domingo, 19 de maio de 2013

Apresentação da Santíssima Mãe de DEUS ao Templo


Palestra catequética proferida por D. Chrisóstomo,
Arcebispo da Eparquia Ortodoxa do Brasil, 
jurisdição da Igreja Ortodoxa Autocéfala da Polônia,
em 20/11/2011



Esta festa comemora a entrega da Santíssima Virgem Maria ao templo. Segundo a tradição da Igreja ela era uma menina de três anos de idade. E essa menina era o resultado de uma súplica e uma promessa feita pelos pais. Todas as pessoas que querem ter um filho, quando não conseguem - há mulheres que têm dificuldade de engravidar e homens que têm dificuldade de fecundar - fica uma frustração. A pessoa quer ser pai, quer ser mãe, e não consegue, fica uma frustração. Vocês imaginem que, além disso, tanto o pai quanto a mãe da Santíssima Virgem, Joaquim e Ana, viviam numa sociedade em que esta situação acarretava uma vergonha social, porque eles eram judeus.

O povo judeu foi constituído por Deus, por Iahweh no deserto, e o mandamento que existe desde o livro do Gênesis, 'crescei e multiplicai-vos', era uma regra dentro do povo judeu. Quer dizer, toda vez que uma mulher paria uma criança, ela estava fazendo crescer o povo de Deus, e era sinal claro que Deus a abençoou. Porque aquela mulher frutificou. Vejam a situação de Joaquim e Ana, a vida inteira querendo ter um filho e não conseguindo.

Além da frustração pessoal, além da maternidade e a paternidade frustradas, havia a vergonha perante os outros, e esta culpa: "Deus não me faz frutificar".

Quando fomos a Jerusalém vimos o mosteiro Chozebita (chozeba significa o silêncio), mas não pudemos entrar, pois não aceitavam visitação. O mosteiro que foi construído a partir da gruta em que, diz a tradição, Joaquim se recolheu por quarenta dias, em jejum e oração, pedindo a Deus que lhe desse um filho. (Ainda segundo a tradição, ela seria a mesma gruta em que Elias foi alimentado pelos corvos). É nessa gruta que Joaquim faz uma promessa. Se Deus lhe desse um filho, ele o entregaria ao Templo.

Após a promessa, Santa Ana engravida e dá à luz uma menina. Mas para cumprir a promessa é preciso esperar a criança ganhar uma pequena autonomia. Aos três anos ela é entregue ao Templo. Esta é a Festa que comemoramos.

A primeira coisa a ressaltar é que existe uma esterilidade, e isto tem a ver conosco. De certa forma, todos nós corremos o risco de estarmos espiritualmente estéreis. Qual de nós está conseguindo frutificar ou produzir algo espiritual diante de Deus? Pelo ponto de vista da santificação e pelo ponto de vista espiritual, fechados em nós mesmos, somos todos eunucos, somos todos estéreis. Mas em uma súplica a Deus, em diálogo com Deus, recorrendo a Deus, o pedido teve resposta e frutificou. Houve um fruto. E este fruto foi entregue a Deus.

Temos de parar para pensar que, se, por um lado, há uma esterilidade em nós. Por outro lado, todos nós somos capazes de frutificar alguma coisa, temos alguma qualidade, temos algum dom, somos capazes de fazer alguma coisa. A questão é o que fazermos com este dom. Isto está completamente relacionado com a história dos talentos. O que eu faço com os dons que tenho. Estes dons servem para mim? Estes dons são meus?

Todo cristão tem de entender que, em última instância, tudo o que temos nos foi dado por Deus. Claro que vem através de alguém, vem através do pai, da mãe, do patrão, do professor, do irmão, do filho; mas em última instância, foi enviado por Deus, Deus permitiu que acontecesse. Se eu tenho algum tipo de inteligência, veio de Deus; se tenho alguma paciência, veio de Deus; se tenho algum tipo de sensibilidade, veio de Deus.

A apresentação da Santíssima Virgem Maria ao Templo é exatamente a percepção (que temos de ter) de que nossas capacidades, nossos dons, de alguma maneira têm de estar disponíveis para o próximo, e pelo próximo. Devem estar, em última instância, disponíveis para Deus. Há de se ter uma entrega.

O terceiro aspecto desta Festa é que há verdadeiramente um encontro, que é uma passagem de um estado para outro. Começa a existir uma passagem da Antiga Aliança para uma Nova Aliança. Deus faz a aliança com um povo no deserto e institui uma série de regras para este povo, que, se fosse fiel a elas, seria multiplicado e abençoado. Este povo seria poderoso na terra e derrotaria todos os que o atacassem e seria exemplo e guia para todas as nações na terra. Uma das regras estabelecidas por Deus para este povo é que construísse um Tabernáculo, uma tenda. E explicou como construí-la.

São dois livros inteiros explicando isto, Números e Levítico. Dizem que material usar, qual o tecido, qual a madeira, qual o metal, quais as pedras. Deus dá o tamanho, a medida, diz os móveis que tem de estar lá dentro, como usar, o quê fazer, qual a utilidade desta tenda. Esta tenda é um ponto de encontro entre Deus e o homem. Ali tinha uma série de rituais que Deus ensinou ao homem e que eles tinham de fazer. Ritual para tudo. Para perdoar os pecados, para se purificar depois da menstruação, para selar uma aliança, um negócio, um casamento, um divórcio, uma reconciliação de um casal.

Tinha ritual para tudo. E, dependendo do ritual, tinha de se sacrificar uma pomba, um carneiro, um boi. Às vezes se oferecia o trigo ou a farinha. Tudo isto está explicado e se encontra em Números e em Levítico.

Quando este povo recebe a promessa de Deus de ocupar uma terra, a terra que emana leite e mel, esse povo achou que esse negócio de carregar uma tenda nas costas estava muito “chato”. “Vamos botar Deus sossegadinho num canto”. Então construíram um Templo. E Deus permitiu, Deus abençoou, abençoou Salomão, e Salomão vai construir um Templo magnífico, uma coisa maravilhosa para a época. É neste Templo que a Santíssima Virgem Maria será entregue.

Mas na verdade, quando Deus fez uma aliança com o povo no deserto, no plano de Deus, o que Deus queria era justamente o diálogo. O face a face, a cooperação, e a participação do homem no plano divino. Esta é a idéia. O homem não foi criado por Deus para viver sozinho. O homem é um ser social, o homem precisa do próximo. O homem foi criado para o diálogo, e o diálogo mais sublime do homem é justamente com seu Criador.

A idéia que rege toda a Sagrada Escritura é justamente esta: o diálogo entre o Criador e Sua criatura, entre Deus e o homem. E o ponto culminante deste diálogo seria no Templo. A entrada da Santíssima Virgem Maria neste Templo é o início de uma transformação deste próprio Templo, conseqüentemente deste diálogo. Este Templo que estava institucionalizado, que tinha um conteúdo simbólico enorme - pois todos os judeus, que estavam espalhados pelo mundo, tinham por objetivo de vida ir, pelo menos uma única vez, a Jerusalém para sacrificar no Templo - era algo de importantíssimo na vida de um judeu.

A Santíssima Virgem Maria é entregue a este Templo e dele sai com a idade de catorze anos. Sabe-se que a saída foi na primeira menstruação dela, pois a Lei não permita mulheres em seu período menstrual ao interior do Templo. Então com o advento da menarca ela teve de sair, mas os pais já tinham morrido, pois eram bem velhinhos. É assim que quando esta menina é entregue ao Templo, começa a haver uma ultrapassagem nesta Aliança. Ela dá um avanço. Ela dá um salto de qualidade.

Até então, este Deus, que dialoga com o povo no deserto, era um Deus de mistério. Ele não tinha rosto. Ele era invisível. Não tinha nome. Quando Ele explicou algo de Si próprio disse "Eu sou Aquele que É". E o mistério era tão forte para os judeus que eles sequer mencionavam o Nome de Deus. Iahweh são as iniciais desta frase, "Aquele que É". Não falavam o Nome, era o próprio Mistério. A única certeza que se tinha era que, uma vez por ano, quando o sacerdote entra-se no santuário para queimar o incenso, neste momento, Iahweh estaria ali. Através dos Querubins, espiritualmente...não se sabia como, mas Deus estaria ali naquele momento, essa era a que o judeu tinha.

Mas no Plano de Deus, Deus quer a intimidade, quer o diálogo, quer o contato com o homem. E aí entra a Santíssima Virgem Maria nessa estória, aquela que vai ser, mais adiante, mais tarde -- na próxima festa que vamos celebrar --, a escolhida para Deus encarnar. Aquele Deus misterioso, Aquele Deus difícil, Aquele Deus terrível, que era o Senhor dos Exércitos vai tornar-Se pequeno, igual aos homens para com eles poder conversar. Mistério sublime!

Na subida de Moisés no Monte Sinai onde ele recebe as Tábuas da Lei, que depois serão guardadas na arca que ficará no Templo, a presença de Deus é descrita como uma espécie de vulcão. Era fogo, fumaça, barulho ensurdecedor, uma coisa tão pavorosa que o povo nem teve coragem de subir. Só Moisés foi homem suficiente para ir lá pra cima. E não foi possível descrever nada. E, quando voltou da montanha, Moisés parecia um sol, todo iluminado. E aquilo nem era Deus em Si, mas só a Glória de Deus.

Este Deus terrível, de um distanciamento profundo do homem, tinha por Plano justamente o encontro. Só Deus podia realizar esta obra. O homem não tem capacidade disto. Lembram-se da história da esterilidade, da nossa incapacidade? Então isso só pode ser obra de Deus. No Plano de Deus, desde Adão e Eva no Paraíso, mesmo que Adão e Eva não fossem expulsos do Paraíso, um dia Deus iria Se manifestar como homem para poder dialogar com o homem, na proximidade e na igualdade de um face a face. E para ser um homem perfeito, Ele tinha de perfeitamente nascer como todos os seres humanos nascem: do ventre de uma mulher. Tinha então de surgir a mulher certa para que Deus encarnasse dela.

Essa mulher foi o fruto de uma promessa. Foi aquela filha que São Joaquim e Santa Ana pediram, e que foi entregue ao Templo como eles prometeram. A menina vai ser educada no Templo. Onde, sendo alimentada pelos anjos, vai aprender o necessário para realizar sua vocação. Todas aquelas regras que Iahweh ensina no deserto para o povo, ela aprende na educação dela no Templo. Ela era, digamos assim, uma perfeita judia. É ela que é escolhida. É dela que Deus encarna. O que nos leva a outro aspecto, que para mim é o mais importante. É o salto de qualidade que se celebra nesta festa, onde o novo Templo é a Igreja, e onde o novo povo de Deus são os cristãos.

Mas o Templo do cristão não é esta casa que vemos aqui. A Igreja não é algo externo. A instituição Igreja é uma ferramenta, um veículo, algo palpável e indispensável para o homem. No entanto, enquanto nave ou arca da salvação e da deificação, ela é antes um meio de se viver a Igreja interior. Na essência, pela Vontade de Deus, pelo Plano de Deus, o novo Templo somos nós. Está nas Epístolas de São Paulo. São Paulo ensina isto: “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (ICo. 6,19). Ele diz que quem prostitui o corpo, prostitui o Templo do Senhor. Ele disse, este corpo não vos pertence é de Deus.

Nosso Senhor em Jerusalém foi acusado, dentre outras coisas, de ter dito que se podia derrubar o Templo, que Ele o reconstruiria em três dias. Ele se referia aos três dias em que desceu aos mortos e ressuscitou. Que, simbolicamente, são os três dias em que deixamos de tomar banho depois do batismo. O Novo Templo, o Templo da Nova Aliança, a plenitude da Revelação é o corpo do homem. E a Santíssima Virgem Maria vai ser a primeira. Ela é a Igreja por causa disto, porque ela terá o Cristo dentro de si em carne e osso.

Mas não é só ela, nós também temos de ter. Se não tivermos o Cristo dentro de nós, não somos nada. Pensamos que somos cristãos e não estamos sendo. Porque para o sermos temos de ter o Cristo dentro de nós. Nós comungamos a carne e o sangue na Eucaristia, este Cristo que comungamos tem de ser real para nós. Todo o meu ser tem de alguma maneira estar entregue a este projeto. E é isto que a Santíssima Virgem realiza. O meu corpo, meu pensamento, meus sentimentos, minha inteligência, todas as capacidades, meus dons, e inclusive os meus defeitos, têm de estar envolvidos neste projeto de construir um Templo, de me encontrar com Deus num Templo. E este encontro se faz aqui dentro, em nosso interior.

Os alunos que estiveram ontem na aula são capazes de entender um pouco melhor do que estamos falando, estamos falando da oração. De alguma maneira o Cristo tem de estar vivo dentro de mim. Não em carne e osso, pois não sou capaz de biologicamente parir nada, muito menos um Cristo, mas espiritualmente sim. E quando, na Igreja, vivo todo este ritual de cantar, de orar, de jejuar, de contemplar os ícones, cheirar o incenso, ouvir a música, me esvaziar interiormente pelo jejum. Depois me aproximar daquele pão e daquele vinho, que se transformaram em carne e sangue, e receber a Eucaristia. Tudo isto são rituais que vão me preparando para ser este Templo. E isto não acontece só durante a Sagrada Liturgia, isto tem de ser um projeto de vida.

A imagem que faço é que a vida em Igreja é mais ou menos como caminhar no deserto, e de vez em quando a gente encontra um oásis. Então encontramos o oásis, matamos a sede, nos alimentamos das tâmaras que lá se encontram, descansamos, repousamos, depois caminhamos até o próximo oásis. O oásis é justamente a Sagrada Liturgia. Aliás, todos os ofícios que fazemos na Igreja: as Vésperas, as Matinas são um oásis. Mas se me alimento num oásis e depois saio de mãos vazias para o próximo oásis, quando lá chegar, vou estar no mesmo estado em que cheguei ao primeiro. Para esta caminhada até o próximo oásis, tenho de ter um farnelzinho, não é? Tenho de levar água e alimento para a viagem, senão chego lá pior do que estava. Este alimento que tenho de levar na viagem é o nosso rosário do dia a dia.

Tem de haver uma ligação da nossa vida durante a semana, em nossas casas, na família e com os amigos, com aquilo que vivemos dentro da Igreja. Ou seja, nossa vida tem de ser litúrgica. E a Igreja, ao longo da nossa vida, vai programar as coordenadas dessa viagem. Não foi ninguém em especial que parou e pensou. Foi a vida da Igreja, os Santos que viveram dentro dela, os homens e mulheres que viveram e que derramaram seu sangue na Igreja, que foram pouco a pouco permitindo a elaboração, digamos assim, de um sistema dinâmico de espiritualidade na realização destas Festas.

Nós temos três festas móveis, que são o Domingo de Ramos, o Pentecostes e a Ascensão, centrados na Páscoa (a décima terceira Festa, a Festa das Festas). E temos nove festas que são fixas. A primeira já foi, a Natividade da Virgem Maria: nasceu e surgiu a Igreja. Surgiu e nasceu o Templo Novo. A segunda é a cruz, a exaltação da Santa Cruz. Pois não existe possibilidade de viver uma vida litúrgica, não existe possibilidade de ter um encontro com Deus em um Templo qualquer, se não for passando pela cruz. Vocês podem ver o exemplo desta menina, da Santíssima Virgem Maria. Ela lá tinha culpa do raio de promessa que o pai e mãe fizeram? Se calhar, se deixasse aquela menina crescer naturalmente, ela iria querer ficar brincando de boneca, ia querer namorar, ir a festas, como toda menina normal. Ou não? Pois nem perguntaram o que ela queria, com três anos a enfiaram dentro de um Templo. Tem crucificação maior do que esta? E vejam bem, ela aceitou a cruz, então aquele dito de Cristo "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc. 9. 23), ela realizou. Não se revoltou, não se rebelou, não tentou fugir do Templo, e quando se viu "livre" do Templo, não disse "oba, agora estou por minha conta!" Não! Ela continuou o projeto do pai e da mãe, e o projeto do Templo.

Ela também não era boba, vamos aqui combinar. Porque a mulher naquela época com um marido era uma situação...A mulher valia meio camelo! Para que serve meio camelo? Para nada. Trocava-se uma mulher por dois camelos. E mulher sem um homem era um problema, era menos do que um cão. A mulher era propriedade do marido. E, se este morresse, ela tinha de casar com o cunhado. Se ela não tivesse irmão, pai, tio, alguém que cuidasse dela, estava perdida. E mais, ela era a serva ‘número um’ da casa. Ela tinha de carregar todo o serviço da casa nas costas. Ela ia querer isso? Depois de tudo o que aprendeu dentro do Templo? Ainda mais, com as profecias que diziam que o Salvador nasceria de uma virgem?

"Ah, quero nada", talvez dissesse ela, "quero lá homem mandando em mim nada". Então: "eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim conforme a tua Palavra". O jeito que houve foi arrumar um ancião para casar com ela, que,além do mais, era primo dela, não por acaso.

Foi feito um acordo para que ela pudesse sair do Templo. Ela teria de ficar sob o abrigo de alguém. Vários homens, vários príncipes, se candidataram a casar com ela, porque ela era também da Casa de Davi. Ela era uma princesa. E ela, junto com os sacerdotes, escolheu José. Feita a escolha, arranjaram o casamento.

Então, vejam a seqüência. Temos a Igreja nascente. Esta Igreja é o local do encontro com Deus. Encontro que não tem como não ser na cruz, porque foi nela que Deus nos trouxe a salvação. Foi pela cruz que Deus desceu aos infernos e ressuscitou. Então, nós temos de passar pela cruz, como a Santíssima Virgem Maria passou. E temos de pensar que, de alguma maneira, também temos de nos entregar. Não mais no Templo e sim enquanto Templo, pois agora o templo é outro.

Há de existir uma crucificação de nossas vidas, de nossos desejos, de nossas vontades, de nossas preferências, e uma tentativa de abrir um espaço interior para reconhecermos Deus dentro de nós. É preciso um esvaziamento para que Ele se faça dentro de nós. Esta é a crucificação. Tem de ser feita para que haja este verdadeiro encontro, que é a festa que vamos celebrar. Só então, o Cristo nasce e se faz dentro de nós.

É um erro, um pecado, uma burrice pensarmos que existe um eu que carrego comigo separado da Igreja que fica lá, ‘plantada’ num certo endereço. E na Igreja tem um padre, tem um bispo, tem uma Heloísa que sabe cantar, tem um Acácio que faz a leitura, um acólito que canta bem... Ou seja, como se a Igreja fosse algo de exterior a mim. Como se o meu ‘eu’ não tivesse nada a ver com isto. Não é assim. Ou você é a Igreja ou você não é nada. Pois tudo isso que acontece lá dentro são apenas imagens, ferramentas, símbolos, rituais daquilo que eu tenho de ser enquanto cristão. Percebe? É por isto que sempre retornamos...

Ritual vem de uma palavra em sânscrito que é 'rita', significa 'ordem'. Nós temos de nos conhecer a nós próprios, nos reconhecermos como filhos de Deus, como ícones de Deus, imagem e semelhança de Deus, para sermos verdadeiramente quem nós somos. E não aquilo que esta cultura inventa, ou que nós inventamos para nós mesmos. Nós, no mundo, vivemos papéis, vamos assumindo máscaras (personas). Vamos assumindo o papel de pai, o papel de mãe, de professor, de filho, de aluno, de jovem, de velho e etc., sem sabermos qual o significado, qual a essência destes papéis que estamos assumindo. Porque, no fundo, no fundo, temos um ser interior, temos uma essência que dá qualidade a todos estes papéis que temos de assumir mesmo.

Não temos nem de assumir todos, pois tem gente que não nasceu para ser pai, tem gente que nasceu para outra coisa. Então temos de conhecer quem verdadeiramente somos, para que esta nossa essência dê significado aos papéis que assumimos. É para isto que estamos na Igreja. É por isto que a Igreja é chamada de hospital, porque ela cura. E de certa forma, esta é a esterilidade espiritual de que falei. Espiritualmente estamos todos doentes, pois não somos exatamente como Deus nos fez. Temos de descobrir isto, quem verdadeiramente somos. É essencialmente para isto que existe Igreja. De certa forma, a Igreja é também uma escola, pois vou aprender sobre mim, sobre Deus e sobre o mundo. Então, de certa forma, a cor do santuário não ficou mal, né? Cor de hospital. [risos.]

Então é isto que é a Igreja. E todo este mistério é celebrado por nós, em aspectos diferentes, em cada uma das festas ao longo do ano. Então, nos próximos dias, parem e pensem nisto. Parem e pensem mesmo. Peguem o rosário de vocês, orem um pouco, e depois fiquem com a idéia fixa ali. Meditar é isto. Tentar fixar uma idéia, parada ali. Não dialogue com ela, não. Pare-a ali, a idéia do encontro. Esta é a idéia, do encontro de vocês com Deus. Da mesma maneira que a Santíssima Virgem foi ao encontro de Deus no Templo, nós também temos de ir. É assim que a gente celebra a Festa da Apresentação da Santíssima Mãe de Deus no Templo.

Transcrito por André
Fonte: http://www.igrejaortodoxadobrasil.org.br/apresentacaocatequese.php

Fiquemos com a paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Como Surgiram os Padres na Igreja de Cristo?



Sacerdotes são membros da sociedade desde o seu nascedouro. Sua função básica tem variado do contato entre o mundo material e etéreo, às curas, ao cuidado com órfãos e velhos e até mesmo com a educação dos mais jovens. É lógico que não foi a Igreja que fundou a função do sacerdócio, nenhum Patriarca os inventou (!), mas através dos seus sacerdotes a Igreja ajudou a construir uma história de dois mil anos e que se espalha ao redor de todo o mundo.

Os padres são os auxiliares dos bispos nas dioceses, paróquias e capelas ao redor de todo o mundo. Os bispos, por sua vez, são os representantes dos Apóstolos de Jesus segundo a sucessão apostólica de cada um desde que estes, seguindo as ordens do Cristo - "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Marcos 16:15) - seguiram até "os confins da Terra" (Atos 1:8) semeando o cristianismo.

Mas você sabe como surgiram os primeiros padres? Onde está, no Novo Testamento, o evento que inaugura este sagrado ofício da Igreja? Houve algum ritual para a ordenação dos primeiros padres?

O livro de Atos dos Apóstolos, escrito pelo Evangelista Lucas, relata: "Então os Doze Apóstolos reuniram a multidão e disseram: 'Não está certo que abandonemos a pregação da palavra de Deus para servirmos às mesas. Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, para que confiemos esta tarefa. Desse modo, nós poderemos dedicar-nos inteiramente à oração e ao serviço da Palavra'. A proposta agradou a toda multidão. Escolheram então Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; e também Filipe, Prócoro, Nicanor, Tímon, Pármenas e Nicolau de Antióquia, um prosélito. Eles foram apresentados aos Apóstolos, que oraram e impuseram as mãos sobre eles" (Atos 6:2-6).

A partir de então os padres têm se espalhado pelo mundo atendendo a quem os procurasse para levar palavras de conforto, bons conselhos, ensinamentos úteis para a vida toda, cuidando da saúde das pessoas, construindo casas, servindo sopa, distribuindo material escolar, ensinando a ler e a escrever, cuidando de órfãos e velhos... fazendo valer a Lei de amor tão defendida pelo Cristo, em todas as suas ações.

Por agirem assim, muitos padres do oriente e do ocidente têm pago em não raros casos com a própria vida, sendo vítimas da intolerância religiosa, de ditaduras ideológicas de direita e de esquerda, atacados em seus princípios e convicções de maneira gratuita e generalizada... mas mesmo assim, continuam fiéis aos seus votos e ao povo que jurou servir.

Se alguns se desviaram do caminho? Eu digo que não. Nenhum padre se desvia do caminho... há casos de alguns que, não sabendo que caminho tomar, se travestem de sacerdotes e se escondem sob as batinas para enganarem o povo e até cometerem crimes, mas estes não são padres, mas criminosos que precisam ser julgados como tal, sem adendos, senões ou auxílios corporativos de quem quer que seja. Caso um crime real seja encoberto, toda a Igreja perde em credibilidade junto aos seus fiéis, ou como diz o próprio Cristo: "Sim, sim; não, não" (Mateus 5:37).



O ofício do padre continua a ser o mesmo: espalhar a mensagem de amor de Jesus até os confins da Terra. Graças a Deus, para nos ajudar, hoje em dia contamos com a internet para isso.

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

terça-feira, 14 de maio de 2013

A Santa Missa ou Sagrada Liturgia Segundo a Fé Ortodoxa




O culto é tão importante para a Ortodoxia, que a me­lhor introdução na Igreja para aquele que não é orto­doxo, é assistir a Divina Liturgia ou a celebração de um dos Sacramentos maio­res. A princípio, a visão pode ser abrumadora, pela música e pelas cerimônias, mas precisa­mente é no culto que verdadeiramente se experimenta seu sabor distintivo, a riqueza de suas tradições e a fé que a sustenta.

"Não sabíamos se estávamos no céu ou na terra, porque certamente não existe nem tal esplendor, nem tal beleza em nenhuma outra parte da terra. Não podemos descrevê-lo, só sabemos que Deus mora ali entre os homens e que seus ofícios ultrapassam o culto de todos os outros lugares...”. Estas foram as palavras dos enviados do príncipe Vladimir de Kiev quando relataram sua experiência ao presenciar a cele­bração da Eucaristia (Santa Missa) na Igreja de Santa Sofia em Constantinopla.

A Santa Eucaristia é a experiência mais antiga e mais distin­tiva do Culto Cristão. A palavra Eucaristia vem do idioma gre­go e quer dizer agradecimento. A Eucaristia tem sua origem na Última Ceia, quando o Senhor Jesus Cristo ensinou os seus discípulos a oferecer pão e vinho em sua memória. É na Euca­ristia que a Igreja se reúne para participar no mistério da Salva­ção, recordando e celebrando a vida, morte e Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.

Na Igreja Ortodoxa, a Eucaristia é chamada também de Di­vina Liturgia. A palavra liturgia significa a obra do povo; esta descrição serve para enfatizar o caráter comunitário da Eucaris­tia. Quando um ortodoxo assiste à Divina Liturgia, não é uma pessoa isolada que vem simplesmente para escutar um sermão, e sim um membro de uma comunidade de fé que participa do objetivo principal da Igreja, que é a adoração à Santíssima Trin­dade. Portanto, a Eucaristia é verdadeiramente o centro da vida da Igreja e o meio principal da espiritualidade, tanto para o cristão como para a comunidade inteira.

A Eucaristia incorpora e expressa a Fé Cristã de modo único e, ademais, envolve e aprofunda nossa fé na Trindade. Este Sa­cramento - Mistério é a experiência para a qual estão dirigidas todas as outras atividades da Igreja e da qual elas recebem sua direção. Este é o principal sacramento da Igreja Ortodoxa; não é tanto um texto para ser estudado, senão uma experiência de co­munhão com o Deus Vivo, na qual oração, música, gestos, arte e arquitetura formam juntos uma completa harmonia. A Eucaristia é a celebração de fé que afeta não somente a mente, senão também as emoções e os sentidos.

Durante séculos, os cristãos viram muitos aspectos na Eu­caristia. Os vários títulos que chegaram a descrever o rito dão testemunho da riqueza do seu significado. A Eucaristia é conhecida como a Santa Oblação, os Santos Mistérios, a Ceia Mística e a Santa Comunhão.

A Igreja Ortodoxa reconhece as muitas facetas da Eucaris­tia, e sabiamente, não enfatiza um elemento em detrimento dos outros. Ao assim fazer, a Ortodoxia claramente evitou reduzir a Eucaristia a uma simples lembrança da ultima ceia, a se observar somente de vez em quando.



Seguindo os ensinamentos da Escritura e da Tradição, a Igreja Ortodoxa crê que o Senhor Jesus Cristo está realmente presente com seu povo pela celebração da Divina Liturgia. Os dons eucarísticos do pão e do vinho se convertem, para nós, em seu Corpo e seu Sangue, afirmando-se assim que estes San­tos Dons estão transfigurados nos primeiros frutos da nova Cria­ção, na qual Deus será "tudo por tudo".

A Eucaristia é sempre o ofício principal dos domingos e dias de festa da Igreja, podendo ser celebrada em outros dias da semana. No entanto, a Divina Liturgia, segundo uso e costume da Igreja Ortodoxa, nunca é celebrada privadamente pelo sa­cerdote, sem a assistência de fiéis.


Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

segunda-feira, 13 de maio de 2013

As Boas Escolhas das Novas Gerações


Hoje, quando me preparava para escrever o novo texto para o nosso blog, me deparei com uma notícia que me fez refletir sobre as boas escolhas feitas por parte das novas gerações e que trazem esperança para aqueles que ainda creem que uma vida feliz neste mundo é não apenas possível, mas alcançável... lembrei-me também de minha mãe, que sempre me incentivou a andar de bicicleta e até hoje usa uma para ir e voltar do trabalho.

Sobre o novo texto que escrevi... bem, ele fica para amanhã. Por hoje, fiquemos com esta excelente notícia!

Um recente artigo do The New York Times, da jornalista Amy Chozick, é mais uma prova de que os jovens mudaram. A geração entre 18 e 24 anos está se importando mais com os outros e com o mundo em que vivem, superando antigos valores e necessidades de consumo que já não os convencem e, muito menos, os satisfazem. Uma dessas mudanças importantes está no modo com que os jovens se relacionam com a mobilidade.

Há poucas décadas, o carro representava o ideal de liberdade para muitas gerações. Hoje, com ruas congestionadas, doenças respiratórias e falta de espaço para as pessoas nas cidades, os jovens se deram conta de que isso não tem nada a ver com ser livre, e passaram a valorizar meios de transporte mais limpos e acessíveis, como bicicleta, ônibus e trajetos a pé. Além do mais, “hoje Facebook, Twitter e mensagens de texto permitem que os adolescentes e jovens de 20 e poucos anos se conectem sem rodas. O preço alto da gasolina e as preocupações ambientais não ajudam em nada”, diz o artigo.

Para entender esse movimento, o texto conta que a GM, uma das principais montadoras de automóvel do mundo, pediu ajuda à MTV Scratch, braço de pesquisa e relacionamento com jovens da emissora norte-americana. A ideia é desenvolver estratégias adaptadas à realidade dos carros e focadas no público jovem para reconquistar prestígio com o pessoal de 20 e poucos anos – público que tem poder de compra calculado em 170 bilhões de dólares, segundo a empresa de pesquisa de mercado comScore.

Porém, a situação não parece ser reversível. “Em uma pesquisa realizada com 3 mil consumidores nascidos entre 1981 e 2000 – geração chamada de ‘millennials’ – a Scratch perguntou quais eram as suas 31 marcas preferidas. Nenhuma marca de carro ficou entre as top 10, ficando bem abaixo de empresas como Google e Nike”, diz o artigo. Além disso, 46% dos motoristas de 18 a 24 anos declararam que preferem acesso a Internet a ter um carro, segundo dados da agência Gartner, também citados no texto do NY Times.

O que parece é que os interesses e as preocupações mudaram e as agência de publicidade estão correndo para entendê-los e moldá-los, mais uma vez. Só que, agora, com o poder da informação na ponta dos dedos e o movimento da mudança nos próprios pés fica bem mais difícil acreditar que a nossa liberdade dependa de uma caixa metálica que desagrega e polui a nossa cidade.

Jovens brasileiros preferem transporte público de qualidade

Essa tendência de não-valorização do carro já foi apontada também pelos nossos jovens aqui no Brasil. A pesquisa O Sonho Brasileiro, produzida pela agência de pesquisa Box1824, questionou milhares de ‘millenials’ sobre sua relação com o país e o que esperavam para o futuro. As respostas, que podem ser acessadas na íntegra no site, mostram entusiasmo e vontade de transformação, especialmente, frente aos desafios sociais e urbanos como falta de educação e integração.

A problemática do transporte público se repete nos comentários dos internautas no site da pesquisa, que mantém o espaço virtual aberto para todos que quiserem deixar sua contribuição de desejo de mudança para o local em que vivem. A maioria das pessoas que opina enxerga o carro como um vilão que polui e tira espaço da cidade e acredita que a solução está em investimento em transporte público de qualidade. Esse é o desejo dos jovens brasileiros que também já mudaram e agora estão sonhando, mas de olhos bem abertos para cuidar do mundo em que vivem.

Fonte: http://www.mobilize.org.br/noticias/1838/desinteresse-dos-jovens-por-carros-preocupa-montadora.html - acessado em 13 de Maio de 2013

sábado, 11 de maio de 2013

Vida Simples, Vida Feliz



Desde meus dezesseis anos eu vivo em uma metrópole. Saí do interior do Mato Grosso para estudar e, mesmo morando em Brasília-DF, aos finais de semana fugia para a casa de meus avós que, naquela época, moravam no povoado de São Gabriel, distante oitenta quilômetros da principal rodoviária da capital brasileira.

Tanto da cidadezinha da qual eu saí, Lucas do Rio Verde-MT, quanto São Gabriel-GO a despeito de suas atuais e gigantescas diferenças, têm também suas peculiaridades... naquela época (início dos anos 90) eram ambas cidades pequenas, onde o tempo parece correr segundo um ritmo próprio, diferente daquela freneticidade comum nas cidades grandes. No interior, ao contrário, o caminhar, o falar, o vento, o céu, a chuva e os dias sempre têm mais tempo... e têm mais tempo porque andam a pé, quando muito a cavalo ou de bicicleta. No interior, para velocidade, usa-se uma motocicleta de baixas cilindradas. Qualquer coisa além disso é tomada como exagero, coisa desmedida ou até mesmo loucura.

Quando cheguei a Brasília tomei um susto! Todos precisam correr muito, trabalhar mais, ganhar mais e dormir menos para consumir mais... para comprar milhões de coisas e de pequenos prazeres que, em grande parte dos casos, de tão efêmeros, sequer poderiam ganhar o título de descartáveis. É como se todas as pessoas entrassem em um torpor consumista desenfreado que se realiza na auto-sabotagem, na auto-destruição, na auto-desconstrução e chega triunfante a... lugar nenhum.

Nas cidades pequenas do interior, seja aqui no Brasil, nos Estados Unidos, na Suécia, na Polônia ou nos mais profundos confins da Russia, as pessoas levam uma vida simples que, distante da miséria dos séculos anteriores, torna-se cada vez mais auto-sustentável e confortável sem descuidar de princípios básicos cultivados com muito cuidado. Os "caipiras" de hoje usam internet, aprendem línguas estrangeiras, vão à faculdade... e não têm que gastar parte do salário comprando ansiolíticos ou pagando analistas; seus supermercados oferecem o que lhes é necessário à vida, não o que os publicitários dizem ser "fundamental" ou "indispensável", "fórmula do sucesso" ou "felicidade instantânea".

Tanto isso é verdade que uma considerável parcela de grandes executivos da maior cidade do hemisfério sul-ocidental: São Paulo, afirma com franqueza e convicção que trocaria o salário e os confortos oferecidos por suas corporações por empregos em cidades menores. Para eles, os helicópteros e os carros blindados poderiam muito bem ceder lugar à bicicleta; as agendas superlotadas às horas marcadas durante o passeio do fim da tarde; o medo do assalto no semáforo pela tranquilidade do chá ao pôr-do-sol...



A felicidade das pessoas do interior reside dentro de si e no sorriso de seus familiares, na cordialidade dos conhecidos, na alegria dos encontros após a missa de domingo, no almoço ao redor da mesa cheia e na noite cheia de estrelas; no supermercado encontram-se coisas que não podem ser produzidas nas hortas locais... jamais felicidade ou qualquer substituto genérico... isso é coisa de "gente de cidade grande".

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Santo André, Irmão de Pedro, Primeiro Patriarca



Segundo a tradição ortodoxa, Santo André, o Afável, foi o primeiro Patriarca da Igreja e recebe o nome de Protocletos - o primeiro a ser chamado - e, segundo o Evangelho, é irmão do Apóstolo Simão Pedro, considerado pela Igreja de Roma como o primeiro Papa. Seu nome tem origem grega e parece ter sido bastante comum entre os judeus de sua época, sendo que em nenhum momento recebe algum nome em aramaico.

Era, como o irmão, pescador e o mais velho em uma família de cinco filhos

Segundo João Evangelista, André era discípulo de João Batista. Chamado por Jesus antes mesmo de Simão Pedro, André soube por João Batista que Jesus era o Cristo, o "Cordeiro de Deus" e, a partir de então, passa a segui-lo, abrindo mão de todos os bens materiais. Interessante é notar que, contraditoriamente aos evangelistas Marcos (cap. 13) e João (ccap.  6 e 12) que o davam como um dos discípulos mais próximos do Cristo, o livro de Atos dos Apóstolos o cita apenas uma vez (Atos 1:13).

Patriarcado - Conta Eusébio de Cesareia, citando Orígenes, que Santo André saiu da Galileia e começou a espalhar o cristianismo a partir da Ásia Menor e da Cítia e, costeando o Mar Negro chegando ao rio Volga e depois a Kiev, Ucrânia. Por conta de sua peregrinação pelo Oriente, Santo André é padroeiro da Romênia, da Rússia, da Espanha, da Escócia e da Grécia.

Conta a tradição que para sediar seu apostolado fundou, no ano 38, juntamente com Santo Estácio de Bizâncio, a Diocese de Constantinopla, posteriormente transformado em Patriarcado, do qual André é padroeiro.

André é dado sempre como um grande conselheiro e sabe-se que teve grande influência sobre Simão Pedro. A história conta que foi ele a aconselhar Pedro, Tiago e João a respeito da escolha dos primeiros missionários que foram expedidos para anunciar o Evangelho e também de ser ele a guiar estes missionários sobre os assuntos administrativos de suas comunidades, o que demonstra que ele tinha uma grande capacidade de trazer à tona os recursos ocultos e talentos em potencial entre os que o procuravam. Todos os textos que contam sua história, são unânimes em afirma-lo como um homem de raciocínio rápido, lógico, de caráter ousado e um ferrenho disseminador do Evangelho do Amor.

Morte - André foi capturado por ordem de Nero no ano 60 e imediatamente condenado à morte. Sua prisão ocorreu em Achaea e, no dia 30 de novembro, foi morto em Patras, sendo amarrado a uma cruz em forma de X, pois se considerava desmerecedor de ter uma morta igual à de Cristo. A Cruz de Santo André (em forma de X) prolonga o sofrimento do condenado, tanto é que sua agonia perdurou por dois dias até seu último suspiro, quando, segundo a tradição, uma luz muito forte o envolveu e anestesiou todos os presentes e enlouquecendo o governador romano Aegeas, que ordenara sua execução.



Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

terça-feira, 7 de maio de 2013

POR QUE SÁBADO E DOMINGO SÃO DIAS SANTOS?



Uma vez, passando por uma das ruas de Curitiba - PR, vi dois homens discutindo sobre as razões da observância do sábado como dia santo. Um deles, mais exaltado, chegava a dizer que os cristãos que guardavam o domingo eram hereges, idólatras de divindades pagãs e que, por tais práticas, seriam condenados ao fogo do inferno.

Fiquei pensativo e, ao regressar para casa, fui procurar verificar as causas de tamanha discussão, de debate tão acalorado e, lógico, de uma previsão tão pessimista por parte de um deles: a danação eterna! Afinal, se tal lei estivesse correta, eu também estaria em maus lençóis, pois sempre fui -  e continuo a ir - à missa aos domingos.

Por que o sábado? Logo no Gênesis, Moisés conta que "E havendo Deus acabado no sétimo dia a obra que fizera, descansou no sétimo dia e toda sua obra, que tinha feito. E abençoou o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera" (Gênesis, 2: 2-3); mais adiante Moisés enfatiza tal ordenamento quando publica os Dez Mandamentos, dizendo: "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou". (Êxodo 20: 8-11).

Shabat - A palavra sábado vem da palavra shabat, do verbo judaico shavat, que traduzido pode ser interpretado como "parar" ou "cessar", e por isso é dado como o dia em que os trabalhos são findados. Não obstante, é fundamental que se analise que nem mesmo o povo judaico comemora o shabat como sendo o "dia do sábado", mas a partir do pôr-do-sol da sexta-feira até o pôr-do-sol do sábado, o que corresponde ao período de um dia, um tributo religioso, simbólico e social pago a Deus.

O Novo Testamento, o trecho cristão da Bíblia, nos traz testemunhos que o dia do sábado - não o shabat - ao contrário de ser exaltado por Jesus, por ele é questionado (como em Mateus 4, por exemplo ou Marcos 2), às vezes com bastante veemência, como quando alguns que o viram curar a mão de um doente no dia de sábado tentaram recriminá-lo. Então o Cristo pergunta: "É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? Salvar a vida, ou matar? E eles calaram-se. E, olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza de seu coração, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu, e foi-lhe restituída a sua mão, são como a outra" (Marcos 3: 4-5)

Por que o domingo? Os cristãos originais escolheram o domingo para suas celebrações eucarísticas por ter sido este o dia da ressurreição de Jesus Cristo, da instituição da Nova Aliança e da Páscoa, e tal escolha aparece descrita em vários trechos do Novo Testamento como em Atos dos Apóstolos 20:7; I Coríntios 16:2; ou mais claramente no Livro de Apocalipse 1:10, onde João Evangelista declara "eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor; e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que me dizia: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro, e o que vês, escreve-o em um livro e envia-o às sete Igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia". (Apocalipse, 1: 10-11).

Domingo, o dia do sol: algumas pessoas, erroneamente, tentam associar os cultos das Igrejas originais do Ocidente (Roma) e do Oriente ao culto a Apolo, divindade romana da razão. O problema é a incongruência histórica decorrente dessa aproximação. Os cultos aos domingos, a santificação do primeiro dia da semana, remonta o século I e aos próprios Apóstolos, enquanto a aproximação com o "dia do sol" ocorre apenas no século IV, quando o cristianismo se torna uma religião aceita dentro das fronteiras do império de Roma, ou seja, quase três séculos mais tarde. Se há alguma aproximação entre ambas as datas, deve-se mais a uma coincidência do que a uma escolha deliberada da Igreja e de seus Santos Apóstolos.

De uma maneira ou outra, estabeleceu-se em todo o mundo cristão a observação do período que vai do entardecer da sexta-feira até a noite de domingo como o período mais propício para se visitar os lugares sagrados, realizar orações de agradecimento e de súplicas e reconciliar-se com quem houve algum desentendimento, mas sem que se esqueça que as práticas cristãs e amor, misericórdia e tolerância devem ser exercitadas diariamente e não apenas em dias ou datas determinadas.

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Qual é a simbologia da Cruz Ortodoxa?



A cruz é um sinal ambíguo, dado que representa tanto o sacrifício e mortandade de Cristo quanto de Sua vitória sobre a morte e, por isso mesmo, de ressurreição e alegria. O entroncamento destes significados diametralmente tão opostos é o amor representado de Cristo por sua entrega pessoal em favor da humanidade.

Mas esta explicação genérica todos têm na ponta da língua, não é mesmo... A Igreja, em seus dois milênios de existência, produziu um riquíssimo arcabouço semiótico com a finalidade de passar ao fiel através de cada um dos símbolos, toda a amplitude e profundidade de sua teologia, de sua filosofia e dogmática.

A Cruz Ortodoxa é um dos exemplares deste verdadeiro catecismo não escrito à disposição do fiel. Sua simbologia não serve para representar apenas a Paixão de Cristo, mas enfatizar a importância de Jesus como Irmão, Mestre e Salvador da humanidade.

Por que oito braços? Na realidade não são oito braços, mas apenas dois. 

O que representa a trave menor? O primeiro eixo transversal, menor, representa a tabula que foi posta sobre a cabeça de Jesus por ordem de Poncius Pilatos. Era uma prática padrão nas crucificações ordenadas pelo governo romano e, no caso de Jesus, como não havia nenhum crime formal a justificar sua pena, Pilatos mandou escrever: Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum... dado que foi esta a acusação do Sinédrio e dos fariseus contra Jesus. Segundo João Evangelista, a placa tinha a mesma inscrição em latim, grego e hebraico.

Atualmente, para cada Igreja Ortodoxa, a tabuleta pode trazer além da inscrição tradicional latina (INRI) sua tradução para a língua natural do povo à qual a Igreja pertence como o polonês (JCKZ), Russo (ИХЦе), Romeno (IHRI), Ucraniano (ІХЦЮ)... e assim por diante.

Nesta tabula ainda podem aparecer dois anjos curvando-se a Cristo, representado que, a despeito se sua existência humana, sua natureza é divina.

O que representa a trave maior? O segundo braço transversal representa o tronco onde foram presos os braços de Cristo.

O que representa a trave inferior, diagonal? Segundo a tradição do catolicismo ortodoxo, ao contrário da tradição romana, os pés de Jesus foram algemados separadamente, não pregados juntos. Por isso a trave tinha que ser grande, pois os pés estavam separados.

Por que é inclinada? Há três versões bastante difundidas para explicar o porquê dessa forma de representação.

A primeira conta que, quando Jesus deu seu último suspiro, seu corpo pesou e a trave que sustentava seus pés pendeu para um dos lados, inclinando-se; a segunda conta a história dos dois ladrões que foram condenados a morrer um de cada lado do Cristo. Um deles, arrependido de sua vida de crimes pede: "Senhor, quando entrardes em Vosso reino, lembrai-Vos de mim" e Jesus o responde: "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso" (Lucas 23: 42-43); quando o Cristo dá seu último suspiro, a tábula que O sustentava ergueu-se para o lado de Dimas, o ladrão arrependido, indicando a salvação e abaixando-se para o lado do ladrão que não se arrependeu, indicando a perdição (esta é a versão mais difundida por fazer referência à penitência, o arrependimento dos pecados e do Juízo Final); a terceira  refere-se à chegada da Igreja de Cristo nas terras do norte  e do oeste do Mar Negro (Romênia, Moldávia, Bielorrússia, Rússia, Ucrânia e Polônia) através de Santo André Apóstolo.

A caveira na base da cruz faz referência a uma antiga lenda judaica que afirma que, no lugar onde Cristo fora crucificado (o monte Gólgota) é também o lugar onde foi sepultado Adão. Na simbologia ortodoxa, havia uma fenda na rocha onde foi assentada a cruz de Jesus que fez com que o sangue derramado chegasse ao crânio enterrado de Adão, lavando assim toda a humanidade de seus pecados através de sua entrega e sofrimento amoroso, fazendo de Jesus o novo Adão e estabelecendo a Nova, Sagrada e Eterna aliança com a humanidade.

Também costumam aparecer na iconografia da Cruz Ortodoxa: a lança que aparece ao longo do corpo da cruz é a representação da lança que perfurou o peito de Jesus; a vara com a esponja que serviu vinagre a Jesus sedento e as figuras de Maria e João, discípulo amado de Jesus (João 19: 26-27).

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

Sermão Pascal de São João Crisóstomo

São João Crisóstomo

Quem tiver piedade e amor a Deus, regozije-se nesta gloriosa e brilhante festa triunfal. Quem for servo bom, entre e alegre-se no gozo de seu Senhor. Quem suportou a fadiga  do jejum, receba agora a recompensa; quem trabalhou desde a primeira hora, receba hoje o seu justo salário. Quem veio após a terceira hora, festeje com gratidão. Quem chegou após a sexta hora, entre sem hesitar, porque não será renegado. Quem atrasou-se até a nona hora, venha ser receio e medo. Quem chegou somente na décima primeira hora, não tenha medo por causa da sua demora, porque o Senhor é generoso. Acolhe o último como primeiro; remunera o operário da décima primeira hora como o da primeira; cobre um com sua misericórdia e outro com sua graça. É generoso com um e a outro concede; aceita as obras e abençoa a intenção, recompensa o trabalho e louva a boa vontade.

Entrai, pois, todos no gozo de Nosso Senhor. Primeiros e últimos, recebei a recompensa; ricos e pobres, alegrai-vos juntos; justos e pecadores, honrai este dia; os que jejuaram e os que não jejuaram, regozijai-vos uns com os outros; a mesa é farta; saciai-vos à vontade; o vitelo é gordo, que ninguém se retire com fome. Participem todos do banquete da fé. Recebam todos a riqueza da graça.

Que ninguém se constranja da pobreza, porque o reino universal foi proclamado. Que ninguém chore por causa de seus pecados, porque o perdão jorrou do túmulo, Que ninguém tema a morte, porque a morte do Salvador nos libertou a todos. O Salvador destruiu, quando a ela se submeteu.

Fez cativo o inferno quando nele desceu. O inferno tocou Seu corpo e foi aniquilado. foi isso que profetizou Isaías, exclamando: "o inferno ficou aflito ao encontrar-te nas profundezas" ( Isaías 14: 9). Ficou aflito, pois foi arruinado. Ficou aflito, pois foi menosprezado. Ficou aflito, pois foi executado. Ficou aflito, pois foi subjugado. Agarrou um corpo e encontrou Deus face-a-face. Apossou-se da Terra e achou-se diante do Céu. Pegou o que viu, e caiu naquilo que não viu.

Oh, morte, onde está teu aguilhão?! Oh, inferno, onde está rua vitória?!

Cristo ressuscitou dos mortos; venceu a morte pela morte;
e aos que estavam no túmulo, Cristo deu a vida.


Cristo ressuscitou e foste arrasado. Cristo ressuscitou, e os demônios foram vencidos. Cristo ressuscitou e os anjos rejubilam-se. Cristo ressuscitou e a vida foi restituída. Cristo ressuscitou e não ficou mais nenhum morto no túmulo. Porque Cristo, pela sua ressurreição dos mortos, tornou-se primaz dentre os mortos.

A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos.

Amém!

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

sábado, 4 de maio de 2013

A Tradição Iconográfica

São Lucas Evangelista, o primeiro iconógrafo,
pintando o ícone  que mais tarde seria conhecido como o
de Maria  de Czestochowa, Mãe e Rainha Perpétua da Polônia


A Tradição da Igreja é expressa não só através de palavras, nem ações e gestos vivenciados na veneração, mas também através da arte, da grafia e a cor dos Santos Ícones. Um ícone não é simplesmente uma figura religiosa a despertar as emoções adequadas no espectador, antes um dos modos pelos quais Deus Se revela a nós. Através de ícones, o cristão ortodoxo, recebe uma visão do mundo espiritual. Pelo fato do ícone fazer parte da Tradição, os pintores de ícone (iconógrafos) não são livres para adaptar seus próprios sentimentos estéticos, mas a mente da Igreja. A inspiração artística não está excluída, antes exercida dentro de regras (cânones) prescritas. É importante que iconógrafos sejam bons artistas, no entanto, mais importante ainda é que sejam cristãos sinceros, vivendo no espírito da Tradição, preparando-se pela Confissão e a Santa Comunhão.

O Objetivo desta Arte Sacra

"Assim, dizemos que um navio, animal ou planta é boa, não por sua formação ou por sua cor, mas a partir do serviço que presta" (São João Crisóstomo). O mesmo acontece com esta arte sacra; sua natueza é boa, não por conta de ser a "arte da Igreja", mas pelo serviço que presta à Igreja. Como tal, está entrelaçada com a vida, a evolução e toda a Tradição da Igreja.

Constantino Kalokyris, em sua obra intitulada Iconografia Ortodoxa, sugere que o caráter e o significado fundamental da Iconografia Ortodoxa é:

1-A Arte de Serviço Espiritual - O conteúdo da Iconografia Ortodoxa foi diretamente determinado pelas necessidades e o profundo propósito espiritual da Igreja. Ela serve para inspirar, ensinar, guiar e encorajar os fiéis em sua busca de perfeição espiritual. Iconografia expressa santidade e os significados mais sublimes da Ortodoxia em seu conteúdo sagrado: o Salvador, a Mãe de Deus, os Apóstolos, os Poderes Angélicos, e os Mártires da fé.

2-A Arte Litúrgica - O Mistério da Sagrada Eucaristia é o centro e a essência da Liturgia (obra do povo). Desde sua criação, a Iconografia estava preocupada principalmente com este propósito essencial da Igreja. Como tal, tem tentado contribuir com seus próprios meios para a compreensão  pela parte dos fiéis do grande Mistério da Sagrada Eucaristia e de todo o drama litúrgico. Ilustrado nos mais antigos símbolos sagrados: o peixe, o pão, o cordeiro sacrificial, o sacrifício de Abraão, etc. A Iconografia envolve os temas litúrgicos da Comunhão dos Apóstolos, a liturgia dos Anjos, o auto-sacrifício, os hierarcas co-celebrante... Ela simplesmente tenta tornar o conteúdo compreensível sublime da Divina Liturgia e em especial o ato litúrgico da Sagrada Eucaristia.

3-Arte de Teologia elevada - Esta arte não é apenas religiosa, como no Ocidente, mas também teológica. Seus temas não estão apenas relacionados com a história religiosa, mas são organizados de acordo com a elevada teologia da Igreja Ortodoxa. Como tal, as Igrejas Ortodoxas são repletas de imagens não apenas da paixão, mas com a arte que retrata a vida de nosso Senhor (as Doze Grandes Festas da Igreja), a Mãe de Deus, os Santos, os Evangelistas e os Poderes Angélicos, sob as bênçãos do Senhor. Além de estarem "representados" de maneira a sugerir sua verdadeira natureza: em comunhão com os Santos, terrenos, ou privados do Espírito da Graça.

4-Uma Arte de profundidade - Iconografia Ortodoxa é uma forma de arte expressionista que procura transmitir a mais profunda experiência de vida que a alma possui. Arte bizantina, portanto, usa recursos de animação intensa (isto é, olhos grandes, boca pequena, orelhas grandes), cores brilhantes, e as posturas (postura frontal ou seja, dos Santos que estão em comunhão direta com Deus) para sugerir o verdadeiro "espírito” do Santo retratado. Diferenças entre a arte sacra do Ocidente e do Oriente são ilustrados em ambos os ícones da Crucificação e Ressurreição.

5-Relação com modelos Ideais e Naturais - Tudo na Igreja deve aludir ao mundo celeste, espiritual e transcendental. Portanto, a Iconografia Ortodoxa evita a representação das formas sagradas de acordo com a realidade natural e procura, através de uma abstração verdadeiramente maravilhosa, para expressar a realidade espiritual que constitui a verdade maior.

Questão e Forma (Conteúdo e Estilo ) da Iconografia Ortodoxa

O pressuposto básico da Iconografia Ortodoxa desenvolvido pela Sagrada Escritura, pelos Concílios Ecumênicos, e pelos Padres da Igreja é a de um "novo" homem e de um "novo" mundo, em Cristo. Esta arte subordinada à Igreja foi obrigada a formular tal idéia em sua expressão.

Os Fundamentos da Iconografia:

• A pessoa de Cristo não é retratada exclusivamente com características humanas tal como no Ocidente. Ele não é apenas humano, mas ao mesmo tempo Deus e homem.
• Deus-Pai não pode ser retratado.
• A Mãe de Deus não é representada simplesmente como uma virgem antes do Espírito do Senhor vir pairar sobre Ela. Antes indica o dogma da Encarnação, trazendo em Si Aquele Que não pode ser contido.
• Os Santos são "representados" como cidadãos dos Céus sugerindo a realidade abençoada para além deste mundo.

As particularidades da Iconografia:

• A coloração no rosto e os detalhes do corpo nu, a transição entre a pessoa das trevas à luz de Cristo.
• Os órgãos sensoriais não são apresentados de acordo com a natureza, com a realidade anatômica que conhecemos pois que cada um deles tendo percebido e recebido a revelação divina, torna-se, desde então, um instrumento do Espírito.
• A boca é de forma pequena. Ela indicar que a pessoa sagrada obedece ao Mandamento sagrado de Deus (não andeis ansiosos pela vida preocupados com o que comereis), buscando primeiro o alimento da vida, (o Reino dos Céus e Sua justiça).
• A coroa de luz na Iconografia Ortodoxa – auréola – significa a glória que irradia da pessoa representada. Ela envolve a cabeça por ser ela é o centro do espírito, pensamento e compreensão.
• Os pés e as mãos são igualmente "distorcidos". As mãos são geralmente proporcionais à cabeça (pelo menos a mão da benção) com dedos longos, significando uma intensidade espiritual, enquanto os pés são grandes e pouco fundamentados.
• O corpo nu é subjugado e neutralizado pelo espírito.
• O projeto de vestuário ou a expressão do corpo espiritual dos Santos cobertos por eles. Em virtude de suas dobras simples e suas sobreposições mais amplas, eles não parecem naturais, cobrindo simplesmente o corpo humano.
• O principal interesse na Iconografia é limitado às pessoas sagradas, enquanto o segundo plano é subordinado a eles. Portanto, o segundo plano não aparece independente das pessoas, mas dependente delas.

O Ícone mais perfeito: A pessoa de Cristo

O Ícone Verbal de Cristo: O livro das Sagradas Escrituras

Um Ícone de Deus na Criação: Criados à Sua semelhança, os seres humanos são ícones de Deus através da virtude, ou seja, não fisicamente, mas através de nossa liberdade, nossa razão, nosso senso de responsabilidade moral, enfim, tudo que nos distingue da criação animal.

A Controvérsia iconoclasta: Iconoclastas – quebradores de Ícones, duvidosos de que qualquer arte religiosa pudesse representar seres humanos ou Deus.

Iconódulos – veneradores de ícones e defensores vigorosos do uso de ícones na Igreja.

A controvérsia Iconoclasta que durou cerca de 120 anos, se divide em duas fases. Primeiramete, em 726, quando Leão III inicia seu ataque aos ícones, concluíndo-se em 780 com a suspensão das perseguições por parte da Imperatriz Irene. A posição dos iconódulos foi confirmada pelo Sétimo e último Concílio Ecumênico (787), que se reuniu, tal como o Primeiro, em Nicéia. Este Concílio proclama que os ícones devem ser mantidos nas igrejas e honrados com a uma veneração correspondente à "preciosa e vivificante Cruz" e o Evangeliário. Um novo ataque aos ícones, iniciada por Leão V, o Armênio, em 815 continua até 843, altura em que os ícones são novamente reintegrados, por outra Imperatriz, Teodora. A vitória final das Imagens Sagradas em 843 é conhecido como o "Triunfo da Ortodoxia", comemorado num ofício especial no "Domingo da Ortodoxia" –  Primeiro Domingo da Grande Quaresma.

Papa Leão V


A Veneração dos Ícones

Os ícones são símbolos. A reverência e veneração dirigida aos ícones não é direcionada à madeira, à pedra, ou à pintura, mas antes às pessoas ai representadas.

Fonte: http://auroraortodoxia.blogspot.com.br/
pelo Metropolita Kallistos Ware
Extraído do livro The Orthodox Church

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo + , grato pela iniciativa da Eparquia Ortodoxa do Brasil, da Igreja Autocéfala da Polônia, em compartilhar este texto conosco.