Ícone de Pentecostes |
Recentemente
tenho observado alguns eventos entre grupos religiosos que se afirmam cristãos
que vem me preocupando... os sentimentos de segregação, apartação e repulsa vêm
se traduzindo em uma tendência gigantesca e grotesca de intolerância.
Uma
coisa deve ser historicamente entendida: antes de Constantino os cristãos eram
perseguidos pelas religiões tradicionais que existiam em Roma, notadamente a fé
pagã estatal; com Constantino o cristianismo foi declarado legítimo e as
perseguições sessaram. As igrejas prosperaram em todo o império, no oriente e
ocidente.
Com
Teodósio I, o Espanhol, o cristianismo
passou de intolerado a intolerante, perseguindo todas as demais religiões
pagãs, declarando-as ilegais e perseguindo seus sacerdotes e fechando seus
templos. Sua política de implantação do cristianismo como fé única do império
criou a primeira onda de intolerância religiosa promovida a partir do
cristianismo institucionalizado da História.
Imperador Teodósio I, o Espanhol |
Com
o passar do tempo, este sentimento apenas aprofundou em alguns setores da
Igreja. As investidas "puritanistas" passaram a criar e interpretar
muitos dogmas que afastaram aos poucos estes setores da própria Luz do
Evangelho, desvinculando estes segmentos dos ensinamentos de tolerância e amor
ao próximo tão enfatizados pelo próprio Cristo em suas parábolas e seus
sermões.
Tal
medida criou sérios problemas ao longo dos séculos para a unidade do
cristianismo proclamado no primeiro Consílio de Nicéia e confirmado no Consílio
de Constantinopla. Nele, todos os cristãos declaram crer em uma Igreja Una,
Santa, Católica e Apostólica de Jesus Cristo.
O
primeiro problema institucional foi criado já no Consílio da Calcedônia, onde a
Igreja de Alexandria se separou da Pentarquia original da Igreja, iniciando
assim o processo que culminaria no grande sisma de 1054, quando a Igreja de
Roma abandonou o Consílio Ecumênico e formou assim uma fenda dentro da Igreja
que já dura quase um milênio.
A
luta do purismo fideísta contra qualquer opinião ou prática que se afastasse de
seus ditames e seus dogmas talvez tenha conseguido seu capítulo mais vergonhoso
durante os anos da Inquisição, onde "hereges" foram denunciados aos
milhares e membros de outros credos foram obrigados a se confessarem cristãos
para, em seguida, serem julgados como "cristãos hereges". Foi a
institucionalização e a canonização da intolerância.
Bandeira institucional do Tribunal do Santo Ofício, conhecido como a Santa Inqusição |
Alguns
séculos depois foi o movimento protestante que criou, no ocidente, mais um
sisma dentro da fé cristã. Mais uma vez foram os dogmas e os interesses
institucionais que se sobrepujaram ao Evangelho... uma vez mais interesses
mundanos demoliram a unidade; uma vez mais a intolerância voltou a figurar nos
discursos, nos sermões e nas homilias dentro dos templos... homens que
afirmavam espalhar o amor de Cristo pela Terra gritavam o ódio contra outras
pessoas que liam a mesma mensagem de tolerância, sem ser no entanto entendida,
muito menos praticada.
A
partir de então cada segmento desta Igreja que deveria ser Una se afirma o
segmento mais puro e condena os demais segmentos; a partir de então o estudo da
Bíblia se tornou cada vez mais superficial e o valor dado aos ensinamentos do
Cristo cada vez menor; substituíram o entendimento pela soberba e o amor ao
próximo pelo orgulho... a simplicidade foi substituída pelo brilho do ouro, dos
carros importados e pelo brocado luxuoso; as obras caritativas foram
suplantadas por uma prática de fé cega, surda e barulhenta e o olhar para o
outro ganhou tons mais de julgamento, de "caça às bruxas" do que um
ato de reconhecimento a outra criatura de Deus.
O
ecumenismo por tantos desejado, assim, é mais um discurso de polidez mundana
pouco comprometido com atitudes reais e sólidas em favor da reunião, da
religação, da religião cristão universal... da religião realmente católica
conforme sua gênese. O ecumenismo, assim, somente será possível quando calarem
a soberba, o nobiliarquismo, o orgulho, a ignorância, o discurso vazio, a falsa
modéstia, a pseudo-humildade... e o puritanismo intolerante que cria grupos,
tribos, clãs, fronteiras, barreiras, muros e encastelamentos entre pessoas que
afirmam seguir para o mesmo destino segundo as mesmas leis que, infelizmente -
por muitos - já foram esquecidas há um longo tempo.
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