terça-feira, 30 de abril de 2013

Como o cristianismo chegou à Polônia? Uma breve história da Igreja Ortodoxa Polonesa







A Igreja autocéfala da Polônia é a Igreja dos cristãos ortodoxos que vivem na Polônia. Ela possui seis dioceses e atualmente é liderada pelo Metropolita Sawa, Arcebispo Metropolitano de Varsóvia e de Toda a Polônia.

O nome Polônia (Polska) tem origem na tribo dos polanos, que significa "pessoas que cultivam a terra", derivado da palavra pole que significa "campo". A Igreja Ortodoxa da Polônia tem sua origem apostólica em Cirilo e Metódio. Seus primórdios remontam ao período de formação do Estado da Polônia, que se deu no século X. Período em que os polanos conquistaram a Pequena Polônia, onde habitava a Tribo dos Vislanos (ou Vistulanos). A Pequena Polônia é uma região histórica do atual Estado polonês, formando a maior parte do sul do país. Historicamente, até a Segunda Guerra Mundial, a região incluía também grande parte da atual Ucrânia.

A Tribo dos Vislanos habitava a Pequena Polônia desde o século VII, onde criaram um estado tribal, com os principais centros em Cracóvia, Sandomierz e Stradów. No final do século IX, eles foram invadidos pela Grande Morávia e seu duque foi forçado a aceitar o batismo cristão. Esse fato é muito elucidativo sobre a origem da Igreja Ortodoxa em solo polonês. Pois a conversão dos eslavos à ortodoxia, historicamente passou por um governante da Morávia, chamado Rastislav ou Rostislav, que governou a Grande Morávia entre 846 e 870.

Em 863, Rostislav pediu ao imperador bizantino, Miguel III, que lhe enviassem missionários que pudessem transmitir, em língua vernácula, os ensinamentos de Jesus Cristo. Em resposta, o imperador lhes enviou dois irmãos ilustrados, Constantino (mais tarde, como monge, chamado Cirilo) e Metódio, que dominavam as línguas eslava e grega. Para darem conta dessa missão, os irmãos fundaram o alfabeto eslavo, o que possibilitou que eles traduzissem os mais importante livros litúrgicos cristãos.

Embora o trabalho de Cirilo e Metódio tenha ocorrido na Morávia (aproximadamente a Eslováquia atual), o benefício atingiu a todas as terras eslavas (especialmente Bulgária, Sérvia, Ucrânia, Bielorrússia e Rússia). Com a conversão dos Vislanos pelas mãos dos morávios, o rito de Metódio difundiu-se nas terras polonesas que faziam fronteira com a Morávia. Dessa forma, missionários eslavos ortodoxos começaram sua tarefa de iluminação espiritual muito antes dos reis poloneses se aproximarem do cristianismo romano.

Em 954 Princesa Olga de Kiev foi batizada. Isto abriu o caminho para o batismo de Vladimir de Kiev, neto de Olga, em 988. Vladimir (reinou 980-1015) casou-se com Anna que era irmã do imperador bizantino. Nesse contexto, a Ortodoxia tornou-se a religião de Estado na Rus.

No século X, as terras dos vislanos foram conquistadas pelos polanos e incorporadas ao estado polonês. No entanto, supõe-se que já nesse mesmo século X, bispados ortodoxos de rito metodiano já tivessem sido fundados em Cracóvia e Vislica. A Igreja Ortodoxa tornou-se uma continuação da Tradição Metodiana na Polônia.

Mieszko I unificou os territórios polacos e foi o primeiro duque da Polônia. Ele casou–se com a princesa Dobrawa, que, por ser tcheca, tinha fortes ligações com a Ortodoxia (o que é atestado pelo martírio de São Wensceslas (Vaclav ou Viacheslav) que ocorreu em 935). Foi logo depois de seu casamento com Dobrawa, em 965, que Mieszko I aceitou o batismo, no ano de 966.

Do século X ao século XIII houve um contínuo desenvolvimento da Igreja Ortodoxa em solo polonês, com a fundação de vários bispados. No entanto, de modo geral, os reis poloneses mantiveram-se ligados ao catolicismo romano. Disso resultou que algumas regiões da Polônia estavam sob jurisdição eclesial do Patriarcado de Constantinopla, enquanto outras estavam sob jurisdição eclesial do Papa de Roma.

No entanto, esse desenvolvimento da Igreja Ortodoxa em solo polonês foi abalado pela destruição do poder de Kiev pelos Tártaros (século XIII). Como consequência dessa destruição, a parte sudoeste da Rus, conhecida como pequena Rus (atual Ucrânia), teve uma parte de seu território absorvida pela Polônia e, outra parte, absorvida pela Lituânia em 1386.

A Lituânia foi o último país pagão na Europa. No entanto era, na época, um reino em ascensão na região. No século XIII eles conquistaram a Bielorússia e no século XIV a Ucrânia, incluindo a cidade de Kiev. Em 1385 ocorreu a união pessoal entre os reinos da Lituania e da Polônia, com o Grande Duque Lituano Wladyslaw Jagiello aceitando o batismo e tornando-se Rei da Polônia. O novo estado polaco-lituano tinha uma área total de 1 milhão de km², com capital em Cracóvia. Outras cidades importantes eram Vilnius, Kiev, Poznán, Torun e Gdansk.

Em 1569, a Polônia e a Lituânia formaram a Comunidade Polaco-Lituana, na chamada União de Lublin. Com essa União, uma porção considerável do território ucraniano, a pequena Rus, passou do controle lituano para o polonês. Sob pressão, a maior parte da elite rutena (de origem eslava) converteu-se ao catolicismo romano. Ma o povo daquela região manteve-se fiel à Igreja Ortodoxa. Havia, então, uma situação em que um rei católico governava um povo, no seio do qual havia uma substancial minoria de ortodoxos.

No entanto, esses ortodoxos estavam em situação difícil, pois a jurisdição eclesial do território era do Patriarcado de Constantinopla, que se encontrava impossibilitado de exercer qualquer controle sobre o clero. A ex-capital bizantina havia caído sob domínio dos turcos mulçumanos em 1493. De modo que, no período da Comunidade Polaco-Lituana, a indicação dos que deveriam receber a sagração episcopal passou a ser feita pela Igreja Católica Romana, por intermédio do Rei da Polônia.

Por outro lado, a invasão tártara (mongóis) não conseguiu quebrar a Igreja Ortodoxa entre os eslavos. A Igreja conseguiu sobreviver como uma força real que consolou o povo em seu sofrimento. Ela deu uma contribuição material, espiritual e moral para a restauração da unidade política da Rússia, dando a garantia de uma futura vitória sobre os invasores.

A Rússia, que surgiu a partir do período Mongol foi um país exteriormente muito diferente da antiga Rus. Kiev nunca se recuperou do saque de Batu, o neto de Genghis Khan, em 1240. No século XIV o lugar de Kiev foi ocupado pelo Principado de Moscou. Foi o Grão-Ducado de Moscovo que inspirou a resistência e finalmente a libertação do julgo mongol. A ascensão de Moscou foi intimamente ligada com o crescimento da Igreja. Quando a cidade ainda era comparativamente pequena e insignificante, Pedro, Metropolita da Rússia, em 1308-1326, decidiu estabelecer-se ali. E daí por diante, Moscou permaneceu como a cidade do hierarca chefe da Rússia. E essa nova importância religiosa da cidade foi decisiva para fazer dela o novo centro de unificação política do país.

Como vimos, desde o século XIV a Polônia foi um estado multi-cultural, multi-étnico e multi-religioso. No entanto, as autoridades da Polônia por muito tempo trabalharam para que a Igreja Ortodoxa Polonesa se vinculasse ao Papa de Roma, sob o pretexto de reunificar o cristianismo. Com a chegada dos jesuítas em 1564, a pressão sobre os Ortodoxos aumentou, com grande parte da população se convertendo ao catolicismo romano. A situação da Igreja era de pobreza; o clero era inculto e os bispos não tinham recursos para promover corretamente os serviços litúrgicos e a estrutura eclesial. Muitos sacerdotes foram ordenados sem formação de base e foram desenvolvidos novos ritos, que não eram nem latino, nem grego, em seu caráter.

Em paralelo a esses acontecimentos, houve uma grande mudança no mundo ortodoxo. Ao libertar-se dos invasores, o Estado russo ganhou força e junto com ele a Igreja Ortodoxa Russa. Em 1448, a Igreja Russa tornou-se independente do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Ao Metropolita Jonas, sagrado pelo sínodo russo em 1448, foi dado o título de Patriarca de Moscou e Toda a Rússia. Pouco depois, em 1493, o Império Bizantino entra em colapso com a tomada de Constantinopla pelos turcos.

Nessa situação, os bispos da pequena Rus, situada em território polonês, ficaram submetidos a diferentes tensões: de um lado uma Constantinopla submetida ao domínio mulçumano, em contraste com o Patriarcado Russo associado à ascensão do novo Império Moscovita; de outro lado, havia um rei polonês católico que trabalhava para converter ao catolicismo, a parcela ortodoxa da população do reino.

Em 1595-1596, ocorre a União de Brest, fundada na decisão do "Metropolita de Kiev-Halych e de toda a Rus", de cortar relações com o Patriarca de Constantinopla e se colocar sob as ordens do Papa de Roma. No sínodo em Brest, seis dos oito bispos do Sínodo Ortodoxo apoiam a União com Roma, mas os três bispos restantes, todos do extremo oeste da Ucrânia e da Polônia oriental (Lviv, Lutsk e Przemysl), não aderiram de imediato a União. No entanto, essa resistência foi posteriormente revertida em adesão (1700, 1702 e 1693, respectivamente).

Os hierarcas, reunidos no sínodo de Brest, redigiram os 33 artigos da União que foram aceitos pelo Papa de Roma. Os fiéis ortodoxos foram recebidos na condição de católicos gregos (uniatas), com a autorização de continuar várias práticas orientais, incluindo a Liturgia em Eslavão, a ordenação de homens casados e a comunhão com pão e vinho. A união foi fortemente apoiada pelo Rei da Polônia, Sigismundo Vaza III, mas combatida por alguns bispos e importantes nobres da Rus, e, principalmente, pelo nascente movimento cossaco em prol de um auto-governo ucraniano. O resultado foi a luta ‘Rus' contra ‘Rus', e a divisão dos ortodoxos da pequena Rus em jurisdições greco-católica (também conhecida por uniata) e greco-ortodoxa.

Em 1620, o Patriarca de Jerusalém Theophanes III chegou a Kiev e consagrou uma hierarquia ortodoxa, incluindo Job (Boretsky) como Metropolita de Kiev. Assim, surgiu para a Igreja Apostólica, uma situação de um mesmo território estar sob jurisdição de um bispo ortodoxo e, ao mesmo tempo, sob jurisdição de um bispo católico.

Sentindo-se traídos pelos nobres rutenos, convertidos em uniatas e pelo rei católico, que trabalhava para suprimir a Fé ortodoxa em todo o território do reino, os cossacos e os camponeses pobres, do extremo oeste da Ucrânia e da Polônia oriental, voltaram-se para Igreja Ortodoxa Russa. Houve, então, a eclosão da grande rebelião cossaca de 1648, contra a Comunidade Polaco-Lituana e o Rei João Casimiro II.

Como consequencia imediata dessa rebelião, houve a partilha do território ucraniano entre a Polônia e a Rússia, após o tratado de Pereyaslav e a Guerra Russo Polonesa. Posteriormente, no século XVIII, houve a partilha da própria Polônia, entre a Prússia a Áustria e a Rússia.

A lealdade dos fiéis variou entre a Ortodoxia e a União com Roma ao longo dos séculos que se seguiram. Também a tolerância entre os regimes dominantes e as pessoas tem variado, sob influência das mudanças de fronteiras que aconteceram na história política polonesa. O martírio de Maxim Sandovich ilustra a tensão dessas relações.

Quando a Polônia foi restaurada como país independente, no começo da I Guerra Mundial, cerca de 4 milhões de cristãos ortodoxos ficaram incluídos dentro de seus novos limites. A maioria deles estava sob a jurisdição do Patriarcado de Moscou e eram das etnias bielorrussa e ucraniana.

Pouco depois de sua independência, o governo polonês começou a promover a idéia de instituir uma igreja autocéfala, independente de Moscou. Em 13 de novembro de 1924, o Patriarcado de Constantinopla outorgou o status de autocefalía à Igreja Ortodoxa da Polônia e, em 1927, outorgou ao Metropolita de Varsóvia, o título de “Beatitude.”

No entanto, o gesto do Patriarcado Ecumênico não teve muito efeito prático, pois a maioria dos bispos eram russos e eles continuaram ligados ao Patriarcado de Moscou. “Durante os anos 30, produziram-se desafortunados incidentes entre as Igrejas Católico-romana e Ortodoxa da Polônia. O Metropolita Dionísios de Varsóvia, protestou formalmente pelos incidentes anti-ortodoxos, sustentando que muitos de seus sacerdotes foram forçados a rezar em polonês, que muitas de suas igrejas haviam sido forçadas a fechar e que outras tantas haviam sido destruídas. Alem de tudo isso, denunciou que se estava exercendo pressão sobre os fieis ortodoxos para que se convertessem ao catolicismo. O próprio Metropolita católico-ucraníno, mons. Sheptytsky, corroborou aquelas acusações e somou sua voz àquela dos ortodoxos. Este fato ficou plasmado em uma carta pastoral dirigida a seus fieis.” [1]

Quando o Leste da Polônia foi anexado à União Soviética em 1939, a maioria dos ortodoxos poloneses foram reintegrados ao Patriarcado de Moscou, de modo que a Igreja Ortodoxa da Polônia se viu reduzida significativamente em tamanho.

Em 1948, quando os comunistas tomaram o governo da Polônia, o metropolita de Varsóvia foi deposto por causa de sua oposição ao novo regime. Mas neste mesmo ano, o Patriarca de Moscou reconheceu a Autocefalia da Igreja Ortodoxa da Polônia.

Hoje, a Igreja da Polônia é liderada pelo Arcebispo Metropolitano de Varsóvia e de Toda a Polônia e inclui seis eparquias (dioceses): Varsóvia e Bielsk, Bialystok e Gdansk, Lodz e Poznan, Wroclaw e Szczecin, Lublin e Chelm, e Przemysl e Nowy Sacz, além de uma unidade fora da Polônia que é a Eparquia do Brasil . A maioria dos cristãos ortodoxos estão localizados no leste da Polônia, onde o Eslavo antigo é a língua litúrgica. Mas existem algumas paróquias, espalhadas por toda a Polônia, onde o polonês é utilizado durante os serviços. Nas últimas décadas os crentes ortodoxos também voltaram à região Lemko, que faz parte da Eparquia de Przemysl e Nowy Sacz. O eslavo antigo é geralmente utilizado como língua litúrgica na área Lemko. Estima-se que há cerca de um milhão de Ortodoxos na Polônia.

Texto: Lucas Mesquita


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Orar pela paz; Agir pela paz




Nos últimos tempos nossas mentes têm sido bombardeadas todos os dias por notícias e mais notícias que nos contam de assassinatos, sequestros, chacinas e tantas outras barbaridades que nos coloca par a par com países que vivem guerras... só que aqui temos um diferencial: em tese, o Brasil não está em guerra com ninguém! Logo, qual é o grande problema da sociedade brasileira?!

Todas as vezes que acontece algum tipo de violência que comove a imprensa, e por efeito dominó uma grande gama da sociedade em todos os seus segmentos, é comum vermos passeatas de várias pessoas, entidades, líderes políticos e religiosos clamando por paz. O ato é bonito e merece aplausos, mas... a quem se dirigem estas manifestações? Aos legisladores que fazem as leis; aos fabricantes e vendedores de armas de fogo; aos bandidos?

Os religiosos sempre pedem, acertadamente, para que oremos pela paz. Orar por uma sociedade pacífica, mesmo que silenciosamente, representa que está sendo traçado um contrato entre o que ora - fiel - e o que recebe a oração - Deus - que se resume nas seguintes cláusulas: 1. Senhor, eu me comprometo a não agir de maneira violenta com o próximo e; 2. Senhor, peço para ser capaz de ser tolerante ante as coisas que não me dizem respeito. Sem estas duas cláusulas, nossas orações serão, todas elas, inócuas.

A grande questão é que somos levados a acreditar que a oração, por si só, tem um poder mágico de nos livrar de uma sociedade violenta... triste engano! Qualquer contrato assinado, seja com quem for, demanda atitudes, posicionamentos, comportamentos que validem este contrato. Se assinamos um contrato de compra e venda, nossa obrigação é pagar pelo que compramos ou entregarmos o que vendemos; se assinamos um contrato de prestação de serviço, devemos nos esforçar para que nosso trabalho seja o melhor possível e satisfaça as necessidades de quem nos contratou; se assinamos um contrato conjugal, temos responsabilidades para com nosso par... e assim por diante. Por que com a oração seria diferente?

Desta maneira, além da oração, devemos nos por à disposição para sermos, nós mesmos - sem esperarmos por mais ninguém - agentes fecundadores e cultivadores da paz no meio social que nos assiste. O que isso quer dizer? Quer dizer que se ficarmos esperando sempre que "o outro" (o legislador, o empresário, o bandido, meu vizinho, a TV...) se mova para que a paz seja uma realidade, nada mudará.  É como assinar um contrato e fazer com que os outros arrumem meios para cumprir suas cláusulas.

Se o programa de TV é violento, troque o canal; se o jogo eletrônico é violento, compre outro; se o brinquedo não transmite uma mensagem construtiva, presenteie com outra coisa; se o diálogo envereda para uma discussão acalorada e sem sentido, troque de assunto; se a mensagem é de intolerância, não lhe dê crédito; se o comentário carrega consigo um insulto, não revide com outro insulto, mas com a indiferença... aja de maneira a não propagar a violência, mas que construa uma cultura pacífica, porém jamais passiva.

Aliás, já notou que a passividade, via de regra, é uma grande inimiga do pacifismo? Isso porque a atitude passiva é justamente aquela que transfere a responsabilidade de mudança da realidade para o outro, para o próximo... (para Deus, o vizinho, o Estado, a polícia...).



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segunda-feira, 29 de abril de 2013

A Igreja Ortodoxa Autocéfala da Polônia

Sua Beatitude, Arcebispo SAWAS
Metropolita de Varsóvia e de toda Polônia


Quando a Polônia foi restaurada como país independente, no começo da I Guerra Mundial, cerca de quatro milhões de cristãos ortodoxos ficaram incluídos dentro de seus novos limites. A maioria deles estava sob a jurisdição do Patriarcado de Moscou e eram as etnias bielorrussas e ucranianas.

Pouco depois de sua independência, o governo polonês começou a promover a ideia de instituir uma igreja autocéfala, independente de Moscou. Esta posição seria apoiada pelo primeiro Metropolita de Varsóvia George Yoroshevsky, que havia sido recentemente nomeado por Moscou e concedeu certo grau de autonomia aos ortodoxos da Polônia, até que no ano de 1923, foi assassinado por um monge ortodoxo russo que não concordava com seu ponto de vista.

O governo polonês fez chegar, então, a questão ao Patriarcado de Constantinopla que depois de demoradas considerações publicou um documento outorgando o status de Autocefalía à Igreja Ortodoxa da Polônia, em 13 de novembro de 1924. Em 1927, Constantinopla também outorgou ao Metropolita de Varsóvia, o título de “Beatitude.”

O Patriarcado de Moscou considerou esta ação como uma interferência em seus assuntos internos e se recusou a reconhecer o status de Autocefalía dado à Igreja da Polônia.

Durante o período compreendido entre as duas Guerra Mundiais, houve certas tensões internas na Igreja da Polônia pois todos os seus bispos eram russos e 70% de seus fiéis ucranianos. Os bispos russos rejeitaram as nomeações de novos bispos ucranianos e do uso de sua língua nas liturgias, adotando ainda algumas medidas destinadas a satisfazer muitas daquelas aspirações. Durante este período havia cinco dioceses, dois seminários (em Vilnius e em Krzemieniec) com cerca de quinhentos estudantes, uma Faculdade Ortodoxa de Teologia em Varsóvia com cerca de cento e cinquenta estudantes, 1.624 paróquias e dezesseis Mosteiros.

Durante os anos 30 produziram-se desafortunados incidentes entre as Igrejas Católico-romana e Ortodoxa da Polônia. O Metropolita Dionísios de Varsóvia, protestou formalmente pelos incidentes anti-ortodoxos, sustentando que muitos de seus sacerdotes foram forçados a rezar em polonês, que muitas de suas igrejas haviam sido forçadas a fechar e que outras tantas haviam sido destruídas. Alem de tudo isso, denunciou que se estava exercendo pressão sobre os fieis ortodoxos para que se convertessem ao catolicismo. O próprio Metropolita católico-ucraníno, mons. Sheptytsky, corroborou aquelas acusações e somou sua voz àquela dos ortodoxos. Este fato ficou plasmado em uma carta pastoral dirigida a seus fieis.

Quando o Leste da Polônia foi anexado à União Soviética em 1939, a maioria dos ortodoxos poloneses foram reintegrados ao Patriarcado de Moscou, de modo que a Igreja Ortodoxa da Polônia se viu reduzida significativamente em tamanho.

Em 1948, quando os comunistas tomaram o governo da Polônia, o metropolita de Varsóvia foi deposto por causa de sua oposição ao novo regime. Neste mesmo ano o Patriarcado de Moscou declarou que a declaração de Autocefalía outorgada pelo Patriarcado de Constantinopla era nula e inválida. Como resposta, o Santo Sínodo da Igreja da Polônia decretou sua própria Autocefalía. Não obstante, a título de Metropolita de Varsóvia ficaria vacante até 1951 quando os bispos poloneses requereram ao Patriarca de Moscou a nomeação de um novo Metropolita. Foi nomeado então para o cargo o arcebispo MAKARY OKSANIUK de Lviv, Ucrânia, que havia presidido a dissolução da Igreja Católico-ucraína em 1946 e 1947. Desde aquele tempo, a Igreja Ortodoxa da Polônia, continua tendo uma estreita relação com o Patriarcado de Moscou.

A Igreja da Polônia tem em sua jurisdição três pequenos mosteiros ortodoxos, situados em Jableczma, Suprasl (próximo de Bialystock) e em Monte Grabarka. O primeiro deles se converteu em um centro de disputas entre católicos-romanos e ortodoxos na Polônia. Fundado no final do século XV, o mosteiro já havia sido católico-latino, ortodoxo e greco-católico. Em 1944, parte do complexo foi entregue aos ortodoxos como mosteiro, e em setembro de 1993, o conselho Polonês de Ministros decidiu pela total posse do edifício à Igreja Ortodoxa.

A transferência de propriedade foi causa de protestos das igrejas latina e greco-católica. Finalmente, em 1996, o governo polonês reafirmou sua decisão de doar a totalidade do complexo à Igreja Ortodoxa da Polônia.

Nos anos mais recentes a Igreja Ortodoxa da Polônia começou a assumir feições polonesas, assumindo a cultura e o idioma local, passando a usar o vernáculo nas liturgias. A Igreja da Polônia possui quatro publicações (jornais/periódicos) e está cada vez mais engajada nos trabalhos sociais e filantrópicos.

Conta atualmente com seis dioceses, e quatrocentos e dez templos com duzentas e cinquenta paróquias que são atendidas por duzentos e cinquenta e nove sacerdotes e diáconos. O Seminário Ortodoxo em Varsóvia tem oitenta estudantes e existe uma Faculdade de Teologia na Academia Teológica Cristã na mesma cidade, com trinta e cinco estudantes universitários.

Fonte: http://www.ecclesia.com.br/igreja_ortodoxa/polonia.html

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domingo, 28 de abril de 2013

O Cordão de Oração Ortodoxo e o Terço Mariano



Há pouco tempo um certo religioso veio me afirmar, em tom condenatório, que o uso do terço mariano era "idolatria" por parte dos católicos, como que tentando associar o uso do terço a um suposto animismo primitivo, ou em suas palavras, um "culto aos mortos, rezas...", dando a entender, inclusive, que em algum lugar da própria Bíblia haveria uma condenação explicita ao uso do terço ou qualquer outro meio similar de oração.

Ora, sendo isso verdade, ao usar o Sagrado Cordão de Oração Ortodoxo diariamente e coordenar três grupos do Terço Mariano pelas Famílias estaria duplamente errado. Fui então pesquisar a origem destes dois objetos há tanto tempo utilizado pelos cristãos em suas orações.

O terço é, como o nome já diz, a terça parte do rosário. A  oração do rosário - a palavra significa "coroa de rosas" - tem sua origem na Europa Ocidental entre o fim do século VII e início do VIII aos pés dos mosteiros e é um movimento, desde sua gênese, leigo. Os fiéis, naquela época em sua grande maioria analfabetos, viam a prática dos monges que em suas orações diárias recitavam cento e cinquenta salmos e desejavam imita-los em sua prática de fé. Substituindo os salmos pela recitação repetida do Pai Nosso, também por cento e cinquenta vezes e, com o passar do tempo, acrescentando outros elementos como louvores a Jesus Cristo e, a partir do fortalecimento da veneração à Maria de Nazaré no século XI, a Ave-Maria. Estavam ajuntados os elementos básicos que compunham o rosário como até hoje ele é conhecido.

Foi no ano de 1365 que se estabeleceu que, para cada Pai Nosso recitado, uma dezena de Ave-Marias e, a partir de 1500, ao final destas orações, foi acrescentada a leitura de uma passagem específica das vidas de Jesus ou Maria citadas no Novo Testamento. Cada uma destas passagens é chamada de "mistério". Os mistérios são chamados de Gozosos ou de Alegria, Luminosos ou da Luz (introduzidos pelo Papa João Paulo II em 2002), Dolorosos ou da Dor e, Gloriosos ou da Glória (o evangelista mais citado é Lucas, que aparece em oito dos vinte mistérios).

O terço é, por isso, um chamado à meditação por excelência. Valendo-se de trechos significativos das Sagradas Escrituras, sua prática diária conduz o fiel a pensar o verdadeiro sentido da família, do amor ao próximo, do sacrifício e do verdadeiro sentido da maternidade.


O Sagrado Cordão de Orações Ortodoxo - O melhor texto encontrado para explicar a origem e o significado do Sagrado Cordão de Orações foi encontrado no blog "O Cetro Real" (http://cetroreal.blogspot.com.br) e que se reproduz aqui em sua íntegra, agradecendo os ensinamentos.

"Há alguns anos atrás, com as bênçãos do Reverendíssimo Padre José, Abade do Santo Monastério de  Xiropotamos  do Monte Athos,  foi reimpresso  em formato livreto um didático artigo  sobre o cordão de oração, quejá  havia sido publicado na "Agioritiki Martiria” , uma revista impressa pelo  Monastério Xiropotamos.

Devido ao fato de que o livro revelou-se muito útil e por causa das necessidades pastorais de todos os irmãos ortodoxos de língua inglesa em todo o mundo, foi sugerido que este folheto deveria ser publicado em Inglês.

Agradecemos ao Reverendíssimo Padre José, Abade do Monasterio Xiropotamos, por sua oferta e por seu amor.

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O cordão de oração não se destina a ser utilizado apenas pelos monges, mas também pode ser usado por leigos e, em geral, por qualquer pessoa que queira orar a Deus.

O cordão de oração não é uma espécie de amuleto mágico. Pelo contrário, é um objeto ortodoxo e santo usado apenas para orar e nada mais.

Usamos o cordão de oração, a fim de orar secretamente.

Neste ponto, temos de constatar algo muito importante: existem muitos livros que se referem à oração.

Há duas maneiras pelas quais podemos orar usando o cordão de oração:

    1 - A qualquer hora do dia, quando temos tempo livre, sem ser vistos por qualquer pessoa, secretamente, seguramos  o cordão de oração com a mão e dedilhamos de nó a nó com o nosso polegar , da direita para esquerda ou o contrário, sussurrando simultaneamente ou meditando  a oração : "Senhor Jesus Cristo tem misericórdia de mim " ou " Santíssima Mãe de Deus salva-nos".
   
2 -No momento da nossa oração regular, quando oramos seguindo a regra de oração que nosso pai espiritual nos disse para seguir, seguramos  o cordão de oração com a mão esquerda entre o polegar e o dedo indicador e dedilhamos nó a nó.

Em cada toque no nó simultaneamente, fazemos duas coisas:

a) com a mão direita, o sinal da cruz sobre nós mesmos;

b)  dizemos  a oração: "Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim".

Quando terminamos todos os nós do cordão de oração, nós continuamos seguindo o mesmo procedimento, por tantas vezes quanto nosso pai espiritual nos disse para  fazer.

Esperamos que todos os nossos irmãos e irmãs em Cristo sejam ajudados por este pequeno livreto, que é o resultado da experiência de um monge anônimo do Sagrado Monte Athos.

Esperamos, também, que todos usem o cordão de oração na forma como os nossos Santos Padres nos ensinaram, mesmo aqueles que vivem em uma cidade e não em um mosteiro.

-Thessaloniki, Grécia, Arquimandrita José + + +"

sábado, 27 de abril de 2013

A Síntese do Cristianismo


Hoje, em uma visita ao facebook, vi postada uma imagem que, para mim, é a síntese do cristianismo... notadamente nos dias atuais, onde aumenta cada dia mais o número de pessoas que sofrem de algum tipo de distúrbio emocional, principalmente a depressão.

Nela você vê o que está em cima pedindo algum dinheiro para puxar quem está em baixo?Lembremo-nos dos ensinamentos de Cristo: "Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebeste, de graça dai. Não possuais ouro, nem prata, nem cobre em vossos cintos. Nem alforges para o caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordão; porque digno é o operário do seu alimento. E, em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela seja digno, e hospedai-vos aí, até que vos retireis. E, quando entrardes naquela casa, saudai-a." (Mateus 10: 18-12).

Logo, o que podemos concluir tanto da imagem quanto dos ensinamentos do Cristo é que Deus não quer o nosso dinheiro, mas nossa solidariedade e nossa compaixão para com o próximo... quem pede o dinheiro do fiel para comprar casas caras, carros luxuosos, estações e rádio e TV, editoras de jornais e revistas são estelionatários que, usando o nome de Deus, aproveitam-se da fé das pessoas.





Por falar em solidariedade, quero compartilhar aqui uma ideia trazida do Uruguai por uma amiga minha. Chama-se "café pendente" e acontece da seguinte maneira: todas as vezes que você entrar em um café ou padaria e tomar um ou dois lanches, um cafezinho que seja, deixe um outro café pago em favor de alguém que não puder pagar por ele, mas que necessite de alguma bebida quente para espantar o frio; se deixar um lanche simples pago ou uma sopa, tanto melhor!

É um ato de solidariedade anônima que, se para ti não fará tanta diferença, para outra pessoa servirá como alívio contra o frio ou até mesmo contra a fome. Eis uma forma de fazer valer o que nos ensina o Cristo: "Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto ao vosso Pai, que está no céus. Quando, pois, deres esmolas, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita," (Mateus 6: 1-3).


Se para a pessoa que receber gratuitamente a tua doação anônima, o café ou o lanche, aquilo for um alívio para o corpo, tenha certeza que, para ti, será um bálsamo para a alma.

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

quarta-feira, 24 de abril de 2013

ASSIM SOMOS ... (a reflexão da pérolas)


Por Dom Ioannis de Santa Catarina,
líder da Igreja Cristã Ortodoxa Ocidental no Brasil

"Uma ostra que não foi ferida não produz pérolas."

... Pérolas são produtos da dor; resultados da entrada de uma substância estranha ou indesejável no interior da ostra, como um parasita ou grão de areia.

Na parte interna da concha é encontrada uma substância lustrosa chamada nácar.

Quando um grão de areia a penetra, ás células do nácar começam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas, para proteger o corpo indefeso da ostra.

Como resultado, uma linda pérola vai se formando. Uma ostra que não foi ferida, de modo algum produz pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada.

O mesmo pode acontecer conosco.

Se você já sentiu ferido pelas palavras rudes de alguém?
Já foi acusado de ter dito coisas que não disse?
Suas idéias já foram rejeitadas ou mal interpretadas?
Você já sofreu o duro golpe do preconceito?
Já recebeu o troco da indiferença?

Então, produza uma pérola ! Cubra suas mágoas com várias camadas de AMOR.

Infelizmente, são poucas as pessoas que se interessam por esse tipo de movimento. A maioria aprende apenas a cultivar ressentimentos, mágoas, deixando as feridas abertas e alimentando-as com vários tipos de sentimentos pequenos e, portanto, não permitindo que cicatrizem.

Assim, na prática, o que vemos são muitas "Ostras Vazias", não porque não tenham sido feridas, mas porque não souberam perdoar, compreender e transformar a dor em amor.
Um sorriso, um olhar, um gesto, na maioria das vezes, vale mais do que mil palavras!

Depois destas belas palavras, fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

Os três amigos de um condenado - uma parábola da Igreja Ortodoxa



Um certo homem tinha três amigos. Dois desses amigos ele amava muito. Ele sacrificaria tudo por tais amizades. Ele ficaria acordado a noite toda apenas para agradá-los. Ele, literalmente os adorava.

Para o primeiro amigo ele trabalharia dia e noite. Ele tinha um amor tão grande por ele que em razão de sua devoção, muitas vezes nem sequer ter tempo para comer ele tinha.

Mas ele também era louco por seu segundo amigo. Quando abriu a carteira podia-se ver as fotografias deste amigo. Quando ele encontrava esse amigo, dava pulos de alegria. Ele apreciava de fato passar tempo com ele.

Ele contudo tinha ainda um terceiro amigo. Mas este terceiro ele não amava. Vez ou outra ele lembrava de o visitar, mas muito raramente pensava nele ou buscava fazer algo por ele. Seu interesse de fato centrava-se nos dois primeiros amigos.

Um dia contudo, ele recebeu uma má notícia, que o fez entrar em pânico.

Certa noite, enquanto dormia, foi acordado por uma batida forte na porta. Ele se levantou e encontrou um policial na porta com uma intimação.

"O que é isso?" Perguntou, incrédulo.

"Esta é uma intimação, convocando você a participar de uma audiência judicial. Você é um suspeito." Disse o visitante noturno.

"Eu ? Suspeito? O que fiz?" Perguntou, apavorado!

"Eu não sei. Tudo o que sei é que você está sendo acusado de um crime. Basta assinar a intimação, por favor, não posso esperar mais. Devo visitar outros como você, os intimando para o tribunal.E após isso, o policial deixou a intimação e foi embora.

O homem,agora um suspeito intimado pela justiça, foi deixado para trás, petrificado. Ele estava realmente preocupado, perplexo. O que aconteceria com ele?

Ele desde já começou a pensar em encontrar algumas testemunhas em seu favor, para ajudá-lo a provar sua inocência e evitar qualquer condenação. Mas quais seriam essas pessoas?

"Eu tenho sim, dois bons amigos. Eu os amo muito. Se eles não me ajudarem agora neste momento, o mais difícil da minha existência, quando eles poderiam me ajudar, provando assim a sua amizade? Eu devo ir encontrá-los imediatamente". Pensou o desesperado homem.

Logo pela manhã, ele foi a casa do primeiro dos seus dois grandes amigos.

Enquanto caminhava a porta de seu primeiro amigo, ele imaginava já com algum alívio o quão feliz seu amigo ficaria em o receber e o quanto ele poderia lhe ajudar.

Ao ser recebido, já na porta ele desabafou : "Meu amigo,você sabe o quanto eu me importo com você, por já ha tantos anos o quanto me sacrifico por ti, quantas noites eu trabalhei para você alegremente. Então agora eu peço a você, e esta é a primeira vez que lhe peço um favor. Em nome de nossa amizade, por favor venha ao tribunal dizer ao juiz que eu não sou culpado. Diga-lhe que sou inocente. Por favor me ajude."

Enquanto dizia essas coisas, já chorava, mas sua angustia se tornou ainda maior quando percebeu a total indiferença do seu amigo.

Disse então com frieza, o "primeiro amigo" : "Ouça-me. Eu sei que você me amou e fez tudo por mim sempre, mas neste momento não posso ir a tribunal. Eu tenho uma importante viagem de negócios... Mas eu percebo que você está mal vestido, com roupas velhas, e isso não vai lhe ajudar no tribunal. Então, o que posso lhe oferecer é um belo e caro terno, para você fazer uma boa figura , ao menos na aparência, no tribunal, perante o juiz."

O pobre e angustiado homem se enervou : "Um terno caro, meu amigo? Eu não preciso de roupas. Eu quero seu apoio, pessoalmente comigo diante do juiz, como minha testemunha. Você não pode fazer isso por mim? Você não se lembra o tempo todo que passamos juntos, de toda a nossa grande amizade?"

Seu primeiro e grande amigo mudou então da frieza para uma já notória rispidez, e indicou que a partir daquele instante a presença do "suspeito intimado" já não era mais bem vinda na sua casa, e então aquela amizade foi oficialmente encerrada.

O pobre homem, arrasado, ainda tinha o seu segundo grande amigo, e ele não esperou um outro momento para o procurar. Correu em direção a sua casa.

"Quem é?" Respondeu o segundo grande amigo com uma voz ríspida, ao ouvir as batidas na porta.

"É o seu bom amigo. Abra por favor, eu tenho que lhe dizer algo muito sério."

Seu amigo abre a porta e fica surpreso com a condição de seu visitante, e pede-lhe que explique o aconteceu, por que esta tão perturbado, tão pálido e em lágrimas. "Oh meu amigo, eu estou em apuros. Estou sendo acusado. Amanhã devo estar no tribunal. Eu sou acusado de um crime e se for considerado culpado , vou ser condenado a morte."

O amigo se mostrou solidário : "O que é isso ? É um absurdo ! Você é uma pessoa boa, como pode ser acusado de algo tão grave? Não , não é possível."

O pobre homem sem conseguir se confortado por tais palavras, atropelou seu segundo grande amigo, clamando ansioso por sua ajuda : "Não, é a mais pura verdade, estou sim sendo acusado. Então eu vim lhe pedir para vir comigo ao tribunal no dia do meu julgamento. Você sabe o quanto de amor eu sempre tive por você ao longo de todos esses anos... Por favor, venha comigo para testemunhar em meu nome e provar minha inocência. Meu outro grande amigo me abandonou. Não me mande embora de mãos vazias. Por favor, me ajude ..."

O segundo grande amigo, consternado, perguntou, prestativo : "Quando você quer que eu vá?"

"Amanhã". Respondeu o aflito homem.

"Oh, isso é lamentável, mas amanhã eu não posso, pois estou mesmo muito ocupado. A única coisa que posso fazer é ir com você até a porta do tribunal. Depois eu lamentavelmente não vou poder lhe acompanhar. Olha, eu sinto muito por sua situação, de o ver nesta condição, vou realmente ficar muito triste se você for considerado culpado. Mas eu não sei o que te dizer, mas eu não posso te ajudar mais do que isso. "

O homem então se enfurece : "Eu não estou procurando companhia para me acompanhar ao tribunal", estou à procura de testemunhas para me ajudar a me salvar!"

O segundo grande amigo, triste e um pouco constrangido, diz , já tentando dar fim a constrangedora conversa : "Eu entendo sua angustia,mas simplesmente não posso. Desculpe ..."

O pobre homem se vê perdido. Seu mundo caiu, suas seguranças se foram. Então, já totalmente desesperado, ele pensa naquele terceiro amigo. Ele pensa, duas, três, cinco vezes, temendo por mais uma resposta evasiva ou mesmo francamente negativa deste terceiro amigo. Ele pensa : "Se a esses dois a quem tanto amei e me dediquei, nada recebi, o que posso esperar deste ao qual fui sempre tão negligente e seco?"

Ainda assim, não tendo mais a quem recorrer, ele decide arriscar!

Quando chegou à casa de seu terceiro amigo, ele bateu na porta com o coração aflito.

"Quem é?" Respondeu o amigo com uma voz bastante amigável.

"Sou eu", respondeu o aflito homem com uma voz trêmula. "Abra a porta para mim por favor. Estou em apuros ..."

Com muita alegria e polidez seu amigo abriu a porta: "Bem-vindo! Por favor, entre ! Como você está? Como está tudo? Você parece chateado. O que está acontecendo com você? Talvez eu possa ajudar."

"Meu amigo", disse o visitante com muito embaraço : "Tenho vergonha de mesmo olhar para você. Eu sei que eu não tenho sido um bom amigo, que se comparado ao amor que dediquei a outros dois amigos eu mesmo não poderia assim lhe considerar.... Mas agora, só você pode me ajudar! Eu sei que eu não sou digno de seu amor e eu realmente vou entender se você me negar ajuda, mas..."

Seu terceiro amigo logo o interrompeu : "Bobagem! Não seja tímido. Não tenha medo. Vamos enfrentar seja o que for juntos. Eu não vou deixar você, e eu tenho certeza que posso convencê-los de sua inocência. Então não se preocupe. Vamos. Você pode contar que vou apresentar provas em seu favor no tribunal, diante do juiz ... "

Todos nós podemos imaginar os sentimentos do homem quando recebeu tal resoluto e incontestável apoio deste terceiro e negligenciado amigo. De onde menos esperava, ele encontrou compreensão e amor. Seu terceiro amigo então realmente o acompanhou no dia seguinte ao tribunal, e seu auxílio foi fundamental, para provar sua inocência.

Conclusão :

Mesmo que esta não seja uma das parábolas de Jesus, ela é, ainda assim, cheia de sabedoria, própria das características de plenitude do Espírito Santo, advinda dos santos da nossa Igreja.

Então vamos observar os significados por trás das diferentes pessoas e os detalhes desta parábola.

O homem da nossa história é o homem comum, eu , você, todos nós.

Todos nós temos três amigos.

Em geral, o único amigo que as pessoas adoram sem pensar duas vezes em que sacrifício fazer para o agradar é o dinheiro.

As pessoas trabalham duro para ter o quanto mais dinheiro lhes for possível. Muitas vezes não vão à igreja aos domingos para conseguir ganhar mais dinheiro. Trabalham horas extras, mesmo à noite. As vezes roubam, mentem, e trapaceiam , tudo para ganhar mais dinheiro, ou mais rapidamente.

O segundo amigo são os parentes : Mães, pais, irmãos, irmãs, tios e conhecidos.

Vemos que o homem comum, um dia vai ouvir uma batida na porta de sua alma. Um visitante sobrenatural virá o chamar para trazer um aviso prévio.

O visitante é a morte.

Nenhum de nós será capaz de escapar da morte. Ela virá chamar um dia, inesperadamente. Talvez quando ainda jovens, talvez, quando mais velhos, mas uma coisa é certa : Cedo ou tarde a morte virá nos chamar para comparecer ao tribunal de Deus como réus.

O que faz o primeiro amigo? Ele oferece ao homem um terno caro.

Veja, este amigo, como dissemos anteriormente, é a riqueza material, o dinheiro.

Não importa o que você tem de riqueza material, você só vai levar, no máximo, um terno para o seu funeral.

E o segundo amigo? Ele se ofereceu a caminhar com o réu até a porta do tribunal, mas antes de entrar ele terá que seguir seu caminho.

Este amigo são os nossos parentes: Não importa o quanto nossos parentes nos amem e o quanto os amemos. Eles só vão nos acompanhar até o cemitério. E vão nos deixar lá, e mais ou menos tristes, vão voltar para suas vidas cotidianas.

Muito bem, mas qual é o terceiro amigo?

O terceiro amigo são as nossas boas obras.

São as boas obras que realizamos durante a vida que vão viajar conosco para a outra vida e vão ser elas o nosso socorro diante do trono do juízo de Deus.

Logo, não devemos deixar passar um dia , sem dar a oportunidade ao nosso Anjo, para que ele possa gravar alguma boa ação em nosso livro da Vida.

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +



terça-feira, 23 de abril de 2013

A fé como mercadoria, Deus como mercador de Graças


Tomei contato recentemente com uma pessoa interessante... esta pessoa tentava me mostrar que "a fé deve tomar outros rumos", associando este a outro argumento que dizia que as "religiões tradicionais - notadamente a Igreja Católica de Roma - andam perdendo adeptos porque são sem graça e vão acabar extintas". Em contraposição a esta visão profética, ele tentava demonstrar "empiricamente" o sucesso de outras denominações religiosas que construíam enormes templos, com capacidade de alojar até cinco mil pessoas e que conseguiam comprar redes de televisão, rádio e jornal; que seus sacerdotes viviam bem, com apartamentos e carros caros...

Mas esta é a real medida de sucesso na atividade apostólica?! O volume das contas bancárias, a suntuosidade dos templos, a quantidade de almas desamparadas e desesperadas arrebanhadas a depositar suas esperanças no volume de dinheiro que jogam nas bolsas dos dizimistas, querendo comprar alento aos seus problemas?!

O Evangelho está repleto de trechos que contradizem estes comportamentos, tanto por parte dos "sacerdotes" que mercantilizam as Graças de Deus quanto por parte de fiéis que, mesmo em desespero, despejam - não raramente - fortunas nos cofres destas agremiações religiosas querendo comprar uma consciência tranquila.

Um dos trechos mais contundentes a contradizer estas práticas por parte destes ditos líderes está em Mateus (6, 19:21; 24) "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também vosso coração (...) Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamon".

A pergunta que segue, portanto, é evidente e provocativa: A quem servem estes mercadores da fé? A quem eles mais se dedicam, a Deus - acalentando o sofrimento dos mais necessitados, matando-lhes a fome, o frio, a sede e vestindo-os... em todos os sentidos - ou ao dinheiro arrecadado no dízimo para financiar roupas, casas e carros cada vez mais caros?!

O próprio Cristo, mais adiante (Mateus 19: 16-21) aconselhou aos que querem segui-lo: "E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E Ele disse-lhe: Por que me chamas de bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: tudo isso tenho guardado desde minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe então Jesus: Se queres me seguir, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu".

Por outro lado Lucas relata o encontro do Cristo com Zaqueu, que arrependido de suas práticas usurpadoras como coletor de impostos, após receber Jesus em sua casa e de ter comido com ele, afirma: "Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, os restituo quadruplicado". E o que Jesus responde a Zaqueu? Diz ele: "Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido(Lucas 19: 8-9).

E o que Jesus diz aos que mercantilizam as Graças de Deus, então? Isto está bem explícito mais adiante, quando, entrando no Templo, vê várias pessoas comprando e vendendo animais para sacrifício, bênçãos e orações. Diz ele com toda sua energia: "Está escrito: A Minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores". (Lucas 19: 46). Foi sobre este argumento, inclusive, que em 1517 o Padre alemão Martinho Lutero escreveu suas 95 teses, uma das quais denunciando - diretamente - a venda de indulgências por parte de líderes religiosos que enriqueciam às custas do sentimento de culpa das pessoas e financiavam a construção de templos suntuosos, mesmo havendo tanta miséria humana naquela época, com pessoas padecendo de fome, doenças e frio.

Fica evidente, assim, que a mercantilização da fé e a "compra" do perdão pelos pecados é um engano tanto da parte de quem vende quanto por parte de quem compra, constituindo uma fraude, uma adulteração grosseira aos ensinamentos do Cristo, que avisa enfaticamente: "Não pode a árvore boa dar maus frutos. Toda árvore que não dá bons fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conheceis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade" (Mateus 7: 18-23)

Procuremos, pois, sermos generosos com quem verdadeiramente precisa de nossos óbulos, não para que fiquemos conhecidos, mas para atender os ensinamentos que estão no Evangelho de Nosso Senhor; Deus não é mercador de graças e não nos atenderá por financiarmos os luxos daqueles que, amantes do luxo e do poder, usam e distorcem as Escrituras para ficarem cada vez mais ricos enquanto a fome, a sede e o frio moram na calçada de suas casas.

Fiquemos todos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

sábado, 20 de abril de 2013

Ah... se todos entendessem...


PASTORAL DA EDUCAÇÃO




A capela da Sagrada Família já iniciou seu trabalho de coleta de donativos para a campanha da Pastoral da Educação de 2013.

São aceitas doações em material escolar básico e livros didáticos, usados ou não, para a distribuição que acontecerá nos meses de julho e janeiro.

As crianças atendidas são membros de famílias muito carentes das comunidades de São Gabriel e Formosa, no entorno goiano do Distrito Federal.

Esperamos que este pedido toque vossos corações e que nossas crianças possam estudar e, através do conhecimento, livrarem-se das condições difíceis nas quais se encontram atualmente.

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Jesus sem milagres?

A partir do Iluminismo, a fé  e as instituições religiosas têm sofrido cada vez mais ataques por uma corrente de pensamento que se autoproclama "humanista", que procura empirismo em cada milímetro do saber humano - inclusive no mais recôndito dos pensamentos metafísicos - e nada escapa ao seu desejo de tudo mensurar, tudo materializar, tudo esquadrinhar.

Obviamente que os avanços da ciência em muito têm contribuído para o bem-estar da humanidade, quer seja no particular quer seja no geral e, evidentemente, o uso da razão aplicada aos eventos cotidianos humanos - seu fazer secular - é muito bem-vindo. Nossa vida contemporânea seria inimaginável sem as facilidades das quais dispomos (somente temos este canal de comunicação porque alguém criou uma máquina capaz de enviar e receber mensagens codificadas que, reorganizadas, recriam a mensagem original); não nos transportamos mais com carroças; nos alimentamos melhor graças à engenharia e o melhoramento genético; dormimos melhor porque nossas camas não são mais de palha e madeira bruta... enfim, negar o valor da ciência é negar a genialidade humana.

No entanto, na ânsia de comprovar tamanha genialidade, muitos se perdem em críticas a setores deste mesmo "fazer humano" que escapam ao controle da ciência e dizem respeito à cada indivíduo em particular, sua intimidade, suas particularidades e crenças. É evidente que, antes disso, os próprios homens de fé também procuraram escamotear o avanço tecnológico e científico dizendo que, se tais descobertas não estavam incluídas ou previstas nesta ou naquela determinada escritura sagrada não podia ser considerado apropriado para o uso das vidas humanas.

De parte a parte, ambos exageraram - muito mesmo! - em suas análises e também em seus preconceitos. Nem a ciência criou a danação completa da humanidade, muito menos a fé das pessoas deixou de ter valor real em suas vidas, mesmo que uma derivada ou a mecânica quântica não sejam capazes de demonstrar a existência de Deus.

Um desses movimentos tenta pôr em xeque todos os milagres de Jesus alegando que nenhum deles pode ser comprovado sob as lentes e crivos da ciência; que nenhum deles têm correlação com qualquer evento natural ou social encontrado da historiografia; que os eventos relatados no Evangelho sequer contam com testemunhos confiáveis ou comprováveis... enfim, que aos olhos da ciência, Jesus pode até mesmo nem ter existido. A resposte que se pode dar a isso tudo é.... TUDO BEM!  Aos olhos da ciência tudo isso está mais do que correto, mas assim como não se pode medir a teoria das cordas pela fé em Tupã, também  o cristianismo não pode ser medido pelos olhos da termodinâmica, do positivismo ou do materialismo histórico!

Mas, mesmo que tiremos de Jesus todos os seus milagres, mesmo que o materializemos ao extremo, mesmo que sua existência seja humanizada ao extremo... seus exemplos ainda sobreviverão, mesmo que deixe de andar sobre as águas, dividir pão e peixe para uma multidão faminta, mesmo que não tenha transformado água em vinho, enchido as redes de Simão Pedro de peixes, secado uma figueira... mesmo assim, demonstrar que todas as crianças merecem carinho, acolhida e respeito; que uma mulher humilde que divide seu pouco dá mais do que ricos que abrem mão do que não precisam apenas para que seus nomes sejam exortados; que a palavra empenhada deve ser mantida; que um sacerdote deve ser humilde em seus trajes e maneiras, levando consolo a quem necessita; que não se mercantiliza a palavra de Deus; que pedir perdão pelos erros cometidos é um ato de extrema grandeza de caráter, ao contrário do que dizia o senso comum da época, revela que sua existência serviu para construir um senso de moral e ética que, antes de qualquer outra, consolidou valores dispersos e criou muito mais que uma religião... criou uma civilização.

Creio que é isso... Cristo não é um milagreiro, mas um civilizador.

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +