A
Eparquia Ortodoxa do Brasil, sob jurisdição da Igreja Autocéfala da Polônia,
tem a característica de ter sido constituída a partir de brasileiros que não
são descendentes de povos tradicionalmente ortodoxos. O seu ‘povo’ inicial tem sua origem em pessoas
residentes em Recife e no Rio de Janeiro que, nos idos de 1985, se dedicavam ao
estudo de saberes metafísicos e esotéricos. Essas pessoas buscavam encontrar
uma Tradição Sagrada, que ainda se mantivesse autêntica e não contaminada pelo
materialismo e racionalismo ocidentais. O grupo de Recife tinha, no seu
organizador, um ponto de contato e intercambio com o grupo residente no Rio de
Janeiro.
Uma
série de coincidências levou a que esses dois grupos viessem a promover a vinda
de um jornalista e intelectual português, com o objetivo de ministrar, no Rio
de Janeiro e em Recife, um curso sobre simbolismo e arte sagrada. Acontece que
esse jornalista também era um padre ortodoxo.
Esse
encontro do padre ortodoxo com esse grupo de brasileiros causou uma profunda impressão
em ambas as partes. Semanas após a partida do padre, os brasileiros receberam,
da parte do Metropolita Gabriel de Lisboa, superior hierárquico daquele padre,
um convite para visitar o mosteiro ortodoxo que ficava em Mafra-Portugal.
É assim
que, na primeira quinzena de julho de 1986, parte para Lisboa um grupo composto
de 5 pessoas do Recife e 4 do Rio de Janeiro. Lá chegando, ficaram todos
impactados com o ambiente do mosteiro, com a pessoa de Dom Gabriel, com a
doutrina ortodoxa, que ele nos apresentava a cada noite até altas madrugadas,
e, principalmente, com os Ofícios Divinos cantados em português. O certo é que,
alguns dias após a chegada, estavam todos decididos a fazer parte desta grande
família das igrejas ortodoxas. Pediram, então, que fossem recebidos como
cristãos ortodoxos.
O "grupo dos nove" originais |
Surgiu
aí o primeiro problema: como serem batizados e voltar para o Brasil? Como
alimentar a fé? Como se manterem fiéis à doutrina ortodoxa? No Brasil não se
conhecia, naquela altura, nenhuma das igrejas de imigrantes. Dom Gabriel
recusava recebê-los na Igreja, numa situação em que não havia perspectiva deles,
ao voltarem ao Brasil, continuar a serem santificados e alimentados
espiritualmente pelos sacramentos e pela Sagrada Liturgia. Nessa situação
emergencial, a solução encontrada foi a de que alguns dos brasileiros
aceitassem a ordenação presbiterial para iniciar no Brasil, uma missão da Santa
Igreja Ortodoxa.
Na
festa de Pentecostes do ano de 1986, esses brasileiros foram batizados e
crismados na Catedral Ortodoxa de Lisboa. Semanas depois foram celebrados um
casamento, uma tonsura monástica e as ordenações de dois padres: o hieromonge
Paulo e o presbítero Aléxis, e ainda, dois subdiáconos: os reverendos Alexandre
e Filipe.
Em
julho de 1986 desembarca no Brasil uma perfeita missão de ortodoxos
brasileiros, com o intuito de implantar a Fé Ortodoxa neste país. Logo após o
retorno desse grupo de nove brasileiros, tivemos no Rio de Janeiro um primeiro
batismo de sete pessoas e, no Recife, o de um grupo de vinte e cinco pessoas.
Esse foi o início dessa Igreja Ortodoxa voltada para brasileiros.
O
Metropolita D. Gabriel era integrante do Sínodo vetero-calendarista Grego. No
entanto, uma profunda divergência teológica fez com que ele se retirasse
daquele Sínodo. Essa divergência consistia em que o arcebispo Auxentios passara
a afirmar, a partir de 1987, que a Igreja que não fosse Velho-Calendarista não
possuía a Graça Divina e, por isso, não tinha nem Sucessão Apostólica nem
Sacramentos. Tal posição doutrinal era inaceitável para D. Gabriel.
Após
romper com o Sinodo vetero-calendarista, D. Gabriel fez gestões junto a várias
Igrejas Ortodoxas canônicas, inclusive junto ao Patriarcado Ecumênico, mas foi
a Igreja Ortodoxa Autocéfala da Polônia que respondeu. Com o apoio de Sua
Beatitude, o Metropolita Basílio de Varsóvia e de Toda a Polônia, o Metropolita
de Lisboa foi aceito no Santo Sínodo polonês. No final de 1989, foi assinado o
protocolo de comunhão canônica entre a Metrópole Ortodoxa de Portugal, Espanha
e todo Brasil e a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Autocéfala da Polônia,
solenidade que ocorreu em Lisboa. Quem presidiu as solenidades representando o
Metropolita de Varsóvia foi o, na época, Arcebispo de Bialystok e Gdansk, Sua
Excelência Reverendíssima o Sr Dom Sawa, atual Primaz da Igreja da Polônia.
No fim
do ano de 1991, Dom Gabriel, acompanhado dos Bispos Thiago e Theodoro, do
Monsenhor João e ainda do Arquimandrita Chrisóstomo, fez uma visita à Polônia.
Na reunião do Sínodo dos Bispos da Igreja da Polônia, realizada durantes as
comemorações da Festa da Transfiguração, no Monastério de Grabarka, dois bispos
são eleitos: Monsenhor João como Bispo auxiliar para Portugal e o Arquimandrita
Chrisóstomo como Bispo residencial para o Brasil. As respectivas sagrações vão
ocorrer no mês de dezembro de 1991, em Portugal, contando com a presença do
Arcebispo Simão, delegado do Metropolita Basílio de Varsóvia.
No
segundo semestre de 1992 toma posse da Diocese do Rio de Janeiro e
Olinda-Recife o primeiro Bispo ortodoxo brasileiro para o Brasil. A Diocese do
Brasil, neste momento, era composta de quase mil fiéis, 4 paróquias, 5 missões,
1 Arquimandrita, 10 presbíteros, 1 protodiácono, 4 diáconos, uma dezena de
leitores e subdiáconos, alguns estudando e servindo na Metrópole de Portugal.
Os monges e rasophores brasileiros, nos mosteiros da Europa, chegaram ao número
de 30.
Em
fevereiro de 1997, Sua Beatitude D. Gabriel – de memória eterna – nasce para os
céus. E no transcurso desse mesmo ano, o Arcebispo João é elevado ao cargo de
Metropolita de Portugal, Espanha e Todo o Brasil.
Em
junho de 1998, foi sagrado um Bispo auxiliar para o Brasil, S. Excelência o Sr.
D. Ambrósio, Bispo de Recife.
Durante
o ano de 2000, conflitos de natureza eclesial e discipinar eclodem envolvendo o
Metropolita João, a comunidade de brasileiros ortodoxos e o Metropolita Sawa da
Polônia. Surgem conflitos também entre o Metropolita João e a Abadessa do
Mosteiro de Mafra. Um grupo de monjas, lideradas pela Abadessa se refugia no
Mosteiro Ortodoxo de Gondencourt, França, vinculado ao Patriarcado da Sérvia.
Esse refúgio foi obtido com a permissão e a bênção do Metropolita Sawa de
Varsóvia.
A evolução
das divergências entre o Metropolita João e o Santo Sínodo da Polônia levou a
ruptura da comunhão canônica. No entanto, os bispos brasileiros não
acompanharam D. João. Eles se mantiveram como membros daquele Santo Sínodo.
Isso fez com que a Igreja Ortodoxa do Brasil se desvinculasse da Metropolia de
Portugal.
Em
virtude desses acontecimentos, desde o dia 8 de agosto de 2000, a Eparquia do
Brasil está sob a proteção direta do homofórion de Sua Beatitude Dom Sawa,
Metropolita de Varsóvia e toda Polônia.
Essa
crise envolvendo a Metropolia de Lisboa, a comunidade de brasileiros ortodoxos
e o Santo Sínodo da Polônia resultou em um duro revez para a Eparquia do
Brasil. Quatro padres e um diácono do nordeste se transferiram para a
jurisdição do patriarcado da Sérvia, e outros 2 diáconos desligaram-se do
sacerdócio. No sudeste, um padre migrou para a Igreja Russa fora das fronteiras
e outros quatro e mais dois diáconos se desligaram da Igreja.
Pesankas da Páscoa de 2012 Foto: Marta |
Depois
deste golpe, uma nova fase se inicia, marcada pelo desenvolvimento de projetos
pastorais, de fortalecimento da fé e também pela aproximação com as Igrejas
Ortodoxas originárias da imigração. Iniciou-se a formação de movimentos e
organismos vinculados ou postos ao serviço do conjunto das Igrejas Ortodoxas
Canônicas presentes no país.
A
Eparquia Ortodoxa do Brasil, também passou a ter um maior empenho no sentido de
melhorar a preparação pastoral do clero, e no sentido de aprofundar o
conhecimento dos Ofícios e da Tradição Ortodoxa junto aos fiéis.
Celebrações da Quinta-feira Santa de 2012 Foto: Marta |
Hoje no
Brasil encontram-se presentes seis Igrejas Ortodoxas Canônicas: quatro com
origem na imigração oriunda de povos tradicionalmente ortodoxos, que são os
árabes, gregos, russos e ucranianos. E duas Igrejas formadas por brasileiros
não descendentes de ortodoxos: a Igreja Ortodoxa sob jurisdição polonesa e a
Igreja Ortodoxa sob jurisdição sérvia. O que caracteriza o espirito missionário
dessas duas últimas é a tradução do patrimônio da fé ortodoxa para o idioma
português, pois que visa a sua difusão entre os brasileiros.
Atualmente
essas seis Igrejas Ortodoxas irmãs constituem a Assembléia dos Bispos Ortodoxos
da América Latina, órgão permanente que visa, entre outros objetivos, a
preparação de um Concílio Pan Ortodoxo.
Fonte: Eparquia Ortodoxa do Brasil, no sítio www.igrejaortodoxadobrasil.org.br
Fiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo +
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