeira menstruação dela, pois a Lei não permita mulheres em seu período menstrual ao interior do Templo. Então com o advento da menarca ela teve de sair, mas os pais já tinham morrido, pois eram bem velhinhos. É assim que quando esta menina é entregue ao Templo, começa a haver uma ultrapassagem nesta Aliança. Ela dá um avanço. Ela dá um salto de qualidade.

Até então, este Deus, que dialoga com o povo no deserto, era um Deus de mistério. Ele não tinha rosto. Ele era invisível. Não tinha nome. Quando Ele explicou algo de Si próprio disse "Eu sou Aquele que É". E o mistério era tão forte para os judeus que eles sequer mencionavam o Nome de Deus. Iahweh são as iniciais desta frase, "Aquele que É". Não falavam o Nome, era o próprio Mistério. A única certeza que se tinha era que, uma vez por ano, quando o sacerdote entra-se no santuário para queimar o incenso, neste momento, Iahweh estaria ali. Através dos Querubins, espiritualmente...não se sabia como, mas Deus estaria ali naquele momento, essa era a que o judeu tinha.

Mas no Plano de Deus, Deus quer a intimidade, quer o diálogo, quer o contato com o homem. E aí entra a Santíssima Virgem Maria nessa estória, aquela que vai ser, mais adiante, mais tarde -- na próxima festa que vamos celebrar --, a escolhida para Deus encarnar. Aquele Deus misterioso, Aquele Deus difícil, Aquele Deus terrível, que era o Senhor dos Exércitos vai tornar-Se pequeno, igual aos homens para com eles poder conversar. Mistério sublime!

Na subida de Moisés no Monte Sinai onde ele recebe as Tábuas da Lei, que depois serão guardadas na arca que ficará no Templo, a presença de Deus é descrita como uma espécie de vulcão. Era fogo, fumaça, barulho ensurdecedor, uma coisa tão pavorosa que o povo nem teve coragem de subir. Só Moisés foi homem suficiente para ir lá pra cima. E não foi possível descrever nada. E, quando voltou da montanha, Moisés parecia um sol, todo iluminado. E aquilo nem era Deus em Si, mas só a Glória de Deus.

Este Deus terrível, de um distanciamento profundo do homem, tinha por Plano justamente o encontro. Só Deus podia realizar esta obra. O homem não tem capacidade disto. Lembram-se da história da esterilidade, da nossa incapacidade? Então isso só pode ser obra de Deus. No Plano de Deus, desde Adão e Eva no Paraíso, mesmo que Adão e Eva não fossem expulsos do Paraíso, um dia Deus iria Se manifestar como homem para poder dialogar com o homem, na proximidade e na igualdade de um face a face. E para ser um homem perfeito, Ele tinha de perfeitamente nascer como todos os seres humanos nascem: do ventre de uma mulher. Tinha então de surgir a mulher certa para que Deus encarnasse dela.

Essa mulher foi o fruto de uma promessa. Foi aquela filha que São Joaquim e Santa Ana pediram, e que foi entregue ao Templo como eles prometeram. A menina vai ser educada no Templo. Onde, sendo alimentada pelos anjos, vai aprender o necessário para realizar sua vocação. Todas aquelas regras que Iahweh ensina no deserto para o povo, ela aprende na educação dela no Templo. Ela era, digamos assim, uma perfeita judia. É ela que é escolhida. É dela que Deus encarna. O que nos leva a outro aspecto, que para mim é o mais importante. É o salto de qualidade que se celebra nesta festa, onde o novo Templo é a Igreja, e onde o novo povo de Deus são os cristãos.

Mas o Templo do cristão não é esta casa que vemos aqui. A Igreja não é algo externo. A instituição Igreja é uma ferramenta, um veículo, algo palpável e indispensável para o homem. No entanto, enquanto nave ou arca da salvação e da deificação, ela é antes um meio de se viver a Igreja interior. Na essência, pela Vontade de Deus, pelo Plano de Deus, o novo Templo somos nós. Está nas Epístolas de São Paulo. São Paulo ensina isto: “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (ICo. 6,19). Ele diz que quem prostitui o corpo, prostitui o Templo do Senhor. Ele disse, este corpo não vos pertence é de Deus.

Nosso Senhor em Jerusalém foi acusado, dentre outras coisas, de ter dito que se podia derrubar o Templo, que Ele o reconstruiria em três dias. Ele se referia aos três dias em que desceu aos mortos e ressuscitou. Que, simbolicamente, são os três dias em que deixamos de tomar banho depois do batismo. O Novo Templo, o Templo da Nova Aliança, a plenitude da Revelação é o corpo do homem. E a Santíssima Virgem Maria vai ser a primeira. Ela é a Igreja por causa disto, porque ela terá o Cristo dentro de si em carne e osso.

Mas não é só ela, nós também temos de ter. Se não tivermos o Cristo dentro de nós, não somos nada. Pensamos que somos cristãos e não estamos sendo. Porque para o sermos temos de ter o Cristo dentro de nós. Nós comungamos a carne e o sangue na Eucaristia, este Cristo que comungamos tem de ser real para nós. Todo o meu ser tem de alguma maneira estar entregue a este projeto. E é isto que a Santíssima Virgem realiza. O meu corpo, meu pensamento, meus sentimentos, minha inteligência, todas as capacidades, meus dons, e inclusive os meus defeitos, têm de estar envolvidos neste projeto de construir um Templo, de me encontrar com Deus num Templo. E este encontro se faz aqui dentro, em nosso interior.

Os alunos que estiveram ontem na aula são capazes de entender um pouco melhor do que estamos falando, estamos falando da oração. De alguma maneira o Cristo tem de estar vivo dentro de mim. Não em carne e osso, pois não sou capaz de biologicamente parir nada, muito menos um Cristo, mas espiritualmente sim. E quando, na Igreja, vivo todo este ritual de cantar, de orar, de jejuar, de contemplar os ícones, cheirar o incenso, ouvir a música, me esvaziar interiormente pelo jejum. Depois me aproximar daquele pão e daquele vinho, que se transformaram em carne e sangue, e receber a Eucaristia. Tudo isto são rituais que vão me preparando para ser este Templo. E isto não acontece só durante a Sagrada Liturgia, isto tem de ser um projeto de vida.

A imagem que faço é que a vida em Igreja é mais ou menos como caminhar no deserto, e de vez em quando a gente encontra um oásis. Então encontramos o oásis, matamos a sede, nos alimentamos das tâmaras que lá se encontram, descansamos, repousamos, depois caminhamos até o próximo oásis. O oásis é justamente a Sagrada Liturgia. Aliás, todos os ofícios que fazemos na Igreja: as Vésperas, as Matinas são um oásis. Mas se me alimento num oásis e depois saio de mãos vazias para o próximo oásis, quando lá chegar, vou estar no mesmo estado em que cheguei ao primeiro. Para esta caminhada até o próximo oásis, tenho de ter um farnelzinho, não é? Tenho de levar água e alimento para a viagem, senão chego lá pior do que estava. Este alimento que tenho de levar na viagem é o nosso rosário do dia a dia.

Tem de haver uma ligação da nossa vida durante a semana, em nossas casas, na família e com os amigos, com aquilo que vivemos dentro da Igreja. Ou seja, nossa vida tem de ser litúrgica. E a Igreja, ao longo da nossa vida, vai programar as coordenadas dessa viagem. Não foi ninguém em especial que parou e pensou. Foi a vida da Igreja, os Santos que viveram dentro dela, os homens e mulheres que viveram e que derramaram seu sangue na Igreja, que foram pouco a pouco permitindo a elaboração, digamos assim, de um sistema dinâmico de espiritualidade na realização destas Festas.

Nós temos três festas móveis, que são o Domingo de Ramos, o Pentecostes e a Ascensão, centrados na Páscoa (a décima terceira Festa, a Festa das Festas). E temos nove festas que são fixas. A primeira já foi, a Natividade da Virgem Maria: nasceu e surgiu a Igreja. Surgiu e nasceu o Templo Novo. A segunda é a cruz, a exaltação da Santa Cruz. Pois não existe possibilidade de viver uma vida litúrgica, não existe possibilidade de ter um encontro com Deus em um Templo qualquer, se não for passando pela cruz. Vocês podem ver o exemplo desta menina, da Santíssima Virgem Maria. Ela lá tinha culpa do raio de promessa que o pai e mãe fizeram? Se calhar, se deixasse aquela menina crescer naturalmente, ela iria querer ficar brincando de boneca, ia querer namorar, ir a festas, como toda menina normal. Ou não? Pois nem perguntaram o que ela queria, com três anos a enfiaram dentro de um Templo. Tem crucificação maior do que esta? E vejam bem, ela aceitou a cruz, então aquele dito de Cristo "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc. 9. 23), ela realizou. Não se revoltou, não se rebelou, não tentou fugir do Templo, e quando se viu "livre" do Templo, não disse "oba, agora estou por minha conta!" Não! Ela continuou o projeto do pai e da mãe, e o projeto do Templo.

Ela também não era boba, vamos aqui combinar. Porque a mulher naquela época com um marido era uma situação...A mulher valia meio camelo! Para que serve meio camelo? Para nada. Trocava-se uma mulher por dois camelos. E mulher sem um homem era um problema, era menos do que um cão. A mulher era propriedade do marido. E, se este morresse, ela tinha de casar com o cunhado. Se ela não tivesse irmão, pai, tio, alguém que cuidasse dela, estava perdida. E mais, ela era a serva ‘número um’ da casa. Ela tinha de carregar todo o serviço da casa nas costas. Ela ia querer isso? Depois de tudo o que aprendeu dentro do Templo? Ainda mais, com as profecias que diziam que o Salvador nasceria de uma virgem?

"Ah, quero nada", talvez dissesse ela, "quero lá homem mandando em mim nada". Então: "eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim conforme a tua Palavra". O jeito que houve foi arrumar um ancião para casar com ela, que,além do mais, era primo dela, não por acaso.

Foi feito um acordo para que ela pudesse sair do Templo. Ela teria de ficar sob o abrigo de alguém. Vários homens, vários príncipes, se candidataram a casar com ela, porque ela era também da Casa de Davi. Ela era uma princesa. E ela, junto com os sacerdotes, escolheu José. Feita a escolha, arranjaram o casamento.

Então, vejam a seqüência. Temos a Igreja nascente. Esta Igreja é o local do encontro com Deus. Encontro que não tem como não ser na cruz, porque foi nela que Deus nos trouxe a salvação. Foi pela cruz que Deus desceu aos infernos e ressuscitou. Então, nós temos de passar pela cruz, como a Santíssima Virgem Maria passou. E temos de pensar que, de alguma maneira, também temos de nos entregar. Não mais no Templo e sim enquanto Templo, pois agora o templo é outro.

Há de existir uma crucificação de nossas vidas, de nossos desejos, de nossas vontades, de nossas preferências, e uma tentativa de abrir um espaço interior para reconhecermos Deus dentro de nós. É preciso um esvaziamento para que Ele se faça dentro de nós. Esta é a crucificação. Tem de ser feita para que haja este verdadeiro encontro, que é a festa que vamos celebrar. Só então, o Cristo nasce e se faz dentro de nós.

É um erro, um pecado, uma burrice pensarmos que existe um eu que carrego comigo separado da Igreja que fica lá, ‘plantada’ num certo endereço. E na Igreja tem um padre, tem um bispo, tem uma Heloísa que sabe cantar, tem um Acácio que faz a leitura, um acólito que canta bem... Ou seja, como se a Igreja fosse algo de exterior a mim. Como se o meu ‘eu’ não tivesse nada a ver com isto. Não é assim. Ou você é a Igreja ou você não é nada. Pois tudo isso que acontece lá dentro são apenas imagens, ferramentas, símbolos, rituais daquilo que eu tenho de ser enquanto cristão. Percebe? É por isto que sempre retornamos...

Ritual vem de uma palavra em sânscrito que é 'rita', significa 'ordem'. Nós temos de nos conhecer a nós próprios, nos reconhecermos como filhos de Deus, como ícones de Deus, imagem e semelhança de Deus, para sermos verdadeiramente quem nós somos. E não aquilo que esta cultura inventa, ou que nós inventamos para nós mesmos. Nós, no mundo, vivemos papéis, vamos assumindo máscaras (personas). Vamos assumindo o papel de pai, o papel de mãe, de professor, de filho, de aluno, de jovem, de velho e etc., sem sabermos qual o significado, qual a essência destes papéis que estamos assumindo. Porque, no fundo, no fundo, temos um ser interior, temos uma essência que dá qualidade a todos estes papéis que temos de assumir mesmo.

Não temos nem de assumir todos, pois tem gente que não nasceu para ser pai, tem gente que nasceu para outra coisa. Então temos de conhecer quem verdadeiramente somos, para que esta nossa essência dê significado aos papéis que assumimos. É para isto que estamos na Igreja. É por isto que a Igreja é chamada de hospital, porque ela cura. E de certa forma, esta é a esterilidade espiritual de que falei. Espiritualmente estamos todos doentes, pois não somos exatamente como Deus nos fez. Temos de descobrir isto, quem verdadeiramente somos. É essencialmente para isto que existe Igreja. De certa forma, a Igreja é também uma escola, pois vou aprender sobre mim, sobre Deus e sobre o mundo. Então, de certa forma, a cor do santuário não ficou mal, né? Cor de hospital. [risos.]

Então é isto que é a Igreja. E todo este mistério é celebrado por nós, em aspectos diferentes, em cada uma das festas ao longo do ano. Então, nos próximos dias, parem e pensem nisto. Parem e pensem mesmo. Peguem o rosário de vocês, orem um pouco, e depois fiquem com a idéia fixa ali. Meditar é isto. Tentar fixar uma idéia, parada ali. Não dialogue com ela, não. Pare-a ali, a idéia do encontro. Esta é a idéia, do encontro de vocês com Deus. Da mesma maneira que a Santíssima Virgem foi ao encontro de Deus no Templo, nós também temos de ir. É assim que a gente celebra a Festa da Apresentação da Santíssima Mãe de Deus no Templo.

Transcrito por André
Fonte: http://www.igrejaortodoxadobrasil.org.br/apresentacaocatequese.php

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