São Lucas Evangelista, o primeiro iconógrafo, pintando o ícone que mais tarde seria conhecido como o de Maria de Czestochowa, Mãe e Rainha Perpétua da Polônia |
A Tradição da Igreja é
expressa não só através de palavras, nem ações e gestos vivenciados na
veneração, mas também através da arte, da grafia e a cor dos Santos Ícones. Um
ícone não é simplesmente uma figura religiosa a despertar as emoções adequadas
no espectador, antes um dos modos pelos quais Deus Se revela a nós. Através de
ícones, o cristão ortodoxo, recebe uma visão do mundo espiritual. Pelo fato do
ícone fazer parte da Tradição, os pintores de ícone (iconógrafos) não são
livres para adaptar seus próprios sentimentos estéticos, mas a mente da Igreja.
A inspiração artística não está excluída, antes exercida dentro de regras
(cânones) prescritas. É importante que iconógrafos sejam bons artistas, no
entanto, mais importante ainda é que sejam cristãos sinceros, vivendo no espírito
da Tradição, preparando-se pela Confissão e a Santa Comunhão.
O Objetivo desta Arte
Sacra
"Assim, dizemos que
um navio, animal ou planta é boa, não por sua formação ou por sua cor, mas a
partir do serviço que presta" (São João Crisóstomo). O mesmo acontece com
esta arte sacra; sua natueza é boa, não por conta de ser a "arte da
Igreja", mas pelo serviço que presta à Igreja. Como tal, está entrelaçada
com a vida, a evolução e toda a Tradição da Igreja.
Constantino Kalokyris, em
sua obra intitulada Iconografia Ortodoxa, sugere que o caráter e o significado
fundamental da Iconografia Ortodoxa é:
1-A Arte de Serviço
Espiritual - O conteúdo da Iconografia Ortodoxa foi diretamente determinado
pelas necessidades e o profundo propósito espiritual da Igreja. Ela serve para
inspirar, ensinar, guiar e encorajar os fiéis em sua busca de perfeição
espiritual. Iconografia expressa santidade e os significados mais sublimes da
Ortodoxia em seu conteúdo sagrado: o Salvador, a Mãe de Deus, os Apóstolos, os
Poderes Angélicos, e os Mártires da fé.
2-A Arte Litúrgica - O
Mistério da Sagrada Eucaristia é o centro e a essência da Liturgia (obra do
povo). Desde sua criação, a Iconografia estava preocupada principalmente com
este propósito essencial da Igreja. Como tal, tem tentado contribuir com seus
próprios meios para a compreensão pela
parte dos fiéis do grande Mistério da Sagrada Eucaristia e de todo o drama
litúrgico. Ilustrado nos mais antigos símbolos sagrados: o peixe, o pão, o cordeiro
sacrificial, o sacrifício de Abraão, etc. A Iconografia envolve os temas
litúrgicos da Comunhão dos Apóstolos, a liturgia dos Anjos, o auto-sacrifício,
os hierarcas co-celebrante... Ela simplesmente tenta tornar o conteúdo
compreensível sublime da Divina Liturgia e em especial o ato litúrgico da
Sagrada Eucaristia.
3-Arte de Teologia elevada
- Esta arte não é apenas religiosa, como no Ocidente, mas também teológica.
Seus temas não estão apenas relacionados com a história religiosa, mas são
organizados de acordo com a elevada teologia da Igreja Ortodoxa. Como tal, as
Igrejas Ortodoxas são repletas de imagens não apenas da paixão, mas com a arte
que retrata a vida de nosso Senhor (as Doze Grandes Festas da Igreja), a Mãe de
Deus, os Santos, os Evangelistas e os Poderes Angélicos, sob as bênçãos do
Senhor. Além de estarem "representados" de maneira a sugerir sua
verdadeira natureza: em comunhão com os Santos, terrenos, ou privados do
Espírito da Graça.
4-Uma Arte de profundidade
- Iconografia Ortodoxa é uma forma de arte expressionista que procura
transmitir a mais profunda experiência de vida que a alma possui. Arte
bizantina, portanto, usa recursos de animação intensa (isto é, olhos grandes,
boca pequena, orelhas grandes), cores brilhantes, e as posturas (postura
frontal ou seja, dos Santos que estão em comunhão direta com Deus) para sugerir
o verdadeiro "espírito” do Santo retratado. Diferenças entre a arte sacra
do Ocidente e do Oriente são ilustrados em ambos os ícones da Crucificação e
Ressurreição.
5-Relação com modelos
Ideais e Naturais - Tudo na Igreja deve aludir ao mundo celeste, espiritual e
transcendental. Portanto, a Iconografia Ortodoxa evita a representação das
formas sagradas de acordo com a realidade natural e procura, através de uma
abstração verdadeiramente maravilhosa, para expressar a realidade espiritual
que constitui a verdade maior.
Questão e Forma (Conteúdo
e Estilo ) da Iconografia Ortodoxa
O pressuposto básico da
Iconografia Ortodoxa desenvolvido pela Sagrada Escritura, pelos Concílios
Ecumênicos, e pelos Padres da Igreja é a de um "novo" homem e de um
"novo" mundo, em Cristo. Esta arte subordinada à Igreja foi obrigada
a formular tal idéia em sua expressão.
Os Fundamentos da
Iconografia:
• A pessoa de Cristo não é
retratada exclusivamente com características humanas tal como no Ocidente. Ele
não é apenas humano, mas ao mesmo tempo Deus e homem.
• Deus-Pai não pode ser
retratado.
• A Mãe de Deus não é
representada simplesmente como uma virgem antes do Espírito do Senhor vir
pairar sobre Ela. Antes indica o dogma da Encarnação, trazendo em Si Aquele Que
não pode ser contido.
• Os Santos são
"representados" como cidadãos dos Céus sugerindo a realidade
abençoada para além deste mundo.
As particularidades da
Iconografia:
• A coloração no rosto e
os detalhes do corpo nu, a transição entre a pessoa das trevas à luz de Cristo.
• Os órgãos sensoriais não
são apresentados de acordo com a natureza, com a realidade anatômica que
conhecemos pois que cada um deles tendo percebido e recebido a revelação
divina, torna-se, desde então, um instrumento do Espírito.
• A boca é de forma
pequena. Ela indicar que a pessoa sagrada obedece ao Mandamento sagrado de Deus
(não andeis ansiosos pela vida preocupados com o que comereis), buscando
primeiro o alimento da vida, (o Reino dos Céus e Sua justiça).
• A coroa de luz na
Iconografia Ortodoxa – auréola – significa a glória que irradia da pessoa
representada. Ela envolve a cabeça por ser ela é o centro do espírito,
pensamento e compreensão.
• Os pés e as mãos são
igualmente "distorcidos". As mãos são geralmente proporcionais à
cabeça (pelo menos a mão da benção) com dedos longos, significando uma
intensidade espiritual, enquanto os pés são grandes e pouco fundamentados.
• O corpo nu é subjugado e
neutralizado pelo espírito.
• O projeto de vestuário ou
a expressão do corpo espiritual dos Santos cobertos por eles. Em virtude de
suas dobras simples e suas sobreposições mais amplas, eles não parecem
naturais, cobrindo simplesmente o corpo humano.
• O principal interesse na
Iconografia é limitado às pessoas sagradas, enquanto o segundo plano é
subordinado a eles. Portanto, o segundo plano não aparece independente das
pessoas, mas dependente delas.
O Ícone mais perfeito: A
pessoa de Cristo
O Ícone Verbal de Cristo:
O livro das Sagradas Escrituras
Um Ícone de Deus na
Criação: Criados à Sua semelhança, os seres humanos são ícones de Deus através
da virtude, ou seja, não fisicamente, mas através de nossa liberdade, nossa
razão, nosso senso de responsabilidade moral, enfim, tudo que nos distingue da
criação animal.
A Controvérsia iconoclasta:
Iconoclastas – quebradores de Ícones, duvidosos de que qualquer arte religiosa
pudesse representar seres humanos ou Deus.
Iconódulos – veneradores
de ícones e defensores vigorosos do uso de ícones na Igreja.
A controvérsia Iconoclasta
que durou cerca de 120 anos, se divide em duas fases. Primeiramete, em 726,
quando Leão III inicia seu ataque aos ícones, concluíndo-se em 780 com a
suspensão das perseguições por parte da Imperatriz Irene. A posição dos iconódulos
foi confirmada pelo Sétimo e último Concílio Ecumênico (787), que se reuniu,
tal como o Primeiro, em Nicéia. Este Concílio proclama que os ícones devem ser
mantidos nas igrejas e honrados com a uma veneração correspondente à
"preciosa e vivificante Cruz" e o Evangeliário. Um novo ataque aos
ícones, iniciada por Leão V, o Armênio, em 815 continua até 843, altura em que
os ícones são novamente reintegrados, por outra Imperatriz, Teodora. A vitória
final das Imagens Sagradas em 843 é conhecido como o "Triunfo da
Ortodoxia", comemorado num ofício especial no "Domingo da
Ortodoxia" – Primeiro Domingo da
Grande Quaresma.
Papa Leão V |
A Veneração dos Ícones
Os ícones são símbolos. A
reverência e veneração dirigida aos ícones não é direcionada à madeira, à
pedra, ou à pintura, mas antes às pessoas ai representadas.
Fonte: http://auroraortodoxia.blogspot.com.br/
pelo Metropolita Kallistos
Ware
Extraído do livro The
Orthodox ChurchFiquemos na paz de Deus Pai, Filho e Espírito Santo + , grato pela iniciativa da Eparquia Ortodoxa do Brasil, da Igreja Autocéfala da Polônia, em compartilhar este texto conosco.
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