terça-feira, 7 de maio de 2013

POR QUE SÁBADO E DOMINGO SÃO DIAS SANTOS?



Uma vez, passando por uma das ruas de Curitiba - PR, vi dois homens discutindo sobre as razões da observância do sábado como dia santo. Um deles, mais exaltado, chegava a dizer que os cristãos que guardavam o domingo eram hereges, idólatras de divindades pagãs e que, por tais práticas, seriam condenados ao fogo do inferno.

Fiquei pensativo e, ao regressar para casa, fui procurar verificar as causas de tamanha discussão, de debate tão acalorado e, lógico, de uma previsão tão pessimista por parte de um deles: a danação eterna! Afinal, se tal lei estivesse correta, eu também estaria em maus lençóis, pois sempre fui -  e continuo a ir - à missa aos domingos.

Por que o sábado? Logo no Gênesis, Moisés conta que "E havendo Deus acabado no sétimo dia a obra que fizera, descansou no sétimo dia e toda sua obra, que tinha feito. E abençoou o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera" (Gênesis, 2: 2-3); mais adiante Moisés enfatiza tal ordenamento quando publica os Dez Mandamentos, dizendo: "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou". (Êxodo 20: 8-11).

Shabat - A palavra sábado vem da palavra shabat, do verbo judaico shavat, que traduzido pode ser interpretado como "parar" ou "cessar", e por isso é dado como o dia em que os trabalhos são findados. Não obstante, é fundamental que se analise que nem mesmo o povo judaico comemora o shabat como sendo o "dia do sábado", mas a partir do pôr-do-sol da sexta-feira até o pôr-do-sol do sábado, o que corresponde ao período de um dia, um tributo religioso, simbólico e social pago a Deus.

O Novo Testamento, o trecho cristão da Bíblia, nos traz testemunhos que o dia do sábado - não o shabat - ao contrário de ser exaltado por Jesus, por ele é questionado (como em Mateus 4, por exemplo ou Marcos 2), às vezes com bastante veemência, como quando alguns que o viram curar a mão de um doente no dia de sábado tentaram recriminá-lo. Então o Cristo pergunta: "É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? Salvar a vida, ou matar? E eles calaram-se. E, olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza de seu coração, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu, e foi-lhe restituída a sua mão, são como a outra" (Marcos 3: 4-5)

Por que o domingo? Os cristãos originais escolheram o domingo para suas celebrações eucarísticas por ter sido este o dia da ressurreição de Jesus Cristo, da instituição da Nova Aliança e da Páscoa, e tal escolha aparece descrita em vários trechos do Novo Testamento como em Atos dos Apóstolos 20:7; I Coríntios 16:2; ou mais claramente no Livro de Apocalipse 1:10, onde João Evangelista declara "eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor; e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que me dizia: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro, e o que vês, escreve-o em um livro e envia-o às sete Igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia". (Apocalipse, 1: 10-11).

Domingo, o dia do sol: algumas pessoas, erroneamente, tentam associar os cultos das Igrejas originais do Ocidente (Roma) e do Oriente ao culto a Apolo, divindade romana da razão. O problema é a incongruência histórica decorrente dessa aproximação. Os cultos aos domingos, a santificação do primeiro dia da semana, remonta o século I e aos próprios Apóstolos, enquanto a aproximação com o "dia do sol" ocorre apenas no século IV, quando o cristianismo se torna uma religião aceita dentro das fronteiras do império de Roma, ou seja, quase três séculos mais tarde. Se há alguma aproximação entre ambas as datas, deve-se mais a uma coincidência do que a uma escolha deliberada da Igreja e de seus Santos Apóstolos.

De uma maneira ou outra, estabeleceu-se em todo o mundo cristão a observação do período que vai do entardecer da sexta-feira até a noite de domingo como o período mais propício para se visitar os lugares sagrados, realizar orações de agradecimento e de súplicas e reconciliar-se com quem houve algum desentendimento, mas sem que se esqueça que as práticas cristãs e amor, misericórdia e tolerância devem ser exercitadas diariamente e não apenas em dias ou datas determinadas.

Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +

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